A chanceler Angela Merkel é a favorita para a eleição legislativa de 27 de setembro na Alemanha, mas dois candidatos mantêm as esperanças de surpreender, favorecidos pela atual crise econômica e por sua experiência política.
Frank-Walter Steinmeier é um social-democrata, considerado um gestor respeitado e um ministro das Relações Exteriores competente, mas é prejudicado por sua reputação de tecnocrata sem carisma. Aos 53 anos, o vice-chanceler do atual governo de “grande coalizão” entrou na disputa pelo poder supremo, mesmo que não tenha cumprido qualquer mandato até hoje.
Steinmeier cultiva os paradoxos: se as pesquisas indicam que não tem chance de chegar à Chancelaria, ele é beneficiado por uma excelente cota de popularidade pessoal. E esta veio rapidamente, já que era quase desconhecido do grande público há quatro anos. Este reformista pragmático não é, entretanto, uma jovem promessa da política: após ter ingressado no partido aos 19 anos, ele fez carreira seguindo Gerhard Schröder (chanceler de 1998 a 2005), de quem foi o chefe de gabinete da chancelaria durante seis anos.
Nesse posto, acompanhou de perto a elaboração das reformas econômicas da era Schröder, dentre elas a impopular reforma do seguro desemprego. Esta levou a uma melhoria espetacular do mercado de trabalho na Alemanha até a crise atual, mas também contribuiu muito para a derrota da coalizão SPD/Verdes nas eleições de 2005 e para a persistente queda de seu partido de eleição em eleição.
Apesar de ser onipresente na política alemã, Frank-Walter Steinnmeier não tem as qualidade de “animal político” de seu mentor. Como gostam de ressaltar seus adversários, este doutor em Direito nunca teve que disputar nada para chegar ao poder. O outro candidato de destaque é o liberal Guido Westerwelle, do FDP. Ele espera dar aos liberais o papel de “fabricantes de rei” que desempenharam durante 50 anos, antes de onze anos na oposição.
Após dois fracassos em 2002 e 2005, este advogado de 47 anos aposta em uma aliança com os conservadores do CDU de Angela Merkel após a eleição, uma configuração possível. O posto de ministro das Relações Exteriores, que normalmente fica com os liberais nesse tipo de coalizão, poderá então ir para Westerwelle. Ele seguiria então os passos do mais ilustre deles, Hans-Dietrich Genscher, que ocupou o posto durante 18 anos e foi um dos pais da reunificação alemã.
Westerwelle foi incentivado por Genscher durante um encontro no início de setembro. “Guido Westerwelle saberá (…) seguir seu caminho até as mais altas responsabilidade diplomáticas, como manda a tradição”, disse a principal figura dos liberais alemães. Ele chegou em 2001 à frente de um partido que havia caído em um abismo eleitoral (6,2% dos votos nas legislativas de 1998). Modernizou as posições de seu partido sobre as questões sociais.
A sua homossexualidade é sabida por todos, sem ser particularmente exposta. “Nunca passei a minha vida em um armário, mas também não a expus em uma vitrine”, disse recentemente para uma revista gay. Sua primeira campanha eleitoral, em 2002, tinha como mantra 18%, seu objetivo em matéria de votos: ele repetia o índice desejado em programas de auditório, no site do partido, exibindo uma nota de 18 euros com a sua imagem.
O resultado final ficou aquém das espectativas: 7,4% e o retorno à oposição. Em 2005, mais sóbrio, ele apresentou um programa sob medida para a sua base eleitoral — executivos e profissionais liberais–, e chegou a quase 10%, mas não conseguiu impedir a formação de uma grande coalizão, e teve que se resignar com mais quatro anos de oposição. Atualmente, as pesquisas colocam seu partido com de 13 a 14% das intenções de voto. Guido Westerwelle nunca esteve tão próximo de seu objetivo inicial.