O senador Ted Kennedy, falecido no último dia 25 aos 77 anos, sempre se torturou pelo comportamento imperdoável que teve durante um acidente de carro que, em 1969, custou a vida de sua secretária, segundo suas memórias póstumas que serão lançadas no próximo dia 14.
“A noite de de Chappaquiddick Island terminou numa horrível tragédia, que me persegue todos os dias de minha vida”, escreveu Kennedy no livro “True Compass”, que teve trechos divulgados nesta quinta-feira por vários jornais americanos.
No livro de 532 páginas, Kennedy admite ter tomado decisões muito ruins durante o acidente em que seu carro caiu num rio da pequena ilha de Chappaquiddick (Massachusetts). Kennedy classifica de “imperdoável” seu comportamento e as 10 horas que transcorreram antes de informar a polícia sobre os fatos. Pouco antes da meia-noite, segundo seu próprio testemunho, ele pegou seu carro e deu carona para Mary Jo Kopechne, sua secretária de 29 anos.
Segundo Kennedy, ele não mantinha qualquer relação amorosa com Kopechne e não estava bêbado, pois só havia tomado alguns drinques antes de jantar. Ao passar por uma ponte, o carro caiu e mergulhou na água. Kennedy, que tinha 37 anos na ocasião, conseguiu escapar ileso, mas a jovem morreu afogada. Ted Kennedy afirma ter tentado salvar sua acompanhante, mas que esperou dez horas, até a manhã seguinte, para informar à polícia sobre a tragédia.
O escândalo, cercado de dúvidas sobre seu papel e o consumo de drogas na tragédia, provavelmente influenciou nas ambições políticas do irmão do presidente John F. Kennedy. Aspirante à indicação democrata à presidência, ele perdeu a vaga para Jimmy Carter. Kennedy foi condenado a dois anos de prisão com direito a sursis por ter fugido da cena do acidente e não ter prestado socorro.
Ao falar do assassinato de seu irmão Robert, Ted Kennedy afirma que a morte piorou seu “alcoolismo autodestrutivo” e, sobre John F. Kennedy, apoia a tese de que o presidente foi morto por Lee Harvey Oswald. Segundo Kennedy, os resultados da investigação da Comissão Warren sobre o assassinato em Dallas, em 1963, concluindo que Oswald agiu sozinho são convincentes.
Ele conta que os assassinatos de seus irmãos o deixaram traumatizado durante anos e que não podia ouvir ruídos de explosão, como fogos de artíficio ou escapamento de carro, sem sentir-se em perigo. Em outra parte do livro, Ted Kennedy relata como, quando estudava em Harvard, colou numa prova de espanhol de um colega que conhecia melhor o idioma, o que lhe valeu uma expulsão por dois anos.
Sobre sua propensão por álcool e por mulheres, é discreto: “Desfrutei da companhia de mulheres. Desfrutei de um drinque, ou dois ou três, e saboreei o suave gosto de um bom vinho. Em alguns momentos, desfrutei demais desses prazeres.
Ouvi histórias sobre minhas façanhas de farrista, algumas verdadeiras, outras com um pouco de verdade e outras tão afastadas da realidade que não imagino como alguém possa tê-las criado”. Por fim, descreve sua batalha contr ao câncer de cérebro. “Enfrentar isso com uma atitude positiva pelo menos dá uma possibilidade de se ter êxito. Fazê-lo com uma atitude derrotista predestina à derrota. E o derrotismo não está em meu DNA”.