O livro digital, que ganha o mercado ainda de maneira tímida, permitirá que o leitor viaje sem peso de um livro de verdade, vai economizar espaço, proporcionar uma leitura mais cômoda e aproximar os livros dos internautas, mas, ao lado das vantagens, os escritores e as editoras temem outros aspectos do novo fenômeno.
Profissionais de várias áreas relacionadas ao livro manifestaram durante a última Feira do Livro de Madri sua admiração e certos temores em relação ao livro digital, eletrônico ou e-book. Atualmente estes termos denominam o suporte vendido em algumas livrarias – o dispositivo sem fio do tamanho de um livro e pouca grossura em cujo monitor é possível armazenar e ler arquivos -, assim como o livro digitalizado que pode ser baixado e lido em computadores e telefones celulares.
“Para quem não lê porque usa a internet, o livro digital é o melhor suporte para se iniciar na leitura”, afirma Jesús Badenes, diretor de livrarias da editora Planeta. “Será possível viajar com livros grossos, que não pesarão no novo suporte, e mudar o tipo de letra do livro”, destaca ao comentar o suporte, criado há poucos anos e comercializado nos Estados Unidos pelo portal Amazon.
A Amazon vende livros digitais para que sejam lidos no suporte Kindle, que já tem concorrentes como os da Sony, Iliad e Cybook, ainda caros (pelo menos 300 dólares), mas que para os especialistas devem ter uma redução de preço em breve. Hoje as editoras especializadas já têm bons resultados. A revista científica britânica Nature passou de 60.000 assinaturas a 300.000 graças à edição digital.
Mas as inovações do livro eletrônico são acompanhadas por inquietações: os escritores veem riscos para o faturamento caso, a exemplo da música e dos filmes na internet, as obras sejam disponibilizadas na web sem permissãoo ou se generalizem os downloads gratuitos. “Existe uma expectativa de gratuidade em relação aos conteúdos na internet que não existe com outros bens, como o computador, a conexão a internet, a energia elétrica ou o Kindle”, afirma Victoriano Colodrón, diretor técnico da Cedro, que administra os direitos autorais e que ano passado conseguiu retirar 50 obras da web que haviam sido disponibilizadas sem autorização.
“Que preço vamos a pagar se deixarmos de receber os direitos autorais?”, questiona a escritora Care Santos. “Além disso, as livrarias terão um problema quando tudo for vendido virtualmente, porque não poderão competir”.
Alguns apostam em um ajuste apropriado do setor que permita que o e-livro se consolide como um novo canal de exploração para os direitos autorais, ordenado e sujeito às normas de mercado, que permita uma retribuição justa ao autor e aumente o consumo do livro e mantenha a dignidade do setor.
A concorrente da Amazon, Google, que scaneou quase sete milhões de livros por meio do acesso aos arquivos de bibliotecas de todo o mundo, já anunciou que, além de permitir a livre consulta no Google Books Search, venderá os mesmos. No entanto, para além das vantagens e perigos do ‘e-book’, a maioria não acredita em um domínio do mercado.
Ambos conviverão por um tempo, 10 anos, segundo uma pesquisa realizada na última Feira do Livro de Frankfurt, segundo a qual 60% das editoras ainda não digitalizaram livros. Nos Estados Unidos os livros digitais representam hoje 0,6% do volume de negócios total, e apenas 0,1% no Reino Unido.