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Afinal, o que há de lindo em Maputo?

Afinal

As ruas, os vendedores ambulantes, os sorrisos do povo, as brincadeiras das crianças e os monumentos que existem e que dão uma nova “roupagem” à cidade de Maputo motivaram recentemente o artista plástico, escritor e actor de teatro latino-americano, Rafo Dias, a realizar uma exposição de pintura, no Centro Cultural Brasil-Moçambique, intitulado “Maputo em Cores”. O trabalho que abarca diversas técnicas, como, giz pastel, aquarelas, acrílicos, papel machê e capulanas visa retratar a vida dos moradores e homenagear a urbe.

Na verdade, a pergunta que serve de título a esta reportagem não é certamente nova: já recebeu, há bastante tempo, muitas respostas contraditórias. Mas, o mais inútil de todos os exercícios seria pretender imaginar, uma vez mais, uma forma única para explicar um conjunto de fenómenos frequentemente diversos, relativamente à suposta beleza de Maputo.

Por essa razão, o presente artigo procura, acima de tudo, ser útil a quantos desejam compreender as obras de Rafo Dias e, consequentemente, a extensão e a perfeição da cidade das Acácias. Com cinco anos de estada em Moçambique o autor de “Meninas da Mafalala”, “Xiluva na Rua”, entre outras, patenteia cerca de 30 obras que realçam o que se tem de bom nesta parcela do país. Trata-se de uma iniciativa que visa provar a beleza de Maputo e, consequentemente, incentivar os habitantes da urbe a valorizarem o que têm. Segundo afirma o peruano, é tempo de se valorizar a nossa cultura, os nossos monumentos e os nossas capacidades. Acompanhe…

“Em Maputo, encontrei variadas cores, nas pessoas, nos imóveis, nos produtos alimentícios tipicamente moçambicanos, nas vestes, capulanas e lenços, bem como nos cosméticos como o mussiro. No entanto, se porventura, cuidadosamente e com atenção, passearmos pelas ruas desta metrópole veremos o quão linda e colorida é”. Talvez, depois de se ver as melancólicas imagens de petizes de rua e de vendedores ambulantes, que deambulam pelas avenidas à procura do sustento familiar, a resposta relativa à questão do título da nossa matéria seria desencorajadora.

E a razão é simples: como é que se associa a pobreza e a desgraça do outrem à beleza de uma cidade? Ou pior, o que seria a perfeição? De certa forma, constata-se que as obras “Xiluva na Rua” e “Vendedores Ambulantes” – com bacias na cabeça a venderem pastéis de feijão, vulgo “badjias” – deviam ser respostas que, de uma ou de outra forma, contradizem as opiniões de Dias.

Por isso, apesar de tudo, há que se reiterar que – se olharmos para estes dois trabalhos – não há nada de angelical em Maputo. As obras foram feitas por um cidadão peruano que diante de uma sociedade entristecida e muito simples quis descobrir, mesmo sob o olhar latino, os mistérios e a simplicidade do povo moçambicano. Na verdade, embora os seus trabalhos sejam, possivelmente, distantes das interpretações das pessoas de Maputo em relação à beleza da mesma, há que se concordar com o seu ponto de vista.

De facto, há alguns aspectos que merecem, uma atenção especial. Contudo, diante das pinturas, notámos que o que lhe chamou à atenção foi a língua, a capulana, a comida, a música, os utensílios e outros monumentos moçambicanos. Portanto, se para nós todos estes elementos constituem um factor de reconhecimento da nossa identidade, para Rafo expor a realidade desta sociedade é a melhor experiência da sua vida. “Há anos quis buscar Moçambique, no seu todo. E agora descobri que vocês moçambicanos têm muitas coisas de que se orgulharem. Vocês podem viver da vossa cultura e da vossa quotidianidade”.

“As meninas da Mafalala”

“Eu sou contador de histórias. Vivo nos bairros, nas escolinhas, nas casas de chefes de quarteirão a narrar episódios a crianças de deferentes idades. Na exposição “Meninas da Mafalala”, por exemplo, exploro o que há de exótico e genuíno nelas. Também porque foi lá onde encontrei um sorriso sincero, sem mágoas nem rancor. As miúdas da Mafalala mostraram-me que, de facto, é possível ser felizes mesmo sem condições. A prova disto são os brinquedos que elas fazem para se divertirem”, afirma Rafo Dias. Embora a explicação de Dias seja, por mais óbvia que pareça, sobejamente conhecida por, quase, todos os citadinos de Maputo e não só, a autenticidade e a história do bairro fizeram com que, uma vez mais, retratasse a vida dos moradores.

Não é obra do acaso que, mesmo sob a condição de visitante em Moçambique, o artista tenha vontade de lá instalar –se e partilhar os momentos com a comunidade. No entanto, Rafo explica que “além das pessoas, das ruas, da dança, dos edifícios chama-me a atenção a capacidade do povo em relação aos feitos e tudo o que se consome em Moçambique”. Se se solicitasse a qualquer moçambicano, sobretudo os residentes na capital do país, para falar dos nossos hábitos, da nossa cultura, obviamente, que ninguém excluiria a música.

Todos, de uma forma genérica, conhecemos os as líricas de Hortênsio Langa, de José Mucavele, de Mingas e de Chico António, por exemplo. Mas, de qualquer modo, se os conhecemos e com eles nos identificamos como moçambicanos, é porque neles encontramos o que vale a pena. Nós percebemo-los. Se calhar, certamente, não haja nenhuma necessidade de duvidar da sua audácia, do seu talento e do seu contributo na elevação das artes e cultura em Moçambique.

Mas, “infelizmente não pude ilustrar as melodias deste ícones através da pintura. O certo para mim é que os estimo bastante”. De todos os modos, tendo-se em conta o percurso do pintor que se reflete através dos seus contos, Rafo já consumiu um conjunto de experiências em Moçambique. E justifica: “Sinto- me moçambicano”. De referir que as obras estarão patentes até o dia 30 de Novembro em curso.

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