Um cidadão que responde pelo nome de António Pedro Anela, morador do bairro de Natikiri, desapareceu com uma urna contendo os restos mortais do seu tio. O caso, que está a criar diversas interpretações no seio dos familiares e moradores do bairro de Mutauanha, deu-se na semana passada (sábado) e está a agitar o posto administrativo de Muatala, arredores da cidade de Nampula.
Nem a esposa e, muito menos, os filhos sabem explicar, com exactidão, o local da sepultura de Carlos Anela, natural do distrito de Lalaua e antigo funcionário do sector de Saúde, em Nampula. Os familiares contam que o corpo do malogrado foi levado numa viatura que, na altura, era conduzida pelo seu sobrinho, António Anela, depois de uma uma discussão entre os parentes do falecido.
De acordo com Fátima Intigua, esposa do malogrado, António Anela, praticante da medicina tradicional, teria impedido os familiares, incluindo o sacerdote, a acompanharem a urna para a sepultura, algures no distrito de Lalaua. No meio de várias contestações, Anela colocou a urna na viatura e seguiu viagem, sozinho, para lugar incerto, tendo regressado sete dias depois, alegadamente para formalizar o matrimónio com a viúva, segundo recomendam algumas normas tradicionais.
“Voltou acompanhado de um outro indivíduo para me obrigar a casar com ele, alegadamente para manter o nome do falecido, mas eu nunca vou aceitar a proposta”, frisou a viúva em conversa com o @Verdade. A nossa interlocutora explicou que o visado começou a demonstrar uma má atitude, logo após aperceber-se da morte do tio.
“Ele ordenou aos filhos do malogrado para que não se envolvessem nas discussões sobre os moldes de sepultura do pai, sob pena de merecerem o mesmo destino”, disse a viúva. Por seu turno, Amorim Carlos Anela, filho do malogrado, contou que o seu tio proibiu que as cerimónias fúnebres do finado fossem efectuadas na presença de algum sacerdote. Porém, a família ficou deveras surpreendida quando o cidadão chegou naquela residência por volta das 20h00 para simplesmente levar o caixão.
O que diz o testamento?
O testamento de Carlos Manuel Anela, escrito em vida, refere que caso ele perdesse a vida, os seus pertences deveriam ficar sob gestão do seu filho Amorim Carlos Manuel Anela, assim como da referida esposa, ora sob controlo da casa do finado. Num outro desenvolvimento, a esposa do falecido disse que o suposto sobrinho se recusa a aceitar que a casa esteja fora do seu poder e ainda diz que, para viúva continuar a morar naquela residência, deve aceitar a proposta de se casar com o indivíduo que terá trazido em substituição do seu irmão.
Membros da Santa Paulina agastados com a situação
O @Verdade procurou ouvir os crentes da comunidade Cristo Rei, em especial os do grupo de oração Santa Paulina, os quais se mostram preocupados diante daquela triste situação. Joana Calavete, solista daquele grupo religioso, diz não conseguir perceber porque é que ele é contra os membros da igreja.
“Ele avisou ao padre naquele dia que não se metesse no assunto que diz respeito ao seu familiar, acrescentando que o sacerdote devia ficar atento aos membros da sua igreja e, igualmente, que deixasse a família enlutada em paz”, contou.
Refira-se que o dia em que Carlos Manuel Anela perdeu a vida, o seu sobrinho, António Anela, forçou a viúva que o entregasse o cartão do banco do seu tio e, em seguida, foi levantar o dinheiro que havia na conta, deixando a senhora à sua própria sorte. O assunto é tema de conversas entre grupos a nível do bairro de Mutauanha, assim como na camada religiosa, aventando-se a hipótese de que as acções do sobrinho estejam relacionadas com questões de magia negra, dado o grau de anormalidade.
O que diz a Liga dos Direitos Humanos
@Verdade conversou com Tarcísio Abibo, delegado regional da Liga dos Direitos Humanos (LDH) em Nampula, tendo este afirmado que se o falecido não tiver gerado nenhum herdeiro os seus bens ficam divididas pela metade, entre irmãos do finado e aquela cidadã. Aquele responsável disse que, na falta de descendentes, a cidadã deve procurar instâncias maiores com vista a não deixar que os seus direitos sejam violadas.