O preço do carvão vegetal, um dos combustíveis mais usados pelas comunidades de baixa e média renda no distrito da Maganja da Costa, província da Zambézia, registou, nos últimos dias, um agravamento de 60 para 180 meticais por cada saco de 50 quilogramas, facto considerado absurdo pelos compradores.
A par do que acontece em Nampula, onde a mesma quantidade era comercializada a 200 meticais e passou para 400 meticais, na zona de cimento, enquanto nos bairros suburbanos de Napipine e Namutequeliua passou de 350 para 380 meticais, os vendedores daquele combustível lenhoso apontam a chuva que tem vindo a cair na Maganja da Costa e a escassez de toros para o abate com vista a produzir carvão como sendo os factores que estão na origem na subida do preço.
Numa ronda efectuada por alguns postos de venda, o @Verdade constatou que a prática de preços acima referidos deriva da falta do carvão nos pontos de comercialização. Amisse Fabião um dos fabricantes do carvão vegetal naquele ponto da Zambézia, confirmou que a subida do preço se deve a esta situação. “A chuva que cai, quase todos os dias, não permite produzir carvão. Os poucos que têm este combustível lenhoso aproveitam-se do problema para tirarem benefícios”.
O nosso interlocutor avançou, ainda, que nos últimos dias uma equipa ligada à área de Florestas e Fauna Bravia dos Serviços Distritais de Actividades Económicas na Maganja da Costa esteve no terreno para fiscalizar os comerciantes que abatem indiscriminadamente as árvores não destinadas à produção de carvão.
Benjamim Janfar, outro vendedor deste produto, disse que agravou o preço porque o acesso à zonas de produção é difícil por causa da chuva e, por conseguinte, os donos dos camiões que transportam o carvão das matas para os sítios de venda também aumentaram os custos. Eles apontam igualmente a chuva como a principal causa desta subida.
Um estudo levado a cabo pela Universidade Nova de Lisboa, em 2013, indica que em Moçambique mais de 80% da população utiliza lenha e carvão vegetal. As províncias da Zambézia, de Nampula e da Beira consumiam, até essa altura, pelo menos 10 mil sacos deste combustível lenhoso por ano.
A pesquisa conclui que, para além de danos à saúde, o uso irracional da biomassa (lenha e carvão vegetal) estava a acelerar o desmatamento das florestas e comprometia o desenvolvimento económico e sustentável do país. Estima-se que, anualmente, são abatidas 18 milhões de árvores para a produção do carvão vegetal.
No mesmo ano, a Livaningo, uma organização não-governamental que trabalha na protecção do ambiente, disse que pouco mais de 75 porcento da população que vive nos bairros suburbanos da cidade de Maputo dependem da lenha e do carvão vegetal para cozinhar, o que pode acelerar o esgotamento da vegetação nativa e a destruição de ecossistemas.
No ano em alusão, a cidade de Maputo consumiu mais de três milhões de sacos de carvão, o que equivale a vários campos de florestas destruídas. “Os resultados são assustadores”. Em 2012, “por exemplo, a cidade de Maputo consumiu mais de 950 mil sacos de carvão de 85 quilos, o que significa que foram derrubados vários campos de floresta”, disse Domingos Pangueia, daquela instituição.