O Clube Ferroviário de Nampula assumiu a liderança isolada do Campeonato Nacional de Futebol, em virtude de ter derrotado, fora de casa, o Têxtil de Púnguè. No derby da segunda jornada, o Ferroviário de Maputo e a Liga Muçulmana empataram a um golo, enquanto em Chibuto houve a primeira “chicotada psicológica” da época.
Motivada por ter goleado o Clube de Chibuto no jogo inaugural, a Liga Muçulmana entrou dominante e soube manter o seu habitual estilo de circulação de bola, construção de jogadas a partir do meio-campo e cruzamentos venenosos para o interior da grande área adversária. O Ferroviário de Maputo, a jogar em casa e diante do seu público, entrou também com o propósito de conquistar os três pontos, ainda que “amarrado” no contra-ataque.
Com Luís abaixo da sua forma, a objectividade locomotiva esteve sob a responsabilidade de Andro e Diogo. A primeira oportunidade de golo pertenceu aos donos da casa, à passagem do minuto cinco, quando o zimbabweano Andro disparou ao lado, a centímetros de um dos postes de Milagre. Com o seu futebol paciente e pouco objectivo, ainda que dominantes no meio-campo, os muçulmanos responderam no minuto a seguir com um tiro de Imo que passou por cima da baliza de Pinto.
Com o confronto repartido em termos de lances de ataque, Victor Pontes foi ousado ao tentar implementar uma táctica que nunca funcionou, há mais de um ano, em qualquer equipa que defronta a Liga Muçulmana. No lugar de exigir a ocupação de espaços, de modo a anular a criação de jogadas de ataque, aquele técnico português tentou ele mesmo controlar o meio-campo, ou seja, jogar como o adversário.
O que não sabia, se calhar, foi que não reunia uma máquina capaz de deter o trio Momed Haji, Imo e Liberty. Tchitcho e Timbe não duraram como médios centros e o Ferroviário rapidamente voltou à disposição inicial, jogando com dois trincos e um “aventureiro”. Sempre no contra-ataque e na esteira da objectividade, o Ferroviário de Maputo criou a melhor oportunidade de golo perto do primeiro quarto de hora do jogo, um período normalmente reservado ao estudo do adversário. Ao interceptar o passe de Gildo, Andro iniciou uma jogada rápida de ataque e ele mesmo se encarregou de dar um desfecho ao lance, desferindo um portentoso remate para o poste esquerdo de Milagre.
Devido à inoperância de Kito como extremo esquerdo, algo a que fizemos referência na semana passada, Liberty viu-se obrigado a sair da zona intermediária para desempenhar as funções de avançado naquele corredor. Recebeu a bola do próprio Kito, um pouco mais atrasado e, perto da linha de fundo, cruzou para Sonito que atirou para as mãos de Pinto.
Estavam jogados 20 minutos da primeira parte. O atrevimento de Sérgio Faife Matsolo, que estranhamente colocou Naftal a jogar como defesa direito, quase que penalizava a Liga, à passagem da primeira meia hora. Diogo não se esforçou muito para ultrapassar aquele lateral, ganhando, por conseguinte, um corredor para visar a baliza de Milagre. Pecou ao optar pelo passe a Luís que, sem marcação, rematou ao lado.
O comboio voltou a apitar na baixa do Infulene, na sequência de um pontapé de canto apontado por Andro. Novamente sem marcação, muito por culpa da inexperiência de Naftal, Gabito falhou o alvo ao atirar a bola para fora das quatro linhas. Cinco minutos mais tarde, ou seja, a quatro do fim da partida, o Ferroviário de Maputo, finalmente, chegou ao golo. Naftal travou ilegalmente o avanço de Andro, dentro da grande área, e Gabito converteu a penalidade. Na verdade foi o primeiro tento daquele central ao serviço da locomotiva nesta temporada.
Liga Muçulmana empata na etapa complementar
Manifestamente insatisfeito com a produção da equipa, Sérgio Faife Matsolo decidiu corrigir os erros que não deveria ter cometido durante a primeira parte, tirando Naftal do campo e colocando, no seu lugar, Bhéu. Substituiu também Muandro por Nando na zona do ataque. Victor Pontes, na esteira do adágio desportivo “em equipa que ganha não se mexe”, decidiu manter os onzes jogadores do início da partida.
Neste período complementar, mercê da descaracterização dos muçulmanos, que pretendiam chegar ao golo a qualquer custo, o Ferroviário teve uma maior posse de bola. No minuto 47, Gildo tentou sair com a bola colada ao pé mas, diga-se, a pressão de Luís fez com que o central a perdesse, tendo o avançado locomotiva falhado na hora de finalizar o lance.
À entrada dos últimos trinta minutos, a partida perdeu consideravelmente qualidade, factor que se reflectiu na quantidade exagerada de passes errados e poucas visitas às duas balizas. No minuto 60, Timbe ganhou uma disputa de bola com Bhéu e cruzou para o interior da pequena área, surgindo Milagre a fazer o corte com a ponta dos dedos. Na sequência desta jogada, os muçulmanos reclamaram uma grande penalidade não assinalada por Mateus Infante. Num movimento que partiu da direita para o centro, Nando passou por Barrigana e foi violentamente travado por Chico, no interior da grande área. O árbitro entendeu que houve uma simulação e exibiu uma cartolina amarela ao avançado.
Depois do remate de Inocent para uma defesa com os punhos de Milagre, Jerry, que entrou a substituir Liberty, isolou Sonito que, atrapalhado, desferiu um remate fraquíssimo para as mãos do guarda-redes Pinto. Estavam disputados 70 minutos. Quando o jogo caminhava a passos galopantes para o seu término, Victor Pontes decidiu tirar do campo Diogo, introduzindo Mabucho, numa manifesta declaração de intenções de que o Ferroviário não pretendia mais golos. E porque a locomotiva não queria mais, a Liga não desistiu e, a seis minutos dos 90, empatou. Sonito converteu com eficácia a grande penalidade que surgiu como castigo por Chico ter usado a mão para desviar a bola no interior da grande área.
O semáforo do jogo
Verde: Andro
O zimbabweano foi, quanto a nós, a melhor unidade em campo. Foi o mais produtivo entre os jogadores da equipa locomotiva. Este extremo veio acabar com a “Diogodependência” do Ferroviário de Maputo, naturalmente dando mais qualidade ao ataque da equipa. Ao lado de Timbe causou muitos calafrios aos defesas contrários. A cada ataque dos muçulmanos, Andro auxiliava nas acções defensivas. Reduziu Naftal à sua própria inexperiência e provou que Bhéu precisa de tempo, como defesa, para parar avançados de grande nível.
Laranja: Kito
Nunca iremos perceber as razões que levam Sérgio Faife Matsolo a colocar Kito como extremo direito da Liga. Aquele jogador, com qualidades de médio centro, ainda que a desempenhar bem as funções de lateral quando joga adaptado, é avançado desde o arranque do Moçambola. Contra o Chibuto deixou um vazio enorme no lado direito do ataque dos muçulmanos e, nesta semana, voltou a jogar da mesma forma. Em 180 minutos de jogo, Kito pediu sempre o auxílio de Liberty para dar intensidade às jogadas naquele flanco. Reconhecemos que ele é muito bom nas intervenções defensivas, até porque, com Litos Carvalha, antigo treinador da Liga, jogava como lateral direito.
Vermelho: Naftal
Nós até podemos criticar Naftal pela fraca exibição durante os 45 minutos em que esteve em campo contra o Ferroviário de Maputo. Mas, manda a verdade dizer que o maior culpado pela desfalecida actuação daquele defesa é o treinador Sérgio Faife Matsolo, quem fez a escolha. Não restam dúvidas de que Naftal precisa de muitos minutos para ganhar experiência. Mas isso não pode prejudicar, em momento algum, a Liga Muçulmana. Este defesa merece o mesmo tratamento que é dado a Jerry Sitoe, ou seja, entrar nos últimos minutos de um jogo.
Ferroviário de Nampula no topo da tabela classificativa
A locomotiva da capital do norte é a única equipa invicta neste Moçambola, quando já foram disputadas duas jornadas. Depois de vencer o Estrela Vermelha da Beira, por 2 a 1, o Ferroviário de Rogério Gonçalves viajou até à cidade da Beira para derrotar os fabris da Manga. Depois do nulo registado nos primeiros 45 minutos, Tony marcou de cabeça o tento que deu os três pontos aos forasteiros, quando haviam decorrido 31 minutos da segunda parte. O Ferroviário de Nampula soma seis pontos e está a dois de um grupo de cinco equipas, todas com quatro.
João Eusébio demitido!
A direcção do Clube de Chibuto decidiu rescindir o contrato com João Eusébio, treinador principal daquela colectividade, volvidas apenas duas jornadas da prova. Nas mãos daquele técnico português, os “guerreiros” não venceram nenhuma partida oficial e, no último domingo (30), perderam em casa diante do Maxaquene. Até ao fecho desta edição, o @Verdade não tinha ainda confirmado a notícia oficiosa que dava conta da saída de António Sábado do comando técnico do Têxtil de Púnguè.