O diretor israelense Samuel Maoz conquistou neste sábado o Leão de Ouro de melhor filme da 66a. edição do Festival de Vezena com “Lebanon”, um filme autobiográfico “escrito com a próprias entranhas”, segundo o cineasta.
“Obrigado por esta felicidade”, declarou, ao receber o prêmio das mãos do presidente do júri, o diretor americano-taiuanês Ang Lee. “Dedico este prêmio a milhares de pessoas através do mundo que, como eu, saíram da guerra sãos e salvas, mas, no fundo, tiveram que aprender a viver com essa dor”, afirmou ainda.
Baseado nas dolorosas lembranças de seu diretor, nascido em Tel Aviv, o filme revive intensamente o início da primeira guerra do Líbano, em 1982, através do mortal avanço de um tanque israelense. A exemplo de “Valsa com Bashir”, o superbo filme de animação apresentado no Festival de Cannes 2008 por Ari Folman, muitos críticos consideraram “Lebanon” uma abordagem radicalmente inovadora da guerra. Enfurnados num tanque, quatro jovens soldados israelenses observam um Líbano tomado pelos massacres que eles mesmos cometem: pessoas aterrorizadas e tomadas pelo ódio, corpos carbonizados…
O horror dessas cenas, somado ao confinamento e à crueldade das ordens absurdas que recebem, aumentam a tensão entre os homens. As imagens, que simulam as do visor do tanque, enchem o filme de tensão, assim como a trilha sonora, muito bem feita. “Sem qualquer heroísmo, a vida em combate é mostrada como nunca antes”, comentou o jornal italiano La Repubblica.
O grito de batalha feminista da diretora estreante do cinema iraniano, Shirin Neshat, “Mulheres sem homens”, também o primeiro filme realizado pela renomada fotógrafa e videomaker, levou o Leão de Prata de melhor direção.
Através de imagens imponentes e perfeitas, a filme leva o público ao verão de 1953, quando um golpe de Estado liderado pelos americanos e apoiado pelos britânicos derrubou o primeiro-ministro democraticamente eleito e instaurou no poder o Xá da Pérsia.
Quatro mulheres, uma jovem estuprada, a prostituta que despreza seu corpo, a senhora elegante que abandona o marido rico e a mulher suicida escravizada pelo irmão fogem de sua condição, da opressão religiosa e social, tal como acontece no Irã do século XXI. “Peço ao governo do Irã que dê ao povo o que necessita: direitos humanos, liberdade e democracia”, declarou a artista ao receber o prêmio.
Na categoria interpretação, o britânico Colin Firth levou o prêmio de melhor ator do Festival de Veneza por seu papel em “A single man”, o primeiro filme do estilista americano Tom Ford. “É a maior honra da minha vida”, declarou o ator, falando em italiano, ao receber o prêmio das mãos da francesa Sandrine Bonnaire. Firth prestou sua homenagem a Ford: “Você é um dos melhores cineastas com quem já trabalhei. Um verdadeiro artista de visão”. Colin Firth é conhecido por papéis de sucesso como o do sr. Darcy, na adaptação da BBC do romance “Orgulho e preconceito”, e êxitos comerciais como “O diário de Bridget Jones”. Estilista influente e empresário de sucesso, o americano Tom Ford, ex-diretor artístico das marcas Gucci e Yves Saint Laurent, apostou numa adaptação de um romance do britânico Christopher Isherwood para se lançar na sétima arte.
“A single man” traça o perfil de George Falconer, um professor de universidade de idade avançada (Colin Firth) cujo companheiro morre em um acidente de carro. Oito meses mais tarde, George ainda sofre e perdeu o gosto de viver, apesar do reconforto de sua velha amiga Charley (Julianne Moore), ela também uma solitária. É quando, testemunha desta tragédia, um belo aluno resolve se aproximar do professor. O filme passa em 1962 durante a crise dos mísseis em Cuba e evoca também a reprovação social ligada à homossexualidade invisível da época.
Já a russa Kseniya Rappoport, 35 anos, levou a Copa s Volpi de melhor atriz do Festival de Veneza por sua atuação em “La doppia ora”, de Giuseppe Capotondi, onde interpreta uma jovem imigrante. “É como se eu fosse um pára-raios que recebeu um relâmpago”, declarou a atriz, muito nervosa e falando em italiano. Depois agradeceu a Giuseppe Capotondi: “Espero que você leve o Leão de Prata pela direção de um de seus filmes em que você me reservará um pequeno papel”.
A divertida comédia do alemão de pais turcos Fatih Akin, “Soul kitchen”, levou o Prêmio Especial do Júri e a sátira sobre a classe média dos Estados Unidos no filme “Love during wartime” recebeu o prêmio de melhor roeiro. O filipino Pepe Diokno, com apenas 22 anos, ganhou como melhor primeira obra da Seção Horizontes com seu “Engkwentro”, um drama sobre as gangues de Manila.