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Revista quer transformar homossexualidade em uma “questão natural” em Uganda

Num movimento valente, e talvez um pouco temerário, a comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (LGBT) de Uganda lançou uma revista para contar as suas “próprias histórias” e convencer a sociedade de que sua opção sexual é uma questão natural e não uma conduta delitiva. As 75 páginas da “Bombastic” abrigam dezenas de artigos sobre experiências reais da comunidade gay, num país onde a homossexualidade é um delito, explicou a ativista e editora da publicação, Kasha Jacqueline Nabagesera.

A boa aceitação da revista, que é gratuita e distribuída em algumas bancas e supermercados do país, foi tal que em poucas semanas esgotaram os 15 mil exemplares impressos, e em breve esperam lançar uma segunda edição com outros 30 mil exemplares.

“A resposta foi incrível, já que esperávamos receber muitas críticas e foi todo o contrário: chegaram comentários muito positivos de gente que apoia nossa iniciativa”, contou Kasha.

Foi uma longa viagem para um coletivo que segue vivendo na sombra de uma sociedade conservadora e hostil com os gays, que apoiou em diversas ocasiões as tentativas de endurecer as penas contra a homossexualidade.

Em Dezembro de 2013, o parlamento aprovou uma lei que aumentava de forma significativa as penas de prisão para os homossexuais, inclusive com prisão perpétua. O presidente do país, Yoweri Museveni, chegou a encomendar um relatório a um grupo de “especialistas” para tentar justificar esta iniciativa. O grupo concluiu que a homossexualidade “não é genética”, mas uma opção derivada de uma conduta social “anormal”; segundo o estudo, e sua origem é a educação recebida durante a infância, tratando-se portanto de um defeito “corrigível”.

Após este relatório, o presidente ratificou a lei em Fevereiro de 2014, mas em Agosto a Corte Suprema a anulou por um problema ocorrido durante o trâmite parlamentar, algo que foi interpretado como uma cessão às pressões das potências internacionais.

Mais de 130 voluntários encarregaram-se da distribuição da “Bombastic” em diversos pontos do país, e alguns deles sofreram agressões, principalmente no leste de Uganda, onde “as revistas foram confiscadas e queimadas”, detalhou a editora.

Outro ativista, que preferiu não se identificar por medo de represálias, disse que a ideia de publicar uma revista surgiu da necessidade de responder à desinformação e à cobertura negativa que é feita sobre a comunidade homossexual nos grandes meios de comunicação de Uganda.

“Queríamos contar nossas próprias histórias em uma plataforma que podemos controlar, portanto buscamos testemunhas e exemplos do dia a dia de homossexuais e lésbicas em Uganda para refletir suas vidas neste primeiro exemplar”, declarou a ativista.

Outra dificuldade encontrada foi conseguir que uma editora cuidasse da divulgação da revista, já que muitas queriam cobrar preços fora de mercado. Finalmente chegaram a um acordo com uma delas e a publicação é uma realidade.

O êxito da “Bombastic” é apenas uma pequena vitória em um caminho que ainda está cheio de obstáculos, mas ao mesmo tempo representa um passo adiante na luta para que a sociedade ugandense aceite as diferenças sexuais como algo natural.

“A minha jornada pessoal, e a de toda a comunidade gay, é a mesma de sempre. Ainda tenho que ter cuidado quando vou aos lugares e faço que coisas para não me expor”, concluiu Kasha.

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