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Toma que te dou: A palavra e os carrascos

E todas as suas palavras são esmagadas. Cada sílaba que ele burila é colocada na balança pelos carrascos, que depois a vituperam. Estão sempre na contramão, prontos para fazer colidir e destruir o carrocel das parábolas. É vigiado pelas hienas que, na sua estupidez, esperam, ao longe, pela queda dos braços que baloiçam ao longo do corpo desse elegido.

É um homem próspero, no sentido de que a riqueza que acumula lhe desce até ao espírito, espalhando paz, contrariamente aos que almejam o poder para subjugar o próximo. Caminha sempre à claridade da luz, sem subterfúgios. Desdenha as penumbras e, mesmo descendo pelas sombras da morte, não teme. O que mais o sublima é a sua capacidade de frequentar as multidões. Ou seja, não sofre de parafobia. Tem fala poderosa. Perfurante. Dança abertamente contra o fogo que projecta as labaredas para os seus olhos.

E quando calcinam as palavras que lhe saem da boca ponderada, cria outras, mais fortes ainda. Navega no mesmo barco de Noa, rindo-se daqueles que, em mariposa e bruços e costas e livres, nadam em desespero no mar que lhes vai engolir. Tem nas mãos o poder de David que vai pôr em derrocada o aparato de Golias. Também está investido da avassaladora força para arrebentar as grades de Faraó e libertar os filhos de Israel.

Na verdade, as suas palavras são desviadas por eles. Mesmo estando no seio da multidão ninguém o vê, como ninguém viu Jesus caminhando vitoriosamente para a Galileia após a Sua ressurreição. Os poderosos têm medo dele. É por isso que atiram cinza e lama para calar aquilo que é clarividente e irreversível. E ele continua a reverberar. Já quis lembrar aos ilustres que Thomas Sankara não tem razão, nunca teve, ao dizer que “o poder não se oferece, arranca-se”.

Já cantou hinos de celebração nos palanques e nas ruas e nas calçadas onde se bebe a rodos, tentando demover os ambiciosos, mas ninguém lhe deu ouvidos. Vestiu o mapiko e o nyau e a timbila para cantar o amor e a reconciliação e, em resposta, teve o rosnar dos verdugos. Mesmo assim não vacila. Acredita na palavra. Transformada em sismo nos seus discursos premonitórios que se vão repetindo na boca dos desfavorecidos.

Mais do que embevecer os detentores da fé, ele estimula a reputação da testosterona dos arautos da paz. Fala contra os digladiadores da estabilidade e da harmonia. Recoloca as pontes em todo o lado onde elas foram destruídas. Derruba as paredes dos gananciosos. E faz-lhes lembrar que todos nós precisamos do mesmo sol para vermos o caminho e aquecermos os nossos corpos nos dias de frio.

É isso. Ele fala com poder, mesmo não estando no poder. E os que estão no poder tremem nos falsos fundamentos quando ouvem esta voz cataclísmica. Compram mais armas para matar os seus próprios irmãos. Os seus próprios filhos. Os seus próprios pais. E não sabem que toda essa insensatez voltará contra as suas cabeças.

Não há nada que o demova. Veste as alparcas de Abrahama e caminha no deserto onde vai implantar vários oásis até se transformarem em floresta cheia de rios. Não se importa que o matem. Porque sempre que o matam ele refocila. Para gáudio da paz e da consonância.

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