Não fosse a mórbidez que a situação em si representa, os comentários da Polícia da República de Moçambique relativamente aos assassinatos protagonizados por indivíduos até aqui desconhecidos seriam motivos mais do que suficientes para se soltar sonoras gargalhadas. Até porque é sempre a mesma história quando se sucedem casos do género. Com a cara mais deslavada do mundo, a Polícia tem o vezo de vir ao público afirmar que não tem pistas dos assassinos, não obstante as evidências serem claras.
Quase todos os dias, cidadãos moçambicanos são vítimas de crimes hediondos, equiparado às actividades violentas perpetradas pelas tenebrosas e sanguinárias sociedades secretas que abunda(ra)m em todas as épocas da história da humanidade, mas a nossa Polícia continua impávido e sereno, como se o assunto não lhe dissesse respeito.
A título de exemplo, em menos de duas semanas, dois cidadãos foram barbaramente assassinados. O primeiro caso, que tudo indica que tem um móbil político, sucedeu-se na cidade da Beira, onde o recém-empossado membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança do Estado, e membro sénior da Renamo, José Manuel, foi assassinado a queima-roupa. É evidente que o assassinato de José Manuel é obra de esquadrão da morte, criado pelo partido no poder, para causar terror e luto nas famílias moçambicanas que não compactuam com o regime da Frelimo.
O segundo caso foi o do cidadão identificado pelo nome de Marcelino Vilanculos, que também foi assassinado, com tiros à queima-roupa, no município da Matola. O malogrado, que em vida exercia o cargo de procurador em Maputo, representou o Ministério Público na acusação contra vários cidadãos que acabaram por ser condenados como culpados por alguns dos raptos ocorridos na capital moçambicana. No entanto, o seu assassinato não se trata de um caso isolado. Está claro que é obra dos mandantes dos sequestros, muitos deles ligados à Polícia da República de Moçambique.
A nossa Polícia, nos dois casos, não tem pistas e tudo indica que não vai mover uma palha sequer para esclarecer essas execuções. Aliás, é sempre a mesma coisa nesse tipo de crime. Que tipo de pista a Polícia pretende para pôr cobro a esse crime organizado que tem vindo a criar terror no seio da sociedade moçambicana? Diga-se, em abono da verdade, que a Polícia não age, em parte, por manifesta cumplicidade.