O aquecimento global já ocorre há tanto tempo que a maioria das pessoas nem eram nascidas na última vez que a Terra foi mais fria do que a média de 1985, o que está a alterar a percepção do que é um clima “normal”, disseram cientistas. Décadas de mudanças climáticas trazem riscos de que as pessoas passem a aceitar temperaturas mais elevadas, com mais ondas de calor, chuvas torrenciais e secas, como normais, e compliquem os planos do governo de fazer mais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
“Por causa de um aumento tão significativo das temperaturas globais e regionais nas últimas três décadas, a maioria das pessoas com idade inferior a 30 anos não viveram num mundo sem o aquecimento global”, disse `a Reuters Michel Jarraud, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial da ONU (OMM). “Em escalas de tempo humanas, as mudanças no nosso clima podem parecer graduais, por isso, cada vez mais é preciso lembrar ao público sobre o quão rápido e sem precedentes as mudanças realmente são”, disse Jarraud.
Fevereiro 1985 foi último mês em que as temperaturas globais estiveram abaixo da média do século 20, de acordo com a National Oceanic and Atmospheric Administration dos Estados Unidos (NOAA), a principal fonte de dados globais de temperatura.
Enquanto isso, a idade média estimada da população mundial em 2014 é de 29,4 anos, ou seja, metade da população é mais velha que isso, e a outra metade, mais nova, disse François Pelletier da Divisão de População da ONU à Reuters.
“As pessoas tiveram que acostumar-se com a mudança contínua no clima”, disse Thomas Peterson, principal cientista do National Climatic Data Center da NOAA e presidente da Comissão de Climatologia da OMM. Algumas outras agências meteorológicas, usando diferentes métodos, apontam para meses mais recentes como os mais frios do que o verificado pela NOAA.
A OMM, que compila dados anuais, diz que 1985 foi o último ano mais frio do que a média. Médias globais passam despercebidas porque os indivíduos experimentam tempo e clima locais –o último inverno foi muito frio em algumas partes da América do Norte, por exemplo. Mas a tendência global de aquecimento é clara.
Peter Thorne, um pesquisador do Nansen Environmental and Remote Sensing Center em Bergen, oeste da Noruega, disse que as pessoas são mais propensas a lembrar-se de eventos climáticos extremos do que notar qualquer aumento gradual das temperaturas. “Ondas de calor, secas e inundações extremas levam mais facilmente a associações com as mudanças climáticas”, disse ele. E as mais extremas podem, por sua vez, pressionar os governos a agir.
Quase 200 governos concordaram em trabalhar por um acordo para desacelerar o aquecimento global em uma cúpula em Paris, que vai acontecer no final de 2015, principalmente por meio da redução das emissões de gases de efeito estufa de carros, usinas de energia e fábricas. Governos se comprometeram a limitar o aquecimento a menos de 2 graus Celsius acima do período pré-industrial – as temperaturas médias já subiram cerca de 0,8 grau Celsius.