O Prédio Moçambique foi herdado do colonialismo português em condições de habitabilidade razoáveis. Ocupamo-lo na clara legitimidade de pertença. Ávidos em experimentar as alturas e pregar aos quatro ventos a condição de morador predial.
Algumas famílias com postura citadina, justificada pelas andanças por alguns quadrantes de mundo, outras pela luta travada para ocupação do prédio, foram confiadas a gestão deste, dado o prestígio e admiração que granjeavam perante os galuchos da urbanização. Tais famílias, confiadas a gestão do prédio tiveram a escolha de ocupar o décimo e ultimo andar do prédio para melhor controlar os demais.
Gente sem escola, na nossa condição de suburbanos lançámos todos desperdícios domésticos (lixo) pelas janelas do primeiro, segundo, terceiro, quarto ate ao nono andar. Aquilo parecia lançamento de bombas em pleno dia D da segunda guerra mundial.
Criámos cachorros na varanda e pilamos milho, até pequenas hortas tiveram lugar neste edifício. As batucadas e danças eloquentes caracterizam as nossas festinhas de final de semana, afinal Moçambique é maning nice.
Nas segundas-feiras eram notórios o acumulo de garrafas, beatas de cigarros e latas atiradas dos diferentes andares do prédio para as varandas comuns.
Nas reuniões dos moradores foi nos apresentada a postura do morador predial, fomos sensibilizados e acatamos as mudanças impostas pelas famílias do décimo andar. Desfizemos nos das machambas e nossas criações de galinhas. Agradecemos os valiosos ensinamentos e vivemos no civismo que a condição de morador predial demandava.
O tempo passou e a gestão do prédio passou para o citadino assimilado do rés-do-chão, onde seguiu se a gestão da família do quinto andar.
Tomada a gestão, a família do quinto andar visitou a cave onde os armazéns de material de limpeza eram armazenados. Era assim que terminava a entrega de pastas por cada mandato de gestão.
Para o desespero da nova gestão, o local estava insalubre. O lixo ia desde preservativos usados, latas de bebida, baterias de carros ate material radioactivo e dejectos de porcos e patos.
Iniciou de imediato a limpeza da cave e aos poucos fomos confrontados com uma quantidade colossal de lixo que quase engoliu a estátua Samora Machel bem em frente do prédio Moçambique. Os moradores banharam se de lagrimas quando aperceberam se de que a estrutura do belíssimo prédio estava comprometida.
Segregamos o material em frente ao prédio Moçambique para que os serviços municipais fizessem a recolha:
O conselho municipal declinou se a recolher alegando que houve imprudência na gestão de resíduos sólidos.
A seguradora cancelou a apólice de seguros do Prédio Moçambique porque por negligência minou se a estrutura do prédio.
A electricidade cortou a luz.
O FIPAG cortou a água.
Hoje dormimos a luz de vela, a água vem aos copitos e baldes, substituímos nossos fogões a gás pela lenha porque com certeza o gás vai demorar sair do Rovuma, mas continuamos alegres porque Moçambique é maning nice.
Apesar do desagrado e raiva, toda indignação se cala para ver o gestor do rés-do-chão continuar morando no prédio, porque Moçambique é maning nice e qualquer condenação apressada seria muita santidade para o pobre diabo.
Por Cochiwan Tivane
Uma resposta
Muitos não entenderam a dimensão deste texto que através de metáforas trazia nos uma leitura muito realistica do havia se passado com dívidas ocultas já em julgamento pelo juiz efigeneo.
5 anos depois vale apenas rever este texto do Cochiwan