O Programa Quinquenal do Governo de Filipe Nyusi não responde aos anseios dos moçambicanos, sobretudo da juventude, no tange à oferta do emprego formal. O plano propõe gerar, nos próximos cinco anos, 1.483.562 novos empregos, dos quais 1.366.738 foram criados até 2014. Significa que no período em alusão haverá apenas 116.824 novos postos de trabalho, o que é irrisório para um país onde, anualmente, existem 300 mil jovens desempregados. O que a bancada do partido Frelimo, que com recurso à sua supremacia de voto deverá aprovar o documento em questão, defende reflecte a falta de sensibilidade em relação a esta situação e indica uma aparente ausência de perspicácia na análise dos números com que se tenta dar ao povo a impressão de que os seus problemas estão a ser resolvidos.
Ao contrário do que o programa do Executivo estabelece no item que versa sobre a “promoção do emprego, da produtividade e competitividade”, numa das suas cinco prioridades, quando o presente mandato terminar, em 2019, Moçambique terá uma legião de jovens desempregados muito acima das actuais taxas avançadas pelas entidades que lidam com a matéria do emprego.
Francisca nasceu e vive no distrito de Anchilo, há poucos quilómetros da cidade de Nampula. Ela conseguiu estudar até a 12ª classe mas a perda do seu pai impossibilitou-lhe de entrar no ensino superior. Anos mais tarde, perdeu também a sua mãe e, aos 20 anos, tornou-se chefe da sua família, com mais dois irmãos e ainda uma sobrinha cujos pais também pereceram. Da horta que ladeia a sua habitação, construída com paus e barro, com cobertura de palha, consegue com esforço tirar alguns alimentos para a sua dieta e muito pouco para vender na Estrada Nacional por onde passam potenciais clientes. Sonha em ter uma casa de material convencional, que todos anos não entre chuva e frio, e ver os irmãos, e sobrinha, tirarem um curso superior e, quem sabe, conseguirem trabalho “numa dessas grandes empresas que há por aí”.
Aliás, se Francisca tivesse frequentado o ensino superior ou tivesse beneficiado de uma formação profissional nada garante que ela teria emprego formal, pois todos os anos há milhares de estudantes que são graduados no país mas apenas uma parte ínfima deles é que consegue trabalho.
Em tempos procurou trabalho na cidade de Nampula mas nem mesmo o curso de informática, concluído numa associação local, ajudou a conseguir um emprego formal. O melhor que conseguiu foi trabalho numa casa mas “pagavam tão pouco que nem dava para o transporte todos os dias de e para casa”.
“A população economicamente activa em Moçambique é de cerca de 5.9 milhões de pessoas, constituída maioritariamente por trabalhadores por conta própria (52%) e trabalhadores familiares não remunerados (33.7%). Apenas 11.1% são assalariados, dos quais 4.1% são absorvidos pelo Governo e Sector Público e 6.9% pelo sector privado” dizem os relatórios oficiais.
Francisca é uma dos cerca de 300 mil jovens que todos anos tentam entrar sem sucesso no mercado de emprego formal em Moçambique. Em 2019 serão mais de um milhão os jovens sem emprego formal e as acções pouco objectivas do Governo só projectam criar, até lá, pouco mais de 100 mil postos de trabalho.
Em Anchilo não há emprego e, olhando para os Planos do Governo de Filipe Nyusi, é provável que continue a não existir pois o Plano Quinquenal não demonstra como é que serão aumentadas as oportunidades para o efeito, até 2019, e nem como as condições de vida de Francisca, e dos cerca de dois milhões de moçambicanos que vivem abaixo da linha de pobreza há pelo menos uma década, vão melhorar.
No seu plano o Governo, liderado por Carlos Agostinho do Rosário, afirma que fará esforços para aumentar a produção e produtividade “em todos os sectores, com ênfase na agricultura”, veremos. A verdade, porém, é que em Anchilo, os pequenos agricultores não se recordam de nenhum apoio governamental. Por isso, para Francisca e outros pequenos agricultores, é falácia o “prosseguimento do financiamento da actividade produtiva nos distritos” previsto no Plano do Governo para o quinquénio.
O propalado crescimento económico de 7% não se faz sentir nesta região tão próxima do maior cento urbano do norte de Moçambique onde os empregos formais e dignos continuam a ser uma miragem.