Depois de lograr sucessos incomensuráveis na região centro do país, as campanhas de reparação cirúrgica de fístulas vesicovaginais e recto-vaginais vão, dentro em breve, abranger o sul de Moçambique, garantiram ao nosso Jornal os cirurgiões ligados à matéria, que desde domingo último estão a operar um grupo de 69 mulheres, no Hospital Central da Beira (HCB).
Fístula é a abertura traumática entre o trato urinário e o meio externo, sendo a causa mais comum o trabalho de parto obstruído tendo como consequência o facto de a mulher ficar constantemente a expelir urina, o faz com que as mulheres sejam rejeitadas pelos respectivos maridos, mergulhando, deste modo, na marginalização, uma vez que se pensa que a doença não tem tratamento.
“Noutras palavras, chama-se fístula a um orifício que nunca fecha, que comunica a bexiga com a vagina, ou recto com a vagina, resultando de uma complicação de um parto arrastado fora das maternidades, onde a cabeça da criança fica muito tempo comprimindo os tecidos moles da vagina e da bexiga e bexiga-recto” – explicou Aldo Marchesini, um cirurgião que está a liderar a equipa de profissionais desta área nas operações em curso no HCB.
Os coordenador e coordenador-adjunto do núcleo da campanha de tratamento de fístulas vesicovaginais na zona centro de Moçambique, Armando Jorge de Melo e José António Caetano Dias, respectivamente, e o professor da equipa de cirurgiões, Aldo Marchesini, garantiram na entrevista que a intenção que existe é de uma equipa destes profissionais poder ir trabalhar também nos distritos das províncis de Inhambane, Gaza e Maputo, porque acreditam que naquela região meridional do país existem muitos casos de mulheres com problemas de fístulas vesicovaginais.
“A nossa aposta é expandir as nossas actividades para outras regiões do país, começando pelo sul, de modo a fazermos as campanhas de tratamento daquelas mulheres que sofrem deste tipo de doença”, garantiram os nossos entrevistados, explicando que as operações são feitas no âmbito das medidas que visam evitar a morbilidade materna, segundo a aposta do Ministério da Saúde (MISAU).
Campanha duas vezes por ano
Segundo as fontes, as campanhas de reparação cirúrgica de fístulas vesicovaginais têm sido feitas duas vezes por ano no HCB, para tratamento das mulheres com estes problemas oriundas das províncias de Sofala, Manica e Tete, pois as pacientes da Zambézia são tratadas no hospital de Quelimane, sob a assistência do médico Marchesini.
Para além das campanhas, as operações também são efectuadas nas unidades sanitárias existentes, mas que tenham condições para o efeito. Trata-se de uma iniciativa que decorre neste momento com o apoio material do MISAU. Antes, o programa decorreu com o financiamento da organização italiana denominada Cooperazione Internazionale.
Os nossos interlocutores disseram não possuir informações sobre o número de mulheres com problemas de fístulas vesicosvaginais no país, mas explicaram que, como se sabe, entre os partos, em dez por cento de casos complicados, alguns deles acabam em fístulas vesicovaginais.
“Há uma grande necessidade de se conhecer estes números, porque sabemos que os partos continuam a ser efectuados nas casas, devido a questões tradicionais, onde as parturientes devem esperar a decisão do sogro ou sogra, por isso, o objectivo é fazermos um estudo, para termos uma ideia”, frisou Aldo Marchesini, o qual acrescentou que os resultados ajudariam sobremaneira, pois neste momento para se efectuar uma campanha de cirurgia, o pessoal da Saúde tem de procurar as pacientes.
Dentre as mulheres que têm vindo a ser tratadas, constam algumas que estão com problemas de fístulas vesicovaginais desde o tempo colonial, com idades compreendidas entre 50 e 60 anos. Também existem mulheres de menor idade, rondando os 15 anos, por exemplo, de acordo com a explicação dada pelos nossos entrevistados.
No centro do país, as campanhas iniciaram em 2003, tendo sido operadas mais de 150 mulheres com problemas de fístulas vesicovaginais. “Este número representa as pacientes operadas no HCB, mas, como dissemos, outras mulheres têm sido tratadas nas diversas unidades sanitárias nas províncias que mencionámos” – acrescentaram as nossas fontes.
As operações têm dois objectivos, sendo o primeiro tratar as pacientes e, segundo, formar nesta área cirurgiões, daí que na campanha que decorre no HCB estejam profissionais da Saúde provenientes de Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Tete, Manica e Sofala.