Países africanos aumentaram as restrições de viagens, esta quinta-feira (21), para conter o surto do ébola no continente, ignorando alertas da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que tais medidas podem piorar a escassez de alimentos e de produtos básicos nas áreas afectadas.
Na favela West Point, em Monróvia, capital da Libéria, onde houve embates violentos com o Exército na quarta-feira depois de a área ter sido posta sob quarentena para conter a propagação do ébola, centenas de pessoas acotovelaram-se rumo aos camiões com água e arroz.
A polícia usou cassetetes contra alguns moradores, enquanto os assistentes humanitários ajudavam outros a molhar o dedo com tinta para administrar a distribuição. “Não comi desde ontem. Tenho quatro crianças pequenas e nenhum de nós come. Sinto-me mal”, disse Hawa Saah, residente de West Point, de 23 anos, e grávida.
O Programa Mundial de Alimentação afirma que as remessas de artigos básicos a mais de 1 milhão de pessoas em Guiné Conacri, Libéria e Serra Leoa pretendem evitar uma crise alimentar nestes países, onde mais de 1.300 pessoas morreram vítimas do ébola na pior epidemia da doença da história.
A OMS tem dito reiteradamente que não recomenda restrições de viagens ou de comércio para os três países e a Nigéria, todos afectados pelo surto iniciado em Março. Essas nações começaram a sofrer com a falta de alimentos, combustível e géneros de primeira necessidade por conta das medidas.
Mesmo assim, o primeiro-ministro do Chade, Kalzeubet Payimi Deubet, declarou, esta quinta-feira, que o seu país irá fechar a fronteira com a Nigéria para impedir a chegada do ébola. “Esta decisão terá um impacto económico na região, mas é imperativa para a saúde pública”, declarou.
A Nigéria tem 15 casos registados – o menor número entre os quatro países – e a OMS expressou um “optimismo cauteloso” de que a epidemia possa ser contida. Também, esta quinta-feira, a África do Sul alertou que está a proibir a entrada de todos os viajantes de Guiné, Libéria e Serra Leoa em seu território, com excepção dos seus próprios cidadãos.
Guiné Conacri apela a companhias aéreas
As companhias aéreas como a Kenya Airways e a Gambia Bird suspenderam voos aos países afectados, apesar de novos procedimentos de inspecção nos aeroportos. Os Estados Unidos e vários países europeus também aconselharam que as viagens não essenciais à região sejam evitadas.
O presidente da Guiné Conacri, Alpha Condé, reuniu-se com as companhias aéreas na quarta-feira numa tentativa de convencê-las a retomar o serviço normal para o país. “Nenhum guinense deixou o país para exportar ébola para outros lugares. Mesmo a OMS reconheceu que as medidas da Guiné são suficientes”, disse ele.
A OMS afirmou, esta quinta-feira, que irá convocar reuniões no início do próximo mês sobre potenciais tratamentos e vacinas para conter o surto. O ébola atingiu de forma mais dura os países com sistemas de saúde mal-equipados para lidar com uma epidemia.