Com vídeos e imagens feitas com telefones celulares, jovens hondurenhos contrários ao golpe que derrubou o presidente Manuel Zelaya criaram na internet o’tele-golpe’, para divulgar as marchas e protestos que a televisão de seu país, submetida ao controle estatal, não pode transmitir.
“Nós os chamamos de ‘tele-golpe’, porque nos canais nacionais não é possível ver a realidade do que está acontecendo. Claro, se chegarem a cortar (o serviço) a banda larga na internet estamos mortos”, explicou César Silva, estudante de engenharia.
Segundo Silva, 26 vídeos já foram disponibilizados no YouTube até agora, mostrando as marchas e declarações dos dirigentes que se opõem à queda de Zelaya, expulso do país no dia 28 de junho pelos militares. “Sem dúvida, de todos os 26, o maior sucesso e o que mais procuram é o chamado ‘Não está acontecendo nada em Honduras'”, disse o estudante.
O vídeo está disponível no link http://www.youtube.com/watch?v=OCzkJf2vVnU, mas Silva diz que a filmagem também foi “colocada em servidores da internet para evitar que seja cortada”.
Nos primeiros dias depois do golpe, os militares cortaram várias rádios populares como a Rádio Progresso e a Rádio Globo, e os canais nacionais de TV precisam dar espaço várias vezes por dia a uma cadeia nacional, que transmite a informação oficial. Além disso, os serviços de TV a cabo não possuem o canal Telesur – que transmite da Venezuela -, e até a rede americana CNN foi cortada nas primeiras horas após o golpe.
No sábado, quando boa parte da população assistia à partida de futebol entre Honduras e Haiti pela Copa Ouro, nos Estados Unidos, os canais foram obrigados a interromper a transmissão para divulgar uma mensagem de sacerdotes da Igreja católica nacional afirmando que o que aconteceu no país não deve ser classificado como um golpe de Estado.
A iniciativa de divulgar as imagens na internet surgiu de um grupo de estudantes de diferentes cursos das universidades de Tegucigalpa. “Estávamos fartos de ver que pela televisão só trasmitem a voz daqueles que apóiam o golpe”, disse Adriana Alvarado, estudante de jornalismo. “Estamos a divulgar o endereço do site no boca-a-boca e com panfletos, que distribuímos nas manifestações, e ainda que em Honduras a maioria da população não tenha acesso à internet, estamos fazendo isso para que o mundo veja”, destacou.