A líder da oposição birmanesa, Aung San Suu Kyi, foi indiciada nesta quinta-feira por ter violado as normas de sua prisão domiciliar, uma semana depois do anúncio por Yangun da visita em sua casa de um americano que cruzou um lago a nado para se reunir com ela.
O julgamento da Prêmio Nobel da Paz neste inusitado caso começa na próxima segunda-feira na penitenciária de Insein em Yangun, informou o advogado de defesa, mas diplomatas ocidentais consideraram que o regime militar agora tem um pretexto para manter Suu Kyi presa.
A ordem de prisão domiciliar de Suu Kyi, de 63 anos, expirava em tese em 27 de maio. O regime militar do general Than Shwe prevê a organização no próximo ano de eleições nacionais dentro de um processo controverso, que o dirigente pretende controlar do início ao fim. As medidas de segurança foram reforçadas nesta quinta-feira ao redor da residência de Suu Kyi, que foi privada da liberdade durante mais de 13 dos últimos 19 anos. Um comboio policial que transportava a opositora deixou a residência de Suu Kyi pouco depois da madrugada para se dirigir à prisão de Insein. Horas mais tarde, o advogado Hla Myo Myint anunciou que as autoridades indiciaram Aung San Suu Kyi e suas duas empregadas domésticas, conforme a cláusula 22 da lei que protege o estado dos perigos relacionados a elementos subversivos, lei pela qual a opositora foi colocada sob regime de prisão domiciliar desde 2003.
As três mulheres podem ser condenadas a até cinco anos de prisão, segundo o advogado. Por sua vez, o americano John Yettaw, de 53 anos, detido semana passada por ter estado na casa de Suu Kyi, foi indiciado nesta quinta-feira por ter violado as regras de imigração e uma lei sobre segurança, informou ainda o mesmo advogado. Ele também compareceu à corte da penitenciária de Insein.
Aung San Suu Kyi, cujo estado de saúde vinha gerando vivas preocupações até segunda-feira, não poderá voltar para casa e permanecerá detida em um prédio especial dentro do complexo de Insein, indicou seu principal advogado, Kyi Win. Este advogado, muito próximo a Suu Kyi, responsabilizou John Yettaw pela situação e afirmou que a opositora havia pedido que deixasse sua casa. Semana passada, Kyi Win disse que o intruso era um “aventureiro” que agiu por vontade própria e, nesta quinta-feira, chamou-o de “imbecil”.
Há uma semana, o regime militar havia anunciado a detenção de John Yettaw, nascido em Detroit (Michigan) e residente em Falcon (Missouri). Segundo as autoridades, ele chegou a nado à casa de Aung San Suu Kyi, localizada perto de um lago, onde ficou dois dias. “Precisamos pressionar por todos os meios para que Aung San Suu Kyi seja libertada, assim como os 2.000 prisioneiros políticos que estão nas prisões birmanesas”, disse o enviado especial da União Europeia para Mianmar, o italiano Piero Fassino, acrescentando que “não há nenhuma justificativa para a nova detenção da opositora”.