Os munícipes de Mocuba acordaram nesta segunda-feira (12) sobressaltados com as águas do rio Licungo a transbordarem. Uma onda de mais de dez metros inundou e arrastou dezenas de habitações, submergiu a ponte que liga o centro ao norte de Moçambique e levou mais de duas dezenas de pessoas, entre elas alguns adolescentes. Numa altura que Moçambique está sem Governo, demitido na semana passada pelo ainda Presidente Armando Guebuza, a província da Zambézia entrou em alerta de cheias.
Passava das 4 horas da madrugada quando o Licungo começou a ficar “furioso”, chovia há quatro dias e era previsível que, como todos anos nesta época de chuvas, o rio acolhesse mais água do que o habitual. Porém, desta vez foi diferente: uma onda alta, não foi possível apurar de onde provinha, veio acompanhá-lo e apanhou desprevenidos centenas de moradores da zona ribeirinha e até um grupo de 25 adolescentes que findava os seus ritos de iniciação.
Sete dos jovens foram resgatados até ao início da noite e já voltaram ao convívio familiar. Supõe-se que os outros ainda estejam sitiadas e possam ser resgatadas pelas equipas de emergência que trabalham no terreno.
Uma jovem universitária, de férias em casa do pais, contou-nos que a sua mãe recebeu um telefonema cerca das 4 horas 30 minutos alertando para a subida do rio que já estava a inundar a ponte, na Estrada Nacional nº1 que liga Nampevo a Mocuba.
Por volta das 7 horas, os munícipes miravam o rio que continuava a ganhar força e a subir como há vários anos não se via. “Desde 1999 que não enchia tanto, costuma ser uma cheia amena”, contou-nos a jovem munícipe.
Entretanto, nas zonas ribeirinhas centenas de habitações precárias foram arrastadas e as mais convencionais ficaram inundadas até a altura do tecto. Muitos residentes só puderam levar a roupa do corpo e alguns objectos pessoais. Vários bens adquiridos ao longo dos anos ficam sob as águas.
Além das residências, várias infra-estruturas públicas foram afectadas como a estação de bombagem de água potável que ficou submersa originando a interrupção do fornecimento do abastecimento do precioso líquido aos munícipes de Mocuba. A energia eléctrica também foi cortada.
“Não temos informações certas sobre o nível das águas do rio Licungo, uma vez que inundaram os nossos picos de medição instalados naquela infra-estrutura, mas a situação é alarmante”, referiu o director da Unidade de Gestão das Bacias do Oeste (UGBO) da Administração Regional de Águas (ARA) do Centro-Norte, Pascoal Alfredo, que acrescentou que não se vê enchente idêntica há cerca de 40 anos na bacia do Licungo.
A meio da manhã a ponte sobre o rio Licungo, construída antes da independência nacional, começou a ceder. Os seus pilares assentes a nove metros de profundidade foram ultrapassados pelas águas e começou por abrir fissuras numa secção da ponte. O tráfego rodoviário nessa altura já tinha sido suspenso mas os populares iam atravessando a pé. Entretanto, os danos aumentaram e a réstia de ponte que permitia a passagem de peões também cedeu. Neste momento o centro de Moçambique está, novamente (como quase todos anos acontece no pico da época chuvosa), separado do norte. Centenas de viaturas particulares e autocarros de transporte de passageiros não podem circular deixando os viajantes “sitiados” nesta região.
Alerta Vermelho
Ainda na província da Zambézia, a ligação rodoviária entre Ile e o Gurúè está condicionada pela chuva que tem caído na região e que danificou uma ponte metálica que existia na localidade de Macuarro.
A estrada que liga o Posto de Administrativo de Morrua à vila sede de Mulevala e ao posto administrativo de Marropino está cortada ao tráfego rodoviário devido ao transbordo do rio Milela.
O rio Rarraga também transbordou e não permite a ligação rodoviária entre o Posto Administrativo de Mugeba e Mocuba.
Em Alto Molócuè a cidade administrativa ficou separada da municipal e comercial pelo rio Molócuè que também transbordou e inundou a ponte que permite a ligação entra as duas partes da cidade.
Na tarde desta segunda-feira, Carmelita Namashulua, ainda ministra da Administração Estatal e a exercer as funções de directora do Centro Nacional Operativo de Emergência (CENOE), tornou público que o Conselho de Ministros (não se sabe por quem é composto, pois vários ministros foram demitidos na semana passada) em sessão extraordinária declarou alerta vermelho para as zonas centro e norte de Moçambique. A ministra revelou ainda que as regiões costeiras das províncias de Cabo Delgado, Nampula, Zambézia e norte de Sofala estão sob ameaça de uma depressão tropical.