Entre os dias 18 e 20 de Julho do ano em curso, Moçambique participou no Campeonato do Mundo de Tang Soo Do realizado nos Estados Unidos da América. A delegação moçambicana composta por um universo de 28 elementos, dois quais 24 atletas e os restantes treinadores e dirigentes, conquistou um total de 28 medalhas, sendo 10 de ouro, sete de prata e 11 bronze. Sequerane Chidiamassamba foi o destaque ao sagrar-se campeã do mundo nos cinturões vermelhos. Na classificação geral o combinado nacional ocupou a segunda posição.
Apesar de ser discriminada pelos nossos dirigentes, o Tang Soo Do continua a ser a modalidade mais bem-sucedida a nível internacional em relação as outras que gastam avultadas somas de dinheiro, em particular o desporto rei, o futebol que nunca trouxe nenhum galardão seja ele continental ou Mundial. Segundo Alex Goule, mestre da Associação Moçambicana Tang Soo Do, apesar de continuar enteada do dirigismo desportivo moçambicano, provou que é uma modalidade que quando vai a uma competição fora de portas consegue honrar as cores da bandeira nacional.
“Quando vamos a uma prova internacional, o nosso objetivo é honrar as cores da bandeira nacional e os 23 milhões de moçambicanos, felizmente neste Campeonato do Mundo eramos um dos países com menor número de atletas, 24, mas conseguimos angariar mais medalhas que os países que trouxeram mais de 100 atletas. Provamos que apesar das dificuldades que a modalidade enfrenta em Moçambique, somos uma potência Mundial na modalidade.
Convidado a fazer o balanço da participação do combinado nacional na maior prova da modalidade evolvendo, todas associações do mundo, pelo que Tang Soo Do é composta por associados e não por federações, Alex Goule afirmou que esta foi de longe a melhor participação de Moçambique numa prova Mundial. “Conseguimos trazer um recorde de medalhas e revalidamos o título feminino em cinturões vermelhos, em 2008 a campeã foi a Yara Chidiamassamba que logrou este feito, mas na competição que decorreu nos Estados Unidos de América, Sequerane ficou na primeira posição.
As dificuldades enfrentadas na preparação
Tal como aconteceu em 2008, a selecção nacional foi impedida de levar alguns atletas por falta de fundos, porque as entidades que gerem o desporto em Moçambique não se mostraram disponíveis a estender a mão para que os atletas selecionados se fizessem aquele país da América do Norte.
“Queríamos levar um determinado número de atletas para aquela competição, mas mais uma por falta de fundos fomos obrigados a abdicar dos préstimos de alguns, porque não disponhamos de verbas suficientes para levá-los para aquele evento desportivo. A maioria dos atletas viajou com fundos próprios pelo que, tentamos pedir ajuda junto dos nossos parceiros, mas não conseguimos juntar o valor necessário para levar todos os tangsudocas.
Agradecemos o Fundo de Promoção Desportiva que nos ajudou com uma parte da verba para custear a viagem e estadia durante o certame e a Lacatonni que nos forneceu os equipamentos que usamos durante a prova, sem esquecer a TDM e a INATUR que nos apoiaram. Além da falta de verbas para custear a logística para o Campeonato do Mundial, a Associaçao Moçambicana de Tang Soo Do deparou-se também com o problema da falta de espaço para ensaiar os exercícios colectivos, o que decerto contribuiu para que Moçambique não chegasse ao almejado título nesta categoria.
“A nossa sede não possui espaço e cenário para ensaiarmos as exibições de técnicas de combates, essa foi outra dificuldade que enfrentamos na nossa preparação para aquela competição, por isso não conseguimos concretizar o nosso objectivo que era conquistar o título mas conseguimos ficar com a medalha de prata”. O nosso interlocutor declarou ainda que durante a competição não houve sobressaltos pelo que os atletas estiveram ao seu melhor nível, o que culminou com a conquista de 28 medalhas.
O segredo para o sucesso
“Para nós é uma missão cumprida por termos conquistado um número recorde de medalhas num campeonato do mundo, por isso estamos satisfeitos por esse feito e, a independência nas artes marciais. Antes da partida prometemos aos nossos amigos, familiares e sobretudo aqueles que nos ajudaram para tornar possível que íamos honrar a bandeia nacional” disse Goule.
Questionado sobre o segredo deste resultado conseguido pela seleção nacional naquele certame, Alex Goule disse, “ o segredo deste feito está na seriedade, nós não apalpamos, fazemos e não somos obrigados por ninguém a praticar este tipo de artes marciais, nos somos os verdadeiros fazedores do Tang Soo Do, por isso conseguimos este resultado histórico”.
Governo gazeta a recepção
O combinado nacional conseguiu um resultado histórico no Mundial de Tang Soo Do realizado nos EUA, todavia, no seu regresso não foi recebido por nenhum membro do governo, em particular o Ministério da Juventude e Desportos, entidade que chancela o desporto no país. Este acto provou que a modalidade apesar das inúmeras conquistas internacionais contínua sem espaço em Moçambique e isso deixou os atletas e treinadores com uma mágoa, pelo que algumas modalidades só por conseguirem um segundo lugar no campeonato africano são recebidos em todos os ministérios e com direitos a prémios chorudos, ao contrário de Tang Soo Do que não é contemplada neste lote de modalidades privilegiadas.
“Quando um filho viaja para fora de portas, no seu regresso espera que o pai o receba de braços abertos, mas não é o que tem acontecido em Moçambique e isso nos deixa preocupados, porque as outras modalidades só por um simples apuramento para uma fase de qualificação tem direito a uma recepção com o ministro. Mas isso não nos deixa desanimados vamos continuar a trabalhar porque nós somos os verdadeiros fazedores do desporto não os dirigentes”.
Prosseguindo o mestre da Associação Moçambicana de Tang Soo Do disse “ conseguimos um resultado histórico a nível internacional, mas no nosso país isso não tem nenhum significado, mas não vamos desistir, queremos dar mais alegrias ao povo moçambicano. O ministro da Juventude e Desportos, Fernando Sumbana, veio visitar as nossas instalações duas semanas depois do nosso regresso, esperamos que com essa atitude se abra uma nova pagina para a modalidade”.
Queremos expandir o Tang Soo Do para todas as partes de Moçambique
No presente apenas quatro províncias, nomeadamente, Maputo, Gaza, Inhambane e Sofala movimentam a modalidade e a entidade que gere a modalidade em Moçambique tem o sonho de expandir a modalidade para as restantes províncias do país. Mas o Alex Goule está ciente das dificuldades que vai enfrentar para tornar este sonho uma realidade.
“Expandir a prática do Tang Soo para todas as províncias é um dos principais objectivos da nossa associação, mas isso não será de noite para dia porque exige muito dinheiro, pelo que precisamos de espaço para erguer uma sede em cada província.
Estamos registados na legislação do estado
Numa altura em que o governo de turno insiste em dizer que a Associação Moçambicana de Tang Soo Do ainda não foi legalizada, o que segundo Alex Goule não corresponde a verdade porque a mesma foi regularizada em 2008 e consta na III série – numero 20 do Boletim da Republica.
Para o nosso interlocutor em Moçambique existem modalidades prioritárias que apesar de não trazer grandes resultados nas competições que fazem parte, os nossos dirigentes continuam a apoia-las incondicionalmente.
“Vamos continuar a lutar com as armas que temos, porque se esperamos pelo apoio dos nossos dirigentes podemos fechar as portas. Não fazemos parte das ditas modalidade prioritárias mais vamos continuar a defender as cores da nossa bandeira, porque quando estamos numa prova internacional não vamos em representação de Tang Soo, mas de todo povo moçambicano. Dizer que não estamos legalizados é uma pura mentira, porque a Associação Moçambicana de Tang Soo Do foi legalizada em 2008 e consta do Boletim da Republica, na III serie – número 20”.
Tang Soo Do uma modalidade sem espaço em Moçambique
Além da falta de apoio, o Tang Soo Do tem sido descriminado em Moçambique nas atribuições de prémios. O caso mais sonante deu-se na atribuição do prémio para atleta do ano 2013. Os atletas Hélio Souza e Sequerane Chidiamassamba que no mesmo ano sagraram-se campeões africanos foram preteridos da eleição.
O que decerto dividiu opiniões, pelo que devia ser considerado o melhor do ano o atleta que ganhou uma medalha continental ou mundial, em detrimento daquele que apenas conseguiu melhorar as suas marcas. De lembrar que de toda a delegação moçambicana que foi ao Campeonato Mundial apenas Sequerane Chidiamassamba é que conquistou o maior numero de medalhas, três de ouro e, sagrou-se campeã do mundo dos cinturões vermelhos.
Quem é Sequerane Chidiamassamba?
Sequerane Chidiamassamba é uma Tangsudoca moçambicana de 19 anos. Teve uma infância dividida entre a capital do país e a província de Manica, desde cedo gostou de aliar o desporto com os estudos, por essa razão, se não estivesse nos treinos estava em casa a estudar ou ajudar a mãe nos afazeres de casa. Antes de ingressar no Tang Soo Duo tentou a sorte nas modalidades como o futsal, andebol e o voleibol, mas não conseguiu se enquadrar nestas modalidades porque não tinham aquilo que ela procurava.
“Antes de ingressar nesta modalidade pratiquei futsal, andebol e basquetebol mas não me sentia bem nestas modalidades, por mais que eu me entregasse de corpo e alma não conseguia-me identificar naquelas circunstâncias. No Tang Soo Do consegui encontrar aquilo que não encontrava naquelas modalidades, pelo que é uma arte diferente das outras, apesar de ser uma modalidade individual, há mais união em relação as outras”.
Apesar de ser a primeira vez que entrou em contacto com as artes marciais, Sequerane Chidiamassamba, declara que não sentiu nenhuma dificuldade para se adaptar a nova modalidade, pelo que o Tang Soo Do é uma modalidade que reina o espirito de entre ajuda, por isso foi fácil adaptar-se em relação as outras que já havia praticado.
“Tive que vencer o nervosismo para ser campeã do mundo”
Um dos problemas que a nova campeã mundial dos cinturões vermelhos enfrentou durante a prova foi a ansiedade, pelo que era primeira vez que participava num evento do género. “Já participei num Campeonato Africano, mas neste Mundial tive que vencer o medo para poder superar as minhas rivais, porque era a minha estreia neste tipo de torneios, mas graças a ajuda dos meus treinadores e colegas consegue esvaziar a minha mente e me concentrar apenas competição”.
O significado do primeiro lugar no Mundial
Não é para qualquer um conquistar uma medalha de ouro num Campeonato Mundial, seja para qualquer modalidade. A tangsudoca da Associação moçambicana de Tang Soo Do conseguiu conquistar três medalhas de ouro nas seguintes categorias: exibição das técnicas de combate, exibição das técnicas de combate com e instrumentos e nas provas de combate. O que fez dela a campeã mundial nos cinturões vermelhos.
“Este título é o corolário do trabalho que foi levado a cabo durante a preparação para está prova, preparei- -me com o objectivo de dar o melhor pelo que, sabia que ia ombrear com os melhores do mundo, mas graças aos concelhos do meu mestre e dos integrantes da delegação consegui triunfar, por isso este título Mundial apesar de ser individual também pertence a toda delegação, desde os dirigentes, treinadores e atletas”.
Questionada se não se sentiu magoada por não ter sido recebida por um membro do governo no seu regresso à pátria amada, Secarane disse, “Não é a primeira vez que algo de género acontece em 2012 ocupamos o primeiro lugar do Campeonato Africano e ninguém nos recebeu, por isso não estou surpreendida com isso, vamos continuar a honrar as cores da nossa bandeira”.
O sonho da campeã do Mundo
Sequerane Chidiamassamba que também divide a sua vida desportiva com os estudos, estando no presente a frequentar o terceiro ano na licenciatura em medicina, na Universidade Eduardo Mondlhane, afirma que não se sente uma atleta realizada por ter-se sagrado campeã do mundo, declarando que “Ainda não me sinto realizada, o Tang Soo Do é diferente das outras modalidades, não nos preocupamos muito com os resultados, mas sim aprender a cada dia que passa, por isso ainda falta muito para me sentir uma atleta realizada apesar do titulo Mundial”.
Tem o sonho de se tornar cinturão preto, a mais alta categoria nesta modalidade e abrir a sua própria escola para formar os novos valores na modalidade, porque segundo ela em Moçambique existe atletas talentosos.