Um consultor identificado pelo nome de João Lameiras, afecto a uma empresa contratada pela JICA para aferir o pensamento e comportamento das organizações da sociedade civil em relação ao polémico ProSavana, proferiu palavras ofensivas contra os activistas Jeremias Vunjanhe e Vicente Adriano, da União Nacional de Camponeses (UNAC), na terça-feira (12), após uma tentativa frustrada de agressão física contra os mesmos, em consequência de uma divergência de opiniões em torno deste projecto.
Impedido pelos colegas de espancar os dois activistas por conta de uma celeuma que se instalou no salão nobre do Conselho Municipal de Nampula, onde decorreu o debate do ambicioso programa promovido pelo Governo moçambicano e seus parceiros Brasil e Japão, João Lameiras “caçou” as suas vítimas no intervalo e proferiu ofensas verbais contra os mesmos.
O visado, é consultor da MAJOL Consultoria e Serviços, Lda, e participa no encontro como um dos facilitadores. Possuído pelos nervos, ele chegou a ser retirado da sala. “Marginais e anti-desenvolvimento” foram algumas palavras proferidas por Lameiras, segundo a UNAC em comunicado enviado @Verdade. As outras expressões, “fortemente insultuosas” foram “omitidas por uma questão de sensibilidade e respeito aos leitores”.
O episódio foi acompanhado por dezenas de camponeses da UNAC, os representantes da Justiça Ambiental (JA), da Acção Académica para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais (ADECRU), das Comissões de Justiça e Paz das dioceses de Nampula e Nacala, do Observatório do Meio Rural (OMR), do Fórum Terra, entre outras organizações que se posicionaram contra o ProSavana.
A UNAC disse que, “apesar de um pedido formal de desculpas, apresentado publicamente no encontro por um dos consultores da MAJOL e facilitador principal do encontro, Peter Bechtel, estes actos revelam um padrão normativo de actuação dos implementadores do ProSavana, quando são confrontados com opiniões diferentes, sobretudo que desconstroem as mentiras e as inverdades” propaladas em torno do mesmo projecto.
Os consultores do ProSavana afirmaram que o programa está prenhe de “graves erros de concepção”. Para Peter Bechtel, “o plano director não tem qualidades para ser considerado um documento estratégico ou projecto e apresenta generalizações sem questões concretas. Se a sociedade civil decidir parar com o Prosavana, o mesmo pode morrer em menos de um ano”.
“Estamos felizes com o consenso que alcançamos neste encontro sobre a necessidade de paralisação do ProSavana e de todas as suas actividades conforme a UNAC, e mais de 20 organizações e movimentos sociais tem vindo a exigir desde 2013 em Carta Aberta para Deter e Reflectir de Forma Urgente o Programa ProSavana”, disse Ana Paula Tauacale, presidente da UNAC.
A UNAC já havia denunciado e repudiado os actos de perseguições, intimidações, aliciamentos e manipulações dos seus activistas, camponeses e camponesas individuais, lideranças de camponeses, protagonizados por alguns dos membros da equipa de implementação do Prosavana. Em 2014, durante a sua Assembleia-Geral realizada em Nampula, a UNAC comunicou que não iria tolerar mais estes actos e prometeu processar judicialmente os promotores e protagonistas de tais acções, sejam cidadãos moçambicanos ao serviço do Governo ou cidadãos de nacionalidade estrangeira.