A Renamo, o maior partido da oposição, não precisou de reunir os seus órgãos para eleger o seu candidato às eleições presidenciais de 15 de Outubro próximo. Contrariamente às informações que vinham sendo veiculadas, segundo as quais esta figura seria escolhida e anunciada numa reunião nacional, o secretário-geral desta formação política, Manuel Bissopo, revelou ao @Verdade que Afonso Dhlakama, líder da perdiz, que se encontra em parte incerta desde Outubro do ano passado, iria concorrer pela quinta vez consecutiva.
Segundo Bissopo, Afonso Dhlakama vai, muito em breve, sair do local onde se encontra, até agora desconhecido, e recensear-se para poder participar, como candidato presidencial, nas eleições. Entretanto, segundo a Renamo, tal depende de um “cessar-fogo” entre o seu braço armado e as Forças de Defesa e Segurança alegadamente para que o seu líder regresse em segurança à vida política e pública. Com efeito, este partido tem já constituídas, em todas as províncias do país, brigadas centrais de preparação das eleições presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais.
Como parte do seu trabalho no âmbito dessa preparação, as brigadas têm a responsabilidade de informar os seus militantes sobre a aprovação da proposta de revisão da legislação eleitoral, feita pelo Parlamento, na qual estão reflectidas as suas exigências. “Temos um pacote eleitoral consensual, inclusivo e que dá garantias de que, efectivamente, podemos participar, controlar e opinar à volta dos processos eleitorais”, refere o porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga.
Estas equipas centrais serão posteriormente replicadas a nível distrital, onde devem fazer o trabalho nos postos administrativos, localidades e bairros. A Renamo reitera que participará nas eleições (presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais) marcadas para 15 de Outubro, porque é parte integrante da democracia multipartidária. “Uma democracia que nós escolhemos, na qual o alcance do poder se faz através do voto”, diz Mazanga, e sentencia: a “Renamo já está no terreno e não vamos regressar mais”.
Recenseamento
“Aquele que se sentir excluído tem, agora, onde ir reclamar. Temos nos órgãos eleitorais, nomeadamente a Comissão Nacional de Eleições e o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral, membros da Renamo, da Frelimo, do MDM e ainda da sociedade civil, que farão o controlo para que as pessoas não sejam discriminadas durante o recenseamento, porque a inscrição é a condição sem a qual não se pode votar”, explica Mazanga.
“Boicote às autárquicas foi forçado”
A Renamo continua a reiterar que o boicote às quartas eleições autárquicas, que aconteceram em 53 municípios, não foi opcional, mas forçada na mesa das negociações. “Nós fomos afastados das eleições autárquicas. Nunca foi nosso propósito não participar nas eleições autárquicas. Estávamos convencidos de que estávamos a negociar com pessoas sérias e que iriam entender que a nossa razão seria fundamental para a prossecução de uma democracia inclusiva”, justifica, e acrescenta que “infelizmente, fomos submetidos a manobras dilatórias que culminaram com a nossa exclusão de um processo muito importante para a vida dos moçambicanos”.
Esta força política entende ser fundamental que os candidatos participem em actos eleitorais seguros de que irão enfrentar um processo livre, justo e transparente. “A aprovação da proposta de revisão do pacote eleitoral significa a consecução do equilíbrio nos órgãos eleitorais e da defesa de voto popular. Por isso os militantes da Renamo estão satisfeitos. Não foi nos moldes que nós defendíamos. Não é ideal, mas é o que foi possível trazer da mesa de negociações”.
Diversidade política não deve significar eliminação do outro
Condenando os ataques armados, que considera serem protagonizados para assassinar o seu líder, Afonso Dhlakama, o porta-voz da Renamo disse que o mesmo está vivo e que, mais uma vez, tinha resistido às investida das forças governamentais. Mazanga fala de obuses de canhões B11 que supostamente têm sido disparados no distrito de Gorongosa, num raio de 20 quilómetros da região onde se supõe que esteja o líder do partido.
“Apelamos aos nossos irmãos do Governo para perceberem que a diversidade política não deve ser antagónica. Antagonismo implica que na presença de um, tem que se eliminar o outro. Nós consideramo-los nossos adversários políticos e temos que os derrotar na mesa de votos e não através das armas”, explica o porta-voz. “Nós não temos as armas como opção, temos as armas como defesa. Nós continuamos a perseguir o desiderato de termos uma democracia multipartidária e estamos felizes porque conseguimos garantir isso através do pacote eleitoral”, acrescentou.
Diante do cenário por si descrito, Mazanga diz que o seu partido está agora preocupado com o cessar-fogo que deverá surgir na sequência do debate do segundo ponto da agenda do diálogo político e que permitirá o regresso em segurança do líder Dhlakama ao convívio social e consequente preparação para a participação nas eleições. “Não queremos fazer trabalho militar, queremos fazer trabalho político”, diz, asseverando que “Renamo e Dhlakama estão prontos para um processo eleitoral bem competitivo”.
Renamo exige libertação dos seus membros
Paralelamente à preparação das eleições gerais de Outubro próximo, a Renamo continua a participar nas sessões de diálogo com o Governo, no qual está em discussão o segundo ponto da agenda: Defesa e Segurança. O Executivo pretende que a Renamo se desmilitarize para que se ponha fim ao actual clima de guerra que se vive nalgumas regiões do país, com destaque para a província de Sofala, e que continua a ceifar vidas.
Por seu turno, a Renamo condiciona o seu desarmamento à libertação dos seus membros, que se encontram detidos em diversas unidades prisionais do país, com destaque para Jerónimo Malagueta, director do Departamento de Informação, em prisão preventiva há cerca de nove meses.
Para além da libertação dos seus membros, que os considera presos políticos, a Perdiz exige a integração dos seus homens (actualmente armados) nas fileiras das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, Polícia da República de Moçambique, Força de Intervenção Rápida e Serviços de Inteligência e Segurança do Estado. Em suma, excepto a libertação dos seus membros, o que a Renamo está a colocar como contrapartida para a sua desmilitarização vinha previsto no Acordo Geral de Paz, assinado na cidade de Roma, Itália, a 4 de Outubro de 1992, e que pôs fim à guerra de 16 anos.