O polémico processo de escolha do candidato da Frelimo que irá concorrer nas próximas eleições gerais, agendadas para 15 de Outubro próximo, chega ao fim esta semana, mas o clima na esfera interna do partido mantém-se aceso.
Faltando poucos dias para o término da tão aguardada reunião do Comité Central para a escolha do tal candidato, os membros da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN) pronunciaram-se sobre a matéria e numa só voz exigiram a entrada de mais pré-candidatos para se juntarem ao já anunciado trio que concorre sob chancela da Comissão Política, nomeadamente o ministro da Agricultura, José Pacheco, o ministro da Defesa Nacional, Filipe Nyussi e o Primeiro-Ministro, Alberto Vaquina.
Os antigos combatentes tomaram a sua decisão durante a III Sessão do Comité Central da ACLLN que durante dois dias os juntou na cidade da Matola e teve como agenda o balanço das actividades realizadas durante o ano passado pela associação e planificar as do ano em curso. Mas, como não deixaria de ser, o assunto sobre o candidato da Frelimo nas próximas eleições gerais mereceu a devida a atenção.
Como se pôde depreender, os “libertadores da pátria” não estão contra os três pré-candidatos propostos pela Comissão Política desta que é a maior força política do país, mas exigem que se respeite o que está estabelecido nos Estatutos do partido. Ou seja, que o Comité Central é o órgão com poder para decidir sobre a escolha de candidato. E, para que isso fique claro, recordaram e sublinharam que a Comissão Política tem o direito, apenas, de propor candidatos, mas a sua eleição cabe ao CC.
A posição defendida pela nata dos antigos combatentes, órgão que integra os chamados “donos da Frelimo” e presidida pelo presidente do partido, Armando Guebuza, segundo a qual deve haver mais pré-candidatos que permitirão o alargamento de leque de escolhas na eleição do concorrente às presidenciais, contraria de forma clara e inequívoca o que vinha sendo propalado pelo secretário-geral do partido, Filipe Chimoio Paúnde, que disse de forma repetida que os três pré-candidatos, até então conhecidos, seriam os únicos a concorrer para a candidatura em nome do partido.
Ele ainda veio a público afirmar categoricamente que não retiraria nenhuma vírgula ao que asseverara, mesmo com as vozes de figuras de peso no partido a mostrarem-se contra. O grupo, do qual fazem parte nomes sonantes da Frelimo, tem a pretensão de encontrar “um candidato que colhe consenso” entre os vários militantes do partido.
“Mas que fique claro que os três não foram reprovados. Nós estamos juntos dos três candidatos, mas aceitamos que haja mais abertura para mais oportunidades, porque queremos que seja um candidato de consenso”, esclareceu o porta-voz da III Sessão do Comité Central da ACLLN que decorreu nos dias 21 e 22, na Matola, Carlos Siliya.
Pré-candidatos: vantagem e desvantagem
O período que separa a escolha do trio de pré-candidatos e dos novos que sairão da sessão do Comité Central entre os dias 27 a 02 do mês em curso revela claramente a posição desvantajosa destes últimos em relação aos primeiros, anunciados há bastante tempo. Refira-se que estes já tiveram oportunidade e tempo suficientes para se apresentarem aos militantes do partido a diferentes níveis, fizeram campanha e apresentaram as suas propostas de modo a garantirem apoio no “dia D”.
Os antigos combatentes não avançaram nomes das possíveis figuras que possam ser integrados nessa corrida que ainda promete muitas surpresas, mas defendem que, mais do que os nomes, o importante é que se observe o que está estabelecido nos Estatutos da Frelimo quanto ao candidato a Presidente da República pelo partido. Apesar disso, estão cientes da situação de vantagem e desvantagem em que cada um dos grupos se encontra e argumentam.
“O importante é que deveríamos seguir o que os nossos Estatuto dizem: que primeiro a Comissão Política propõe (os nomes), mas não dita (…),” vincou Siliya com quase a certeza de que os novos pré-candidatos serão figuras “fortes que não necessitarão de fazer a campanha que os outros fizeram”, por já serem figuras de reconhecido mérito e capacidade.
Reestruturação do secretariado
A situação que se vive no seio de partido que governa o país desde a independência é de grande crispação. Nas eleições passadas, a Frelimo perdeu em quatro grandes municípios e os antigos combatentes atribuem a culpa ao actual secretariado do partido, dirigido por Filipe Paúnde, do qual fazem parte Sérgio Pantie, secretário para a organização do partido, Edson Macuácua, secretário para a Formação de Quadros, Carmelita Namashulua, secretária para os Assuntos Parlamentares e Autárquicos, Carlos Moreira Vasco, secretário para as Organizações Sociais, José Augusto Tomo, secretário do Comité Central para a Área Económica e Damião José, secretário para a Mobilização e Propaganda. Deste modo, como forma de evitar uma má prestação nas próximas eleições gerais, os antigos combatentes defendem a reestruturação do actual secretariado. A medida tem em vista responder aos desafios actuais.
“Temos que fortificar o nosso partido para os desafios que se avizinham porque a Frelimo tem que ganhar e não pode fazê-lo com estruturas fracas”, disse Siliya acrescentando que o novo secretariado deve ser capaz de elevar o moral dos militantes e ainda mobilizar massivamente o povo, pois só deste modo a Frelimo sairá vencedora do próximo escrutínio.
No entanto, pelos corredores avança-se a informação de que os antigos combatentes, na verdade, ao propor a reestruturação do secretariado exigem a cabeça de Paúnde, figura que nos últimos dias se tem mostrado intransigente em relação ao processo tido como sensível, nomeadamente a escolha do candidato que representará a Frelimo e que deverá garantir a perpetuação do partido do batuque e da maçaroca no poder.
Guebuza e Chissano pedem apoio para o candidato da Frelimo
No último dia da reunião, o presidente da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN) e igualmente líder do partido, Armando Guebuza, e o ex- -estadista moçambicano, Joaquim Chissano, apelaram aos membros da Frelimo para que apoiem o candidato que for eleito para representar esta formação política nas próximas eleições gerais, agendadas para 15 de Outubro. No entender de Armando Guebuza, que falava durante o encerramento da III Sessão do Comité Central da ACLLN, realizado na Matola, esse apoio é que irá ditar a vitória desta força política e do seu candidato e garantir que se viva em paz no país, construindo-se, assim, um futuro melhor para todos os moçambicanos.
“O militante da Frelimo que for eleito, como humano, terá, naturalmente, as suas lacunas e virtudes. Comprometemo- nos a unir-nos em seu redor e com ele trabalhar para minimizar e superar essas lacunas”, disse Guebuza, pronunciando-se pela primeira vez sobre a assunto. Por seu turno, o ex-Presidente moçambicano e também membro da ACLLN, Joaquim Chissano, corroborou a posição de Guebuza e afirmou que todos devem apoiar o candidato que for eleito para representar o partido. Chissano defende a necessidade de se reforçar a coesão entre os militantes de partido que governa o país desde a independência.