O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, foi reeleito esta quarta-feira para um segundo mandato de cinco anos pelo Parlamento Europeu, com uma confortável maioria absoluta, apesar de uma certa polêmica. O ex-primeiro-ministro português recebeu 382 votos, enquanto 217 eurodeputados foram contrários a seu nome e foram registradas 117 abstenções.
Dos 736 eurodeputados, 718 participaram na votação. Barroso obteve o apoio de mais de 50% do Europarlamento, mas a maioria relativa já teria sido suficiente. Se o Tratado de Lisboa já estivesse em vigor, a simples maioria relativa seria insuficiente, já que o texto exige a maioria absoluta. O Tratado de Lisboa – que pretende melhorar o funcionamento das instituições de uma União Europeia ampliada a 27 membros -, ainda precisa ser confirmado pela Irlanda, por referendo no dia 2 de outubro, e ratificado pelos Parlamentos de Polônia, República Tcheca e Alemanha.
A votação do primeiro mandato de Barroso, em julho de 2004, registrou 413 votos a favor, 251 contra e 44 abstenções. Aos 53 anos, este português poliglota, tão à vontade para falar francês e inglês quanto sua língua materna, mudou diversas vezes de rumo ao longo de sua carreira política. Por isso é considerado um “camaleão” político.
Membro nos anos 1970 de um movimento maoísta durante a época da Revolução dos Cravos em Portugal, mudou de direção a partir de 1980 ao entrar para o Partido Social Democrata português, de centro direita, antes de defender uma política liberal como presidente da Comissão Europeia. “Quando fala aos socialistas, é socialista. Quando fala aos liberais, é liberal e, quando fala aos verdes, se faz passar por ecologista”, brincou o líder dos socialistas no Parlamento Europeu, o alemão Martin Schulz.
Primeiro-ministro português de 2002 a 2004, chegou, para surpresa geral, à frente da Comissão Europeia, impulsionado por Tony Blair. Barroso iniciou em Bruxelas um programa claramente liberal, defendeu a polêmica diretiva Bolkestein sobre a liberalização dos serviços, e se tornou defensor de uma comissão modesta: “legislar menos e melhor”. Mas a crise institucional provocada pela rejeição do projeto de Constituição Europeia o alterou e mudou seu discurso, adotando um tom mais social.
A crise financeira mundial acabou convencendo-o a mudar de lado. Pressionado por Paris e Berlim, que o consideram passivo demais, se tornou a regulação dos mercados. Não o suficiente para seus críticos, que o acusam de querer agradar a todos para ser reeleito.
Diante das críticas, Barroso assume um bom balanço sobre o clima, com a adoção de ambiciosos objetivos europeus de redução de emissões de CO2 apesar da crise econômica. A falta de força do executivo europeu, frente a Estados que privilegiam a volta à gestão intergovernamental da UE, também explica a ausência de um rival que se apresentou para o cargo, dizem também seus críticos.