O primeiro-ministro Carlos Agostinho do Rosário, intervindo em língua inglesa nesta segunda-feira(30) na 21ª Conferência das Partes (COP21) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que decorre na capital da França, pediu ajuda urgente para Moçambique enfrentar às alterações do clima. Em 2011, na Cimeira do Clima realizada em Durban, na África do Sul, o nosso país também pediu apoio financeiro e técnico para responder aos desafios de reduzir o risco dos efeitos das mudanças climáticas. Muito pouco tem sido feito localmente pelos Executivos moçambicanos para mitigar os impactos das secas e das cheias, que caso não haja um acordo em Paris para conter o aumento da temperatura, irão agravar-se e a eles se juntarão mais ciclones e áreas agrícolas poderão ficar alagadas com a subida do nível do mar.
“Comprometemo-nos a trabalhar colectivamente para conduzir acordos económicos ambiciosos e universais”, afirmou Carlos Agostinho do Rosário na plenária da Cimeira que decorre até ao próximo dia 11 de Dezembro, destacando a determinação de Moçambique “em proteger o planeta, através de um consumo, uma produção e uma gestão dos recursos naturais sustentáveis”, que permita “ir ao encontro das necessidades das gerações presentes e futuras”.
“Para lidar com os fenómenos das secas e das cheias, é de importância primordial a redução dos riscos para economias em adaptação e o apoio adequado para os meios de implementação”, disse do Rosário que sugeriu que “as medidas de adaptação” sejam “complementadas com iniciativas de mitigação robustas”, de forma a mobilizar o “muito necessário” apoio financeiro e técnico.
O primeiro-ministro participa da COP 21 em representação do Chefe de Estado, Filipe Nyusi, que não participa da Cimeira por razões desconhecidas. O Presidente de Moçambique esteve inclusive na Europa, em Malta, até domingo(29), mas desde aí não voltou a ter agenda pública.
Na sua intervenção Carlos Agostinho do Rosário afirmou que o nosso país defende “o princípio da responsabilidade comum diferenciada”e referiu algumas medidas que supostamente estão a ser implementadas em Moçambique pelo Governo, mas que requerem apoio financeiro e técnico: “energias renováveis, gestão do solo e dos resíduos, redução da desflorestação, agricultura amiga do ambiente, conservação da água”.
“Os países em desenvolvimento enfrentam desafios enormes devido às alterações do clima, com cheias e secas que aumentam de frequência e de intensidade. Há 175.000 moçambicanos afetados pela seca e que precisam de apoio urgente e, em 2016, esperam-se cheias que vão piorar ainda mais a situação”, disse o primeiro-ministro que acrescentou que “estes fenómenos climatéricos afectam os esforços do Governo para ir ao encontro das prioridades nacionais, especialmente a segurança alimentar, tão crítica para a redução da pobreza”.
O primeiro-ministro moçambicano concluiu a sua intervenção dizendo que, para Moçambique, a cimeira proporciona “a base para alcançar um acordo internacional sobre o clima, que seja benéfico para todos e para as gerações futuras e que promova a justiça entre os povos e entre as gerações”.
Sintonia entre a China e o Estados Unidos da América
Dentre os mais de 150 Chefes de Estado e de Governo que falaram na abertura desta Cimeira do Clima, que o Papa Francisco disse ser provavelmente a última oportunidade de a humanidade impedir um desastre ambiental global, foram promissoras as intervenções dos Presidentes dos dois países que mais emitem gases de efeito estufa no mundo.
“Lutar contra as mudanças climáticas é uma missão para todo o planeta”, começou por dizer o Presidente da China, Xi Jinping, o país mais poluidor do planeta que salientou que “é imperativo respeitar as diferenças entre países, especialmente nos países em desenvolvimento” e que o combate às alterações climáticas não deve ir “contra a necessidade dos países de combater a pobreza e melhorar o nível de vida das suas populações”.
Xi Jinping afirmou também que “os países desenvolvidos devem honrar o seu compromisso de mobilizar 100 mil milhões de dólares norte-americanos por ano antes de 2020 e mobilizar esforços financeiros para apoiar os países pobres depois dessa data”.
“Como o líder da maior economia do mundo e segundo maior emissor… os Estados Unidos da América não só reconhecem o seu papel na criação deste problema, mas compartilhamos nossa responsabilidade de fazer algo sobre isso”, disse Barack Obama.
Os Estados Unidos da América e a China resistiram no passado em participar de um acordo global sobre o clima. No momento, ambos concordaram em trabalhar juntos, embora ambas as nações tenham problemas com o processo da ONU e devem resistir a aceitar um pacto global juridicamente vinculativo.
França promete 2 bilhões de euros para energias renováveis em África
Entretanto o Presidente anfitrião, François Hollande, comprometeu-se nesta terça-feira(01) a desbloquear dois bilhões de euros até 2020 para fomentar a criação de energias renováveis em África, para que o continente também possa contribuir no combate ao aquecimento climático.
O dinheiro, disse Hollande, poderá ser canalizado através da “Iniciativa Africana sobre as Energias Renováveis”, dirigida pela União Africana (UA), presente também no encontro de Paris.
Os presidentes africanos mostraram-se dispostos a reduzir as suas emissões, mas ressaltaram que não poderão fazê-lo sem o apoio dos mais ricos.
“Nós não fomentamos o aquecimento climático, mas somos os que mais sofremos”, afirmou a presidente da UA, Nkozasana Dlamini-Zuma.
Hollande assinalou que a contribuição francesa busca estimular outros países a contribuírem ao fundo comum de ajuda à implantação de energias renováveis nesse continente.
O dinheiro “permitirá o início de projectos concebidos por governos africanos ou por organizações da sociedade civil”, indicou.
O presidente francês garantiu que o fomento às energias solar, eólica, hidroeléctrica e geotérmica, “em função do potencial de cada país”, entram nos projetos que serão financiados por esse fundo.
Além destes dois biliões de euros, Hollande anunciou também outro um bilião por ano para lutar contra a desertificação no continente africano até 2020, o que multiplica por três a ajuda francesa nesse âmbito.
Dois projectos estarão principalmente na mira dessa ajuda, a chamada Grande Muralha verde, que pretende conter o avanço do deserto do Sahara rumo ao sul e a preservação do lago Chade e do rio Níger, ameaçados pela seca.
Hollande indicou que todos esses projectos devem “estar acompanhados da luta contra o terrorismo, porque caso contrário as infraestruturas construídas serão em seguida destruídas” por grupos jihadistas.