Pelo menos 27 pessoas foram dadas como mortas nesta sexta-feira depois que forças de segurança do Mali invadiram um hotel tomado por homens armados ao que tudo indica muçulmanos para resgatarem 170 pessoas, muitas delas estrangeiras, presas no edifício. O grupo jihadista Al Mourabitoun, aliado da Al Qaeda e sediado no norte desértico deste país africano, assumiu a responsabilidade pelo ataque. O Mali tem combatido rebeldes islâmicos há anos.
Mais de sete horas após a incursão inicial, uma fonte de segurança declarou o encerramento do drama, que ainda incluiu a morte de dois militantes. Uma autoridade da Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que tropas pacificadoras que empreenderam buscas no hotel fizeram uma contagem preliminar de 27 corpos.
A televisão estatal mostrou soldados brandindo rifles de assalto AK47 no saguão do Radisson Blu, um dos hotéis mais requintados da capital Bamako e um dos preferidos dos visitantes estrangeiros. Um corpo jazia sob um cobertor no fim de um lance de escadas.
As tropas pacificadoras viram 12 cadáveres no subsolo do hotel e outros 15 no segundo andar, disse o funcionário da ONU à Reuters sob condição de anonimato. Ele acrescentou que as tropas da ONU ainda auxiliam as autoridades do país a fazerem buscas no hotel.
Um homem que trabalha para um parlamento regional da Bélgica está entre os mortos, informou a legislatura.
O ministro da Segurança Interna, coronel Salif Traoré, afirmou que os agressores romperam uma barreira de segurança às 7 horas locais, cobrindo a área de tiros e gritando “Allahu Akbar”, “Deus é grande”, em árabe.
Os ataques são uma afronta à França, que mantém 3.500 soldados no norte do Mali para tentar restaurar a estabilidade depois de uma rebelião de tuaregues em 2012 que mais tarde foi absolvida por militantes da Al Qaeda.
Soltaram quem sabia recitar o Corão
Sequências de disparos foram ouvidas enquanto os agressores percorriam o hotel de quarto em quarto e andar por andar, relataram uma fonte de segurança de alto escalão e uma testemunha à Reuters.
Algumas pessoas foram libertadas pelos atiradores depois de provarem que sabiam recitar versos do Corão, e outras conseguiram escapar ou foram retiradas pelas forças de segurança.
Um dos reféns resgatados, o famoso cantor guineense Sékouba “Bambino” Diabate, disse ter escutado dois dos terroristas a falarem em inglês enquanto revistavam um quarto adjacente.
“Ouvimos tiros vindos da área da recepção. Não ousei sair do meu quarto, porque parecia que não eram simples pistolas – eram disparos de armas militares”, afirmou Diabate à Reuters por telefone.
A invasão do hotel, que fica em uma região próxima de ministérios do governo e instalações diplomáticas, ocorreu uma semana depois de militantes do Estado Islâmico matarem cerca de 130 pessoas na capital da França, despertando o temor de que cidadãos franceses, em especial, estejam sendo visados. Doze tripulantes da Air France estavam no hotel, mas todos foram retirados ilesos, informou a empresa aérea.
Uma autoridade turca afirmou que cinco de sete tripulantes da Turkish Airlines também conseguiram fugir. A agência estatal de notícia chinesa Xinhua declarou que sete de 10 turistas do seu país presos no hotel foram libertados.
Regresso do Presidente
O presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, encurtou a sua presença numa cimeira regional no Chade, segundo informou o seu gabinete.
Uma fonte de segurança disse que até 10 homens armados invadiram o hotel, embora o Rezidor Group, a empresa que o administra, tenha declarado que só havia dois agressores.
O Al Mourabitoun já assumiu vários atentados, incluindo um ataque a um hotel na cidade de Sevare, 600 quilómetros a nordeste de Bamako, em Agosto, durante o qual 17 pessoas, incluindo cinco funcionários da ONU, foram mortas.
Um de seus líderes é Mokhtar Belmokhtar, responsabilizado por um ataque de larga escala a um campo de gás argelino em 2013 e uma figura de destaque entre os rebeldes do norte da África.
Na esteira do massacre em Paris, um militante do Estado Islâmico na Síria disse à Reuters que a organização vê a intervenção militar francesa no Mali como mais uma razão para agredir a França e representações do país em todo o mundo.
“Isto é só o começo. Tampouco esquecemos o que aconteceu no Mali”, garantiu o combatente, que não é sírio e com quem a Reuters fez contato pela Internet. “A amargura causada no Mali, a arrogância dos franceses, não serão esquecidos em absoluto.”