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Ao escolher Gana, Obama desperta ressentimentos entre países africanos

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Numa África onde se sucedem as crises políticas, a chegada de Barack Obama esta sexta-feira a Gana, pequeno país visto como modelo de democracia, desperta sentimentos de decepção e ciúme, em meio ao desencantamento de alguns cidadãos. Pátria do pai de Obama, o Quênia amarga a frustração de não acolher, por ocasião de sua primeira visita à África subsaariana, o primeiro negro eleito presidente dos Estados Unidos.

“Uma grosseria”, resume The Nation. No principal jornal do país, os comentaristas quenianos estimam que o sucessor de George W. Bush preferiu manter reservas ante um governo nascido da crise pós-eleitoral que ensanguentou o país no início de 2008, tendo sido criticado por sua ineficácia. Uma afronta a mais para Nairóbi: o presidente da Tanzânia vizinha, Jakaya Kikwete, foi o primeiro chefe de Estado africano recebido pelo novo número um da Casa Branca.

“Se ele quiser apresender alguma coisa sobre a África”, Barack Obama “deveria vir aqui”, lamenta Paul Maruma, em Johannesburgo, pelo que estou “decepcionado”, por ter sido ignorado o papel da África do Sul, peso pesado do continente, administrador de crises, e que tem entre seus líderes a figura legendária do primeiro presidente pós-apartheid, Nelson Mandela.

Os nigerianos não estão menos humilhados por Obama passar por cima de seu país, que é descrito por seus cidadãos como um “gigante da África” e a “maior nação negra do mundo” com 140 milhões de habitantes. Mas as eleições de abril de 2007, que despertaram muita violência e foram consideradas muito fraudulentas, também por Washington, são uma realidade que não se pode apagar.

Alguns reconhecem isto: apesar de sua potência econômica e sua contribuição às missões de paz no mundo, a Nigéria “está na lanterninha, em matéria de democracia”, admite o escritor e ativista Shehu Sani. O tom é próximo ao da República dos Camarões.

Na Libéria, o governo não admite nenhuma decepção com a não escolha por Obama desta nação em reconstrução, após anos de guerra civil, apesar das ligações que a unem aos Estados Unidos, de onde vêm os negros que fundaram o país no século XIX. “Sua visita a Gana é uma visita à região”, comenta o ministro da Informação Laurence Bropleh.

O presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, considerado um bom jogador, aproveitou recentemente a viagem anunciada pelo locatário da Casa Branca para homenagear a nação vizinha, Gana, muitas vezes considerada “irmã gêmea” de seu país devido à própria geografia, à sua economia e à sua população. “Não é por acaso” que Obama demonstra preferência por um país que se tornou “estável e democrático”, afirmou.

Mas o diplomata e historiador marfinense, Jean Vincent Zinsou, destaca a própria “instabilidade” de seu país, cortado em dois desde um golpe de Estado frustrado em 2002 e onde a eleição presidencial, esperada para o final de novembro, foi adiada várias vezes desde o fim do mandato de Gbagbo em 2005. Para ele, a escolha de Gana “não foi boa”.

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