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João Chissano: “Temos de estar na fase de grupos de apuramento ao CAN-2015”

João Chissano: “Temos de estar na fase de grupos de apuramento ao CAN-2015”

Depois de participarem na última edição do Campeonato Africano de Futebol para jogadores internos (CAN-Interno), entre os meses de Janeiro e Fevereiro últimos, os “Mambas” iniciaram mais uma caminhada rumo à maior prova futebolística do continente negro, o CAN “regular” de Marrocos que terá lugar no próximo ano. João Chissano, seleccionador nacional, decidiu abrir o seu “livro de estratégias” numa entrevista cedida ao @Verdade, em que se predispôs a apurar a equipa de todos nós à fase de grupos de qualificação para aquela importante competição, depois de ter participado pela última vez em 2010. Contudo, o seu contrato de trabalho é válido até ao próximo dia 31 de Julho.

Jornal @Verdade (@V) – Como é que se sente depois de os “Mambas” golearem o Sudão do Sul por 5 a 0, na tarde de último domingo (18)?

João Chissano (JC) – Sinto-me orgulhoso e satisfeito, sobretudo por ter devolvido a alegria ao povo moçambicano. A minha maior alegria reside no facto de o público ter vibrado com os golos. Igualmente, este é um resultado que nos permite viajar tranquilamente para Cartum, no jogo da segunda “mão”.

@V – Mesmo não conhecendo o adversário, afirmou, ao longo da semana passada, que iria montar uma equipa ofensiva, dominante e que iria marcar muitos golos. Esse objectivo foi alcançado. Como é que tornou isso possível?

JC – Nós jogávamos em casa. E estando nesta condição, era nossa obrigação mandar no jogo, ter a maior posse de bola e marcar golos. Montámos uma estratégia visando pressionar o adversário em toda a largura do campo, de modo a não ter iniciativas de ataque, bem como recuperar rapidamente o esférico com vista a concretizar os nossos objectivos. É importante perceber-se que a nossa filosofia de trabalho foi desenhada com a finalidade de derrotar o Sudão do Sul com um resultado expressivo. Os jogadores conseguiram materializar tudo o que nós pretendíamos e estão de parabéns por isso, pois mostraram muita capacidade e competência na interpretação das nossas concepções.

@V – Os atletas estavam muito alegres. Houve algum trabalho psicológico específico antes da partida?

JC – Não houve nenhum tipo de trabalho específico. A alegria que vocês viram espelha a nossa maneira de trabalhar. A nossa filosofia de treino faz com que o contentamento emirja por si só, ou seja, de forma involuntária. O nosso método de preparação activa a criatividade e a tranquilidade dos atletas. Motiva os jogadores a enfrentarem qualquer adversário.

@V – Esta vitória “gorda” inicia uma nova era de João Chissano no comando da selecção nacional?

JC – Não de João Chissano, pois a minha era iniciou há seis meses quando fui nomeado seleccionador nacional. Esta vitória simplesmente deu arranque a uma nova campanha da selecção que vai culminar com o apuramento ao CAN de Marrocos.

@V – Estaremos no CAN-2015?

JC – Nós queremos estar lá. Porém, não podemos prometer para depois não cumprir. Sempre digo que no futebol tudo é possível. E se for para estarmos no CAN, quero que seja por mérito próprio, isto por um lado. Por outro, é preciso compreender que o apuramento de Moçambique para a fase final não depende apenas dos treinadores ou dos jogadores, mas também do envolvimento de outros intervenientes como são os casos da federação, do Governo e do próprio público. É importante que todos estejamos unidos em volta desta selecção que é de todos nós.

@V – Constituirá um fracasso, caso a nossa selecção não se apure à fase final do CAN de Marrocos?

JC – Há muitas selecções que lutam por este objectivo. Não estamos sozinhos neste combate. E como é óbvio, há países que não se vão apurar e eu não creio que isso signifique fracasso. É preciso ser humilde e saber respeitar os adversários, sem descurar que o nosso principal objectivo é chegar à fase de grupos de qualificação. Ir ao CAN é uma missão espinhosa. A priori estaremos inseridos num grupo de selecções que estiveram presentes na última edição desta prova e com um futebol mais vistoso do que o nosso, como são os casos da Zâmbia, que até foi campeã africana há dois anos e de Cabo Verde que esteve com um pé dentro da fase final do Campeonato do Mundo. Mas, para todos os efeitos, fracassar seria não estar na fase de grupos de qualificação, que é o verdadeiro lugar de Moçambique.

@V – Depois desta goleada, quais são as palavras que tem a dizer ao povo moçambicano?

JC – Desta selecção, o público deve esperar muita determinação e a crença que sempre transportou para o campo, aquela que faz muitos acreditarem que ela está realmente a trabalhar para ganhar. Mas, acima de tudo, quero que todos confiem no nossoalto sentido de patriotismo,na medida em que representar uma nação e envergar a camisola de um país é algo ímpar. Nós queremos dar mais alegria a todos aqueles que nos apoiam de verdade.

 

“Ainda não renovei o meu contrato de trabalho”

@V – Qual é a situação contratual de João Chissano?

JC – Eu ainda não renovei o meu vínculo contratual com a Federação Moçambicana de Futebol. O mesmo expira a 31 de Julho próximo. Recentemente recebi uma carta e penso que ainda nos vamos sentar à mesa para conversar.

@V – Ainda assim, iniciou uma nova campanha competitiva. Qual é o objectivo definido pela federação?

JC – Até agora não me pediram nada. Como equipa técnica, nós somos obrigados a levar esta selecção até à fase de grupos de apuramento para o CAN de Marrocos, pois sentimos que temos a capacidade de ombrear e de vencer qualquer adversário que nos possa aparecer à frente. Este é o nosso compromisso, dos jogadores e de todo o povo moçambicano.

“Não é fácil falar de rejuvenescimento da selecção nacional”

@V – Numa altura em que se fala bastante do rejuvenescimento dos “Mambas”, sente que alcançou este objectivo?

JC – Não é fácil rejuvenescer uma selecção nacional, sobretudo numa altura em que não se vislumbram grandes diferenças entre os mais novos e os mais adultos. É certo que estamos a renovar a equipa, mas de uma forma paulatina, na medida em que vamos convocando, no máximo, três jovens para cada confronto. Mas, de uma forma geral, esses jogadores que são chamados para a selecção têm demonstrado alguma qualidade, sempre de acordo com as nossas exigências.

 

“Ter jogadores no estrangeiro pode não ser benéfico”

@V – Quando assumiu o comando da selecção nacional, formou um conjunto basicamente constituído por jogadores que militam no Moçambola. Essa medida teve em vista, igualmente, a qualificação e a participação no CAN-Interno. Actualmente, as opções vêem do estrangeiro. Isto não baralha a filosofia de trabalho da equipa técnica?

JC – A nossa abordagem de jogo é sempre a mesma. Nada alterou com a vinda de jogadores que militam em clubes estrangeiros, apesar de que eles têm a obrigação de provar que realmente são bons e que merecem a nossa confiança. Internamente demonstrámos a nossa qualidade com o apuramento ao CAN-Interno. Agora é a vez dos que jogam fora levar esta selecção à fase final do CAN de Marrocos.

@V – Até que ponto é benéfico para os “Mambas” ter jogadores moçambicanos no estrangeiro?

JC – Ter apenas jogadores no estrangeiro pode não ser benéfico. Mas tê-los a jogar, como tem acontecido actualmente, é saudável, na medida em que constituem uma mais-valia para a selecção, pois estão a competir em países onde o futebol é mais evoluído. Por outro lado, não restam dúvidas de que eles conseguem motivar os restantes companheiros a darem sempre o melhor pela equipa.

 

“O nosso modelo de jogo depende da característica do futebol moçambicano”

@V – Qual é o modelo de jogo da nossa selecção nacional?

JC – Em princípio é ter a bola no pé dos jogadores e saber controlá-la durante os noventa minutos; fazer transições rápidas da defesa para o ataque em função dos atletas velozes que temos; procurar explorar no máximo a baixa estatura que caracteriza o nosso conjunto, factor que nos permite jogar com alguma fluidez ao ataque, bem como pressionar o adversário, dependendo da sua qualidade, de modo a recuperar a posse do esférico.

@V – Por norma, a disposição táctica e o respectivo modelo de jogo das selecções nacionais inspiram-se no clube que mais se destaca a nível interno. Isto acontece também em Moçambique?

JC – Podemos estar errados, mas o nosso modelo de jogo, a nível da selecção, responde ao que julgamos ser a principal característica do futebol moçambicano. Caso não seja, então não foge muito disso, considerando que nós, como equipa técnica, fomos jogadores e treinadores de alguns clubes deste país. Nós vamos também ao encontro das particularidades dos jogadores, procurando sempre potenciar a qualidade dos mesmos, dentro deste modelo que consideramos ser o espelho da nossa forma de ser e de estar.

 

“Algumas vozes críticas calaram-se”

@V – Há vozes que se levantaram contra João Chissano, sobretudo no que diz respeito às escolhas e a algumas decisões técnicas. Algumas pertencem aindividualidades proeminentes na área do desporto. Tem conhecimento disso?

JC – Eu não tenho conhecimento de figuras públicas que me criticam. Se calhar o jornalista pode apontar algumas para que eu possa dar uma resposta mais concreta.

@V – Muitas estão “refugiadas” nas redes sociais.

JC – Eu não me preocupo muito com o que as pessoas dizem. Isso não influencia o meu trabalho, embora respeite a opinião dessas pessoas. O que eu gostaria, no fundo, é que essas vozes valorizassem aquilo que eu tenho vindo a fazer como treinador da selecção nacional. Eu jamais diria que o juízo dos comentadores está errado, nem censurar. Eles são livres de se expressar, até porque só se critica quem trabalha. Para uns estamos a fazer as coisas mal, para outros bem, sendo que para alguns não estamos a fazer absolutamente nada. Há que respeitar tudo isso, pois estamos expostos a esse tipo de comentários, mas desde que se respeite a dimensão humana de cada um.

@V – Durante este período em que está no comando da selecção nacional, alguma vez se sentiu incomodado, seja pelas críticas, seja pelo não surgimento de resultados desportivos?

JC – Nunca, embora algumas pessoas tenham levantado vozes contra mim. Há aquelas que falaram no princípio mas que acabaram por se calar. Há outras que me criticaram posteriormente, mas que depois amainaram. Mesmo assim, não senti nenhum mal-estar, até porque há muitos amantes do futebol que me dão total apoio, força, carinho e que sobretudo estão satisfeitos com o nosso trabalho.

 

“Algum clube terá as portas abertas”

@V – Entendemos que o trabalho de um seleccionador não é perpétuo. O que será de João Chissano depois de sair do comando dos “Mambas”?

JC – Eu querocontinuar na selecção nacional. Mas se não puder, futuramente verei o que é melhor para mim. Eu sou um treinador profissional. Hoje estou aqui, mas amanhã poderei estar noutro sítio. Contudo, tenho a certeza absoluta de que uma porta se abrirá para me receber quando o meu trabalho com os “Mambas” chegar ao fim. Moçambique X Marrocos

@V – Nesta sexta-feira (23), os “Mambas” defrontam o Marrocos em partida amigável no Algarve, em Portugal. Qual é a estratégia preparada para este confronto?

JC – Queremos dar um pouco mais de rodagem a alguns jogadores. Tratando-se de uma partida de carácter amigável, teremos de fazer seis substituições de modo a dar minutos internacionais aos atletas. Será uma grande oportunidade para estarmos ainda mais unidos, formar um grupo bastante coeso e forte com vista os desafios que se seguem.

@V – Que país João Chissano gostaria de defrontar na última eliminatória: o Zimbabwe ou a Tanzânia?

JC – Independentemente do adversário que se segue, o trabalho de preparação que faremos será o mesmo que foi realizado para o confronto contra o Sudão do Sul. Vamos continuar empenhados na materialização do nosso modelo de jogo, embora as duas selecções sejam, praticamente, mais fortes do que os sudaneses. Vamos proteger a nossa zona defensiva, privilegiando um trabalho conjunto para que tudo saia conforme o esperado.

Na partida que faremos em casa, tentaremos não sofrer golos para não dificultar esta eliminatória. No que diz respeito à minha preferência, acho que qualquer um,destes dois países, será devidamente respeitado. Nestas coisas de futebol tudo é possível. Será uma grande oportunidade para estarmos ainda mais unidos, formar? um grupo bastante coeso e fortecom vista os desafios que se seguem.

“O futebol moçambicano está estagnado”

@V – Qual é a avaliação que faz do futebol moçambicano na actualidade?

JC – A nível dos campeonatos internos e por aquilo que são as exigências dos moçambicanos, o nosso futebol está estagnado. O público merece melhor espectáculo do que aquele que lhe é proporcionado actualmente. Mas isso não é só no desporto. Acontece nas diversas áreas sociais. Há muitas coisas que não eram aceites no passado e que actualmente são toleradas. Os nossos jogadores fazem parte desta sociedade que perdeu alguns valores e princípios morais.

@V – Em 2013, o nosso país registou uma entrada desusada de treinadores estrangeiros. Em 2014, as coisas foram diferentes. Sente que o nosso futebol mudou alguma coisa com a chegada destes profissionais?

JC – Eu acho que não mudou muita coisa. Eu gostaria que eles acrescentassem mais conhecimentos ao nosso futebol, para que as coisas mudem completamente de figura. Infelizmente, mesmo com a vinda destes profissionais estrangeiros, nós não estamos a dar aquele salto desejado na medida em que, para mim, aquilo que eles oferecem ainda não é o que se pretende para melhorar a qualidade do nosso campeonato nacional. Por exemplo, queremos que o Moçambola seja bastante competitivo na zona do topo da tabela classificativa e não do meio para baixo, como acontece nos dias que correm.

@V – É verdade que o apuramento dos “Mambas” ao CAN-Interno deveu-se à qualidade do nosso campeonato interno?

JC – Nós conseguimos o apuramento ao CAN-Interno porque estivemos melhor do que os nossos adversários, nomeadamente a Namíbia e Angola. Muitas vezes, o futebol é feito no momento, que é o que aconteceu nas eliminatórias e não em função do campeonato que temos.

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