O preço do pão, que encareceu 30 por cento há nove meses, pode voltar a aumentar em Moçambique, “o pão padrão (de 200 gramas) que custava 6 meticais passa a custar 7 meticais a partir de 1 de Julho”, revelou o presidente da Associação Moçambicana dos Panificadores (AMOPÃO), Victor Miguel, que justificou a decisão com o aumento dos custos das matérias-primas. Este aumento ainda vai ser apreciado pelo Governo de Filipe Nyusi, que em finais do ano passado retirou o subsídio que concedia aos panificadores porque o preço do trigo baixou nos mercados internacionais, embora seja verdade é que a depreciação do metical em relação às principais dividas tem contribuído para o aumento dos custos de importação.
O presidente da AMOPÃO disse que este agravamento, de cerca de 16%, é o “possível e não o real porque se tivéssemos que aplicar o preço real seria extremamente difícil para a população adquirir o pão”.
“Estamos a tentar fazer simplesmente a reposição daquilo que foi corroído pelos custos da subida da matéria-prima básica, estamos a falar da farinha de trigo, do fermento, da vitamina e também dos salários que foram reajustados em Abril, tudo isso veio tornar os custos de produção mais elevados” declarou Victor Manuel, em conferência de imprensa após a reunião dos panificadores, explicando que os custos de produção subiram em cerca de 70 por cento “tornando a nossa actividade insustentável”.
Desde Abril que os panificadores têm alertado para o aumento dos custos de produção, com destaque para o custo da farinha de trigo porém o Executivo, que em finais do ano passado retirou o subsídio que concedia aos panificadores desde 2010 porque o preço do trigo baixou nos mercados internacionais, não atendeu aos pedidos para encontrar uma solução de amortecimento dos custos de produção.
“Isso não foi atendido porque primeiro não havia motivos que mostrassem à montante o preço da farinha tivesse sido alterado, eles diziam que era uma previsão da moageira (…) eu reuni com as moageiras e elas em uníssono disseram que esses preços que os panificadores disseram ter aumentado ninguém está a praticar. Eles que mostrem a factura da farinha que compram por esse preço”, afirmou em entrevista ao @Verdade, no início de Junho, o inspector-geral da Inspecção Nacional das Actividades Económicas (INAE), José Rodolfo.
Mas se é verdade que o preço da farinha de trigo nos mercados internacionais tem estado a reduzir, em cerca de um dígito percentual, também é verdade que o metical continua a depreciar-se em relação ao dólar norte-americano, até final de Maio a moeda nacional tinha acumulado uma desvalorização anual de 68,61 por cento, de acordo com o Banco de Moçambique. No mesmo período o metical desvalorizou-se 29,82 por cento em relação ao rand sul-africano.
José Rodolfo, quadro sénior do Ministério da Indústria e Comércio, tinha afirmado ao @Verdade que o subsídio aos panificadores estava fora de questão, “há outros mecanismos para contornar a questão do câmbio, que é a única coisa que está a atrapalhar o Governo, porque o preço internacional do cereal está a baixar”.
Padarias devem ter balança para os clientes conferirem o peso do pão
Mas a decisão tomada em reunião da agremiação, nesta quarta-feira(29), ainda vai ser comunicada ao Executivo de Filipe Nyusi. O presidente da AMOPÃO declarou que o Governo se entender que o preço do pão não deve aumentado “vai ter que apresentar alternativas, nós não temos condições de trabalhar sem reajustar o preço do pão”.
“As padarias ainda não têm motivos para mexerem no preço do pão, segundo estão a produzir o pão com peso muito abaixo daquilo que declaram, na verdade esse aumento que reclamaram já o fizeram, por via do peso”, declarou ao @Verdade o inspector-geral da INAE.
A Associação Moçambicana dos Panificadores ainda vai elaborar uma tabela com os aumentos para os diferentes tipos de pão, em função do seu peso.
Relativamente aos peso do pão onde os panificadores vêm roubando aos moçambicanos, pelo menos durante os últimos 3 anos (em que o @Verdade começou a verificar o peso em diferentes padarias), o Ministério da Indústria e Comércio alterou o Regulamento de Produtos Pré-medidos, que existe desde Setembro de 2013 e que determinava que o peso deste alimento básico deveria ser vendido ao público pesando “45g, 68g, 100g, 130g, 210g, 240g, 450g, 500g e 1000g”, determinando desde 6 de Junho de 2016 que “A fabricação e venda do pão por unidade deve ser feita nos seguinte valores para peso nominal: 40g, 80g, 100g, 120g, 145g, 160g, 170g, 200g, 240g, 320g, 350g, 400g, 700g e 800g”.
Os panificadores, segundo o presidente da AMOPÃO, prometem com este novo aumento do preço passar a cumprir os pesos nominais que o pão deve ter, cuja tolerância é de somente 6 por cento para menos, assim como disponibilizar nas padarias pelo menos uma balança para que o consumidor possa, caso assim o deseje, verificar o peso alimento que adquire.
A confirmar-se este aumento os moçambicanos que já não conseguem fazer três refeições diárias e encontram no pão o alimento que vai minimizando a fome terão de inventar outras alternativas para sobreviverem.
Os poucos moçambicanos que têm empregos dignos viram os seus salários aumentarem apenas entre 4 e 12 por cento em Abril enquanto o custo de vida não pára de aumentar, em Maio a inflação homóloga chegou aos 18,27 por cento com o preço da comida a registar o maior agravamento, 31,91 por cento.