Gregório Basílio, de 12 anos de idade, nasceu com as pernas atrofiadas, facto que o impede de se locomover. Residente no posto administrativo de Imala, distrito de Muecate, na província de Nampula, o desejo do petiz era poder deslocar-se pelo recinto da sua residência sem a ajuda dos seus parentes. Recentemente, o rapaz venceu uma batalha, ao obter uma cadeira de rodas, o que vai tornar possível a realização do seu sonho de infância: ir à escola.
Além de deficiente físico, Gregório é órfão de pais e vive com uma das suas irmãs que garante o sustento diário do seu agregado familiar, socorrendo-se da actividade agrícola. De acordo com Arlindo Francisco, um dos parentes do rapaz, devido à distância que separa a sua residência da escola, nenhum membro da família se oferecia para acompanhar o petiz nesse percurso de aproximadamente 13 quilómetros.
Durante os 12 anos, a sua vida foi marcada por inúmeras privações. “Levámo-lo a diversas unidades sanitárias do distrito com vista a obter uma cadeira de rodas, mas não tivemos sucesso. Por conta disso, ele ficava isolado. O máximo que fazíamos era acompanhá-lo até à casa de banho”, disse Francisco.
O nosso interlocutor conta-nos ainda que a vida do petiz se agravou quando os seus progenitores perderam a vida em 2013, vítimas de doença prolongada. Antes da morte dos pais, fez-se de tudo para que o menor pudesse realizar o sonho de ter uma cadeira de rodas, mas a falta de dinheiro frustrou o desejo.
Nos primeiros anos de vida, os técnicos do Hospital Distrital de Muecate teriam aconselhado os pais de Gregório a que o levassem até à capital provincial, onde seria observado pelos médicos do Hospital Central de Nampula a fim de darem prosseguimento aos tratamentos, o que não veio a acontecer devido à falta de fundos. “Antes da morte dos progenitores, tentámos pedir apoio ao governo local, mas não houve uma resposta satisfatória”, sublinhou Francisco.
Porém, quando foi feito o levantamento dos deficientes físicos sem condições para a aquisição de cadeiras de rodas, um trabalho levado a cabo pela organização não-governamental, Visão Mundial – Moçambique, através da sua Área de Desenvolvimento de Imala, a família do pequeno Gregório passou a acreditar num eventual milagre. A família sentiu um alívio quando foi solicitada a levar o petiz a uma Feira de Saúde realizada, recentemente, naquele ponto do país.
No local, Gregório ganhou uma cadeira de rodas. “Foi uma grande satisfação para nós, pois agora ele já conta com um meio de locomoção. Ele já pode passear à vontade”, disse o irmão do menor. Com a cadeira de rodas, o petiz já pode realizar o sonho de ir à escola.
O menor precisa de acompanhamento psicológico
André Mandabwé, médico-chefe do distrito de Muecate, assegurou que, com algum acompanhamento de psicólogos, o pequeno Gregório poderá ter dias melhores e prosseguir os estudos, de forma natural, à semelhança de outros petizes.
Segundo aquele profissional da Saúde, devido ao tempo em que o petiz ficou sem se poder locomover, ele poderá, eventualmente, sofrer alguns traumas psicológicos. Mandabwé afirmou que a deficiência contraída por Gregório poderá estar associada ao consumo de alguns tubérculos venenosos pela mãe na altura da sua gravidez ou ao uso de medicamentos tradicionais não recomendáveis pelos serviços de Saúde.
Aquele responsável disse que o seu sector, no âmbito da parceria com a Visão Mundial, vai prosseguir com a promoção de acções que tendem a aproximar cada vez mais as comunidades dos locais adequados ao tratamento médico.
O nosso interlocutor referiu ainda que, neste momento, decorrem acções de sensibilização para que as mães levem os seus filhos aos postos de saúde para as consultas pré-natais como forma de evitar que mais crianças nasçam com deficiência física.
“A falta de assistência médica logo à nascença do Gregório pesou para que ele permanecesse deficiente até aos dias de hoje. Devido aos problemas culturais, muitos pais preferem levar os seus filhos aos curandeiros em detrimento das unidades sanitárias, e só procuram os serviços de Saúde quando o problema se torna grave”, sublinhou o médico.
Mais crianças poderão beneficiar de cadeiras de rodas em Imala
De acordo com Adelino João, coordenador da Área de Desenvolvimento de Imala, na Visão Mundial – Moçambique, nos próximos dias, mais crianças daquela parcela do país, que vivem em extrema pobreza, vão beneficiar de cadeiras de rodas. O nosso entrevistado disse ainda que, presentemente, foram identificados alguns petizes com problemas de locomoção e que não dispõem de fundos para a aquisição daqueles meios, para que possam ser contemplados como forma de minimizar o sofrimento por que passam.