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Ouro para os trovadores da música moçambicana

Ouro para os trovadores da música moçambicana

Dois anos depois do incêndio que deflagrou nos seus estabelecimentos, consumindo parte essencial do seu espólio discográfico, a editora Vidisco Moçambique reapareceu, nos finais de 2013, com um produto artístico “novo”. É uma Colecção de Ouro da música moçambicana que reúne 32 obras de igual número de músicos de todo o país.

Nos finais do ano passado, 2013, dois anos depois de nos meados de 2011, os estabelecimentos onde funciona a discográfica Vidisco Moçambique serem atingidos por um incêndio que consumiu parte importante do seu espólio, eis que a organização reapareceu no mercado musical com um produto “novo”. Entretanto, associadas ao feito, para este ano serão realizadas inúmeras actividades – a partir do Festival da Colecção de Ouro da Música Moçambicana.

“A obra tem várias interpretações. Nela existe a música moçambicana produzida por artistas de várias épocas. Cada um com uma linha melódica e de composição diferente. Mas complementam-se. Estamos a falar de artistas que cantam desde 1950. No primeiro volume da Colecção de Ouro, o ouvinte pode visitar as diferentes etapas da nossa música”, refere a conceituada intérprete moçambicana Elvira Viegas que – participando com a composição Lirere – nos apela a praticar a “piedade e amor ao próximo”, como explica o jornalista e escritor Samuel Matusse.

O facto de a nossa matéria qualificar os artistas envolvidos – Fanny Mpfumo, Manecas Tomé, Eusébio Faustino, Wazimbo, Xidiminguana, Helena Nhantumbo, Madala, Dilon Djindji, Ali Faque para citar alguns – como sendo trovadores da canção moçambicana, deve-se ao facto de, na sua maioria, as suas obras transparecerem uma lírica bem concebida.

Embora com diferentes nuances, prevalece na obra uma grande preocupação em relação ao debate sobre o amor. Para os cidadãos mais nostálgicos e conservadores, esta Colecção de Ouro preenche alguma lacuna, na medida em que possui algumas obras que apesar de terem sido bem-sucedidas – e marcado gerações numa determinada época – nunca antes tinham sido registadas num material discográfico.

O pessoal ligado à editora Vidisco Moçambique acredita que esta obra também cumpre uma função de divulgação da nossa cultura. Por isso, “esperamos que, com esta obra, a nível internacional também tenhamos um disco que nos identifique”.

Objectivos associados

Além da Vidisco Moçambique que, para a produção desta obra se posiciona como a equipa executiva, associaram-se duas empresas moçambicanas nomeadamente, a Moçambique Celular, uma operadora de telefonia móvel, e a instituição bancária BCI.

Segundo o director da Vidisco Moçambique, está a associada à Colecção de Outro a realização de um festival de música com o mesmo nome a ter lugar nos meados do ano que, numa primeira fase, acontecerá concomitantemente com as festividades da independência nacional. Porque parte dos familiares dos artistas envolvidos na obra, sobretudo os já perecidos, experimenta carências sociais a vários níveis, uma percentagem – não especificada – do dinheiro da venda dos discos ou que possa ser gerada em qualquer actividade afim em volta da obra será revertida a favor dos familiares dos músicos.

Reagindo em relação à componente social de que o projecto Colecção de Ouro consta, a cantora Elvira Viegas afirmou que se congratula “com o facto de a Vidisco Moçambique ter decidido investir parte dos rendimentos da venda deste disco a favor dos familiares dos artistas envolvidos. Sabemos que a maioria dos músicos moçambicanos não tem fontes alternativas de subsistência além do trabalho artístico. Em resultado disso, os seus familiares experimentam necessidades diversas”.

Num outro desenvolvimento, Viegas, que conhece bem a situação, explicou que “isso significa que se, por diversos motivos, o artista não pode sustentar os seus familiares, logo, as suas crianças passam a enfrentar dificuldades a partir da necessidade de estudarem”. Neste sentido, além do belo, do lúdico, da diversão e entretenimento, da reflexão que as músicas que compõem este primeiro volume – o segundo será lançado neste ano – desta Colecção de Ouro, cuja beleza é irrefutável, há algo sublime: “A obra é bonita, tem um bom aspecto, mas, no fundo, a sua missão – no âmbito desta iniciativa – só ficará completa se todas as pessoas que nela se envolvem tirarem algum benefício da mesma”.

Participação de jovens

Refira-se que para a selecção dos artistas que fazem parte da obra buscou-se, primeiro, os músicos moçambicanos considerados os maiores sucessos de todos os tempos. Para o efeito, “contámos com o apoio da Rádio Moçambique na pessoa do seu director. Por essa razão, a maior parte das músicas que constam do álbum ganharam os Prémios do Ngoma Moçambique, um programa que durante muitos anos contribuiu para a divulgação das melhores músicas do país”.

Portanto, “essas são as músicas que – durante os anos que passaram – foram escolhidas pelo povo moçambicano, com a ajuda de um júri, como as melhores”. Numa fase inicial, foi reunido um universo de 200 músicas, das quais foram-se eliminando algumas até que se ficou com apenas as 32 que compõem os dois discos.

A localização geográfica – ou a origem dos artistas – foi um dos factores que se teve em conta para que se produzisse uma representatividade equilibrada de todo o país. É que a filosofia deste projecto apregoa que para que uma obra seja considerada Colecção de Ouro de música moçambicana é importante que ela transpareça o sentido da unidade nacional de que, politicamente, se fala. “Isto significa compreender que da mesma forma que existiram sucessos no sul do país – que é o que mais se considera por estarmos aqui – também houve obras bem-sucedidas no centro e norte de Moçambique que alegraram todos os moçambicanos”.

Além dos artistas mais experimentados e com longos anos de carreira, estão incluídas no primeiro volume da Colecção do Ouro obras de artistas jovens e com poucos anos de percurso. Tais são os exemplos de Sizaquel Matlombe, Gabriela, Kaliza e a banda Garimpeiros.

Este pormenor não foi acautelado por acaso. Há três objectivos a ele associados, como afirmou o dirigente da Vidisco Moçambique: “Com esta obra nós temos a intenção de minimizar a discussão que existe entre os artistas mais velhos e mais novos. Por isso, envolvemo-los no mesmo espaço. Queremos que todos os jovens possam interpretar as músicas de todos os músicos que já não existem. Por exemplo, eu sei que Valdemiro José tem no seu trabalho discográfico a música Xiripo de Madala, que já faleceu”.

Além do mais, para o futuro, “eu acredito que a Colecção de Ouro – como uma obra discográfica – pode fazer com que os artistas mais novos tenham motivação para criar trabalhos com excelente qualidade para que as suas criações sejam inclusas num dos seus volumes”.

Mecenas menos firme

Ao perceber importância na ideia de se realizar o festival Colecção de Ouro, e reconhecendo o papel determinante que as empresas jogam para a materialização de eventos culturais, perguntámos ao representantes da Moçambique Celular – a empresa patrocinadora da produção – se se podia ter a segurança de que, no campo do apoio empresarial, o evento é um dado adquirido. O problema é que sentimos pouca firmeza no posicionamento do representante da organização.

De qualquer modo, o estimado leitor pode fazer a sua leitura nesse comentário: “Não me vou comprometer em nome da Mcel. O que posso dizer é que se trata de uma empresa orgulhosamente moçambicana. A Colecção de Ouro da música moçambicana é um produto genuíno e de qualidade. Por isso, nos próximos tempos nós teremos de negociar com a Vidisco Moçambique para avaliar as possibilidades de associar a nossa marca e imagem ao interesse de materializar o festival”.

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