O ministro moçambicano dos transportes e comunicações, Paulo Zucula, disse sexta-feira, na cidade de Nacala- Porto, que o governo vai construir um ramal ligando a linha férrea de Sena ao Porto de Nacala, localizado na província de Nampula, norte do país.
Zucula respondia a uma questão colocada pela AIM, sobre o traçado da linha férrea que vai ligar a região carbonífera no distrito de Moatize, província central de Tete, ao porto de Nacala, parte integrante do Projecto Nacala XXI, avaliado em cerca de 1,6 biliões de dólares entre o Governo, a companhia moçambicana Insitec Investimentos e a multinacional brasileira Vale, cujo protocolo de intenções foi assinado na Sextafeira.
“A nossa resposta é … vamos ter uma linha dedicada ao carvão e a Vale, por motivos de viabilidade económica e financeira, vai escolher claramente a rota mais barata. Depois vamos ter uma outra linha dedicada ao desenvolvimento que existiria com ou sem o carvão, que já está projectada pelo governo para atravessar a província da Zambézia, a partir do norte da província de Sofala, na zona de Mutarara, atravessando a província da Zambézia na zona de Morumbala, Gurué, até tocar a linha de Nacala mais ou menos na zona de Malema, Mutuali e Ribaué”, explicou o ministro.
“Portanto, teremos as duas linhas, pois não têm a mesma função, não custam a mesma coisa, não têm a mesma estrutura, isto é, são linhas diferentes”, acrescentou. Segundo o ministro, o Malawi nunca foi um espectador com relação a linha de Nacala. Aliás, para Zucula, em alguns momentos, o Malawi chega a ser muito mais pró-activo que Moçambique.
“Neste momento, o cliente que faz mais funcionar a linha de Nacala é o Malawi. O ministro malawiano foi convidado por mim, como hóspede para testemunhar esta cerimónia”, disse Zucula, justificando a presença do ministro malawiano dos transportes, Khumbo Kachali, no evento que também contou com a participação do governador da província de Nampula, Felismino Tocoli, os embaixadores do Brasil e do Malawi, os administradores dos distritos de Nacala Porto e Nacala-a-Velha, entre outros convidados.
Não ocasião, o ministro não avançou mais pormenores, sobre o volume de investimentos no ramal da linha de Sena. Falando a margem da cerimónia, o administrador-delegado do Corredor de Desenvolvimento de Norte, Fernando Couto, confirmou a AIM que a linha terá um comprimento de cerca de 900 quilómetros entre Moatize e Nacala. “Se for usada a linha actual serão necessários apenas a construção de cerca de 100 quilómetros”, disse Couto, afirmando que parte da linha já existe.
Questionado sobre a razão do valor deste investimento, cerca de 1,6 biliões de dólares, Couto explicou que isso se deve a degradação da linha-férrea no Malawi. “Praticamente, eu diria que é preciso a construção de uma linha nova ou reabilitação de fundo da linha existente. Portanto, o melhor que se pode fazer é aproveitar o traçado que existe, que é muito importante, pois não há as implicações de desalojar pessoas, porque a linha já está lá. O local por onde passa a linha já esta lá, só que tem que ser tudo levantado, e tudo refeito da parte de lá (Malawi)”, disse Couto.
Segundo o administrador delegado, também existe a necessidade de se reabilitar um troço de 77 quilómetros, que liga a região de Entre-Lagos a Cuamba, pelo facto de não possuir o mesmo padrão de qualidade como a linha entre Cuamba e Nacala. Prevê-se ainda outros investimentos no troço entre Cuamba a Nacala, tais como reforçar as pontes, eliminar determinados traçados com curvas apertadas que, actualmente limitam o número de vagões para um máximo de 25 em cada composição ferroviária.
“Com o carvão, vamos ter que fazer composições no máximo com 100 vagões. Actualmente, mesmo com 25 vagões o comboio já parece ser muito longo, e precisa de duas locomotivas para puxá-lo”. Outro problema esta relacionado com a necessidade de reassentar determinadas famílias, que construíram as suas casas junto a linha-férrea. “De forma alguma um comboio pode passar junto as casas das pessoas, não só por comodidade das pessoas mas também por questões de segurança destas próprias pessoas.
Portanto, existe a necessidade de se fazer os reajustamentos necessários. É necessário afastar as pessoas e proteger a servidão ferroviária, caso contrário, no futuro pode haver um acidente com o risco de o comboio entrar nas casas das pessoas”, disse Couto. Sobre o número de famílias que poderão ser afectadas, Couto disse não ter uma estimativa, mas que, felizmente, essa situação está confinada apenas a cidade de Nacala-Porto.
Na ocasião, a AIM questionou se não haveria dificuldades no território malawiano, pelo facto de a linha vir a atravessar uma região montanhosa, tendo Couto explicado que o traçado já existe desde o ano de 1964. “Na altura, o presidente Kamuzu Banda chegou a sugerir aos portugueses que a linha deveria ser feita com um ramal para Moatize.
Só que o governo colonial entendeu que estava a dar demasiado ao Dr. Banda e recusou-se a fazer todas as suas vontades”, explicou Couto, acrescentando que em 1964, Banda viu o potencial do ramal de Moatize, razão pela qual sugeriu aos portugueses a necessidade de ligar este corredor ao Copperbelt, ou seja a linha de produção de cobre na Zâmbia.