Espero que estejam bem de saúde, a degustar uma boa matapa ou nhangana, mucapata, a sorrir com os encantos da natureza ou a acompanhar o balancear poético da (nossa) Bandeira, já que são as únicas riquezas que nos sobram como Nação.
Excelências, advirto antes de qualquer pronunciamento, que não tenho a pretensão de causar nenhum dano ou más interpretações. Nós, os fazedores das artes, não queremos o ouro, nem a prata, e tão-pouco os supostos diamantes de Gaza, mas, sim, apenas a liberdade de sobreviver com a nossa miséria e dentro das condições a que nos são impostas. Só queremos ser livres, com fome, mas livres!
Não interessa, senhores Presidentes, se teremos bebida ou comida, apenas queremos dançar, celebrar a vida e num ambiente calmo, como amiúde faziam os nossos antepassados. Excelências, o povo já está cansado! A crise, finalmente, já começou a nos cortar os Jugulares. Mas a culpa não é vossa. Não, vocês também são vítimas dessa crise, mas não tanto quanto o povo que mingua dia e noite a procura de esquinas melhores para comprar o arroz e o óleo da cozinha que estão cada vez mais distantes da mesa.
Senhores Presidentes, as razões pela qual escrevo esta carta aberta, reside na falta de vontade política, decisão concreta, sensibilidade e solidariedade social e nem cultural como símbolo do fortalecimento da coesão nacional. Pois, sinto que parte do executivo pouco ou nada tem feito perante a difícil situação do país.
Assim, como vários moçambicanos, eu escrevo esta nota pela primeira em nome dos fazedores das artes que se sentem ameaçados e muito longe de realizarem o IX Festival Nacional de Cultura, em Agosto próximo.
Estamos nas vésperas, Senhores Presidentes, do mais grande Festival realizado bienalmente no país, para unir os povos e quebrar as diferenças. Mas fazer como, Senhores, se nas bandas de lá, centro e norte de Moçambique, a Kalashinikov ainda rebenta sem parar? Como realizar este sonho se, a cada dia, alguém se alivia com o gatilho de uma arma? Como haverá união entre os povos se há quem quer o divisionismo? Eu sei, Senhores Presidentes, que o objectivo de cada força Política, é a luta política. Mas também sei que cada força deve entrar nesta luta com paz, fraternidade, tolerância e com respeito mútuo.
E é só isso que vos pedimos Senhores. Deixem-nos viver, dançar, curtir os nossos dias que estão cada vez mais próximos! Tudo está nas vossas mãos. Só os senhores têm o pão, o queijo e a faca. Não queremos incenso e nem mira, muito menos adorações.
Não queremos que nos tragam papel higiénico no banheiro. Não queremos nada que não mereçamos. Apenas a paz, a liberdade e a tranquilidade. Repito, a razão de continuar a viver – fazer o que gostamos e o que nos alegra a alma, mesmo com a subida do preço de narcóticos.
Por Reinaldo Luís