A Coreia do Norte está pronta para retomar as conversas de seis partes sobre o seu programa nuclear, mas precisa de manter-se em estado de alerta diante dos exercícios militares conjuntos dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, declarou um enviado de primeiro escalão do país, esta quinta-feira (2), em Genebra.
O embaixador da República Democrática Popular da Coreia (DPRK, na sigla em inglês) na Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, So Se Pyong, disse à Reuters que a sua nação não planeia um teste nuclear ou de mísseis.
Numa entrevista abrangente, ele afirmou que os relatos sobre a saúde frágil do seu líder, Kim Jong Un, são “boatos fabricados” e que não está claro se os EUA estão dispostos a negociar a libertação de três cidadãos norte-americanos.
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, disse depois das reuniões com o seu colega norte-coreano na quarta-feira em Moscovo que vê a possibilidade de se retomar as conversas travadas sobre as actividades nucleares de Pyongyang, mas que isso levará tempo.
“Estamos prontos para as conversas com as seis partes, e no que me diz respeito, China, Rússia e a DPRK estão prontas”, declarou So na rara entrevista na missão da Coreia do Norte com vista para o lago Genebra.
“Mas a América (os Estados Unidos), eles não gostam deste tipo de conversa no momento. E a América não gostar é a razão de países como Coreia do Sul e Japão tampouco estarem prontos para estas conversas.”
A Coreia do Norte prometeu abandonar o seu programa nuclear em 2005, mas pareceu voltar atrás no acordo quando testou artefactos nucleares em 2006 e 2009. Já afectado por sanções pesadas da ONU por seus testes nucleares e de mísseis, o país recluso finalizou uma grande reforma nas suas instalações de lançamento de foguetes, afirmou um centro de pesquisa norte-americano nesta quinta-feira, que o permitirá lançar foguetes maiores e de maior alcance.
Sem ser específico, So relacionou os preparativos militares da Coreia do Norte aos exercícios “muito graves” dos EUA e da Coreia do Sul no início deste ano, que ele disse terem empregado porta-aviões nucleares, submarinos e bombardeiros B-52.
“Temos que estar alerta também, estar preparados para adoptar medidas defensivas em reacção àquele exercício militar contra nós.” Indagado especificamente sobre o facto de a Coreia do Norte estar ou não preparando um teste nuclear ou para disparar um míssil, ele respondeu: “Não, não.” “Caso, caso eles realizem esse tipo de exercício militar nuclear conjunto frequentemente contra meu país, também temos que fazer.”
O programa de armas nucleares da Coreia do Norte a protege dos EUA, disse So. “Caso desistamos das armas, como outros países, então é claro que acho que eles já teriam nos atacado”, afirmou.
Não se acredita que a Coreia do Norte tenha dominado a tecnologia para miniaturizar uma ogiva nuclear pequena o suficiente para caber em qualquer um dos seus foguetes actuais, embora analistas digam que testes nucleares posteriores aumentam a chance de aprimorar essa capacidade. Indagado se o líder norte-coreano está comprometido com a desnuclearização, So disse: “É a política do partido.”
Prisioneiros
Três cidadãos norte-americanos estão presos na Coreia do Norte acusados de crimes contra o Estado. Um jornal pró-Coreia do Norte publicado no Japão citou um deles, que teria apelado para que o governo dos EUA ajude a obter a sua soltura.
“Fui informado de que eles pediram ao seu governo para negociar estes problemas, mas não sei se a América está pronta ou não para soltá-los ou tem alguma compreensão ou reconhecimento dos crimes que eles cometeram”, comentou So.
Ele revelou que o seu país buscou uma cooperação maior no tema dos direitos humanos, primeiro com a ONU para obter assistência técnica, e também através do diálogo com a União Europeia.
“Na verdade, demos uma indirecta sobre esse tipo de diálogo a um país membro da UE, mas eles não esboçaram nenhuma reacção, não deram nenhuma resposta”, disse So.
Um relatório de investigadores da ONU deste ano denunciou o sistema de campos de trabalho com prisioneiros políticos. “Claro que todo país tem prisões. Mas não os campos de trabalho de que estão falando. Esta é uma discriminação totalmente fabricada”, afirmou o diplomata.