No passado dia 25 de Dezembro, várias pessoas reuniram-se para celebrar o Natal, ou seja, o Dia da Família, uma ocasião que para milhares de moçambicanos passou ao lado por diversas inibições da vida, tais como a pobreza. E este foi o caso de Hilário Tamele (nome fictício), de 52 anos de idade, residente no bairro de Patrice Lumumba, no município da Matola, que passou o Natal a guarnecer galinhas, enquanto a sua família, da qual fazem parte oito filhos e igual número de netos, passava fome por falta de comida até nesse dia especial, porque a sua empresa ainda não pagou o salário de Dezembro.
Aliás, nenhuma das galinhas de que Hilário Tamele cuidava os seus dependentes tiveram nesse dia. Apesar da falta de dinheiro, nas vésperas do Natal, enquanto as lojas abarrotavam de gente comprando um pouco de tudo, a família do nosso entrevistado ainda tinha esperança de que nem que fosse por milagre divino, o dia 25 de Dezembro seria um dia diferente, pois à semelhança de outras pessoas, podia, também, ter momentos de farra e alegria. Contudo, isso não passou de um sonho, o qual até hoje é mantido para as festas de fim de ano e de ano novo, isso se a empresa de Hilário Tamele pagar a tempo.
Hilário Tamele é guarda da União Geral das Cooperativas (UGC) há 32 anos e ele é um homem notavelmente triste, pois a sua vida não vai bem. Com muita mágoa, o homem a que nos referimos narrou que, em 1981, ingressou na então Avícola Estatal como auxiliar. Apesar de se orgulhar de nunca ter procurado emprego em virtude de ele e outros cinco colegas terem sido “recrutados” na escola em virtude do seu bom comportamento e desempenho, esperava, depois de 32 anos de serviço, ter melhores condições de vida.
A extinta Avícola localizava-se no 3° andar do actual edifício do Serviço Nacional de Salvação Pública, na Avenida Eduardo Mondlane, em Maputo. Tamele recorda que na altura tinham tudo à sua disposição e viajava bastante pelo país. Aliás, ele fez parte de 60 jovens escolhidos para beneficiarem de capacitação em Cuba, mas, estranhamente, nunca viajaram para o tal país porque na hora de embarcar ele alguns jovens ficavam doentes. O grupo falhou o voo por três vezes já com as malas feitas e no aeroporto.
No seu ofício, Tamele aprendeu também a ser pedreiro e recorda que os bons tempos da sua profissão foram vividos quando a SANDRES, uma empresa holandesa, passou a gerir a Avícola Estatal, pois, dentre outras condições, tinha subsídio de alimentação, de antiguidade, de transporte e de guarda nocturno. Entretanto, as coisas mudaram drasticamente para o pior quando a empresa passou para novos gestores e chamou-se União Geral das Cooperativas (UGC), em 1994. Todas as regalias foram cortadas e o salário baixou mas a carga horária aumentou. Para sobreviver, o nosso interlocutor já recorre a biscates como pedreiro, por isso, quase que não descansa.
Tamele considera que o seu futuro é incerto porque os descontos feitos no seu mísero salário não são canalizados para o Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) e o que mais lhe inquieta é a informação de que o valor está supostamente a beneficiar um dos gestores da UGC.