Reza a história que certo dia, George Best estava numa suite de um hotel de luxo, na cama, com duas mulheres. Estando o jogador de futebol com sede ou por outra qualquer necessidade, resolve pedir mais champagne.
Por coincidência, o empregado que trouxe o muito apreciado néctar era um antigo colega de escola do George.
Depois dos abraços e do automático “o que tens feito?”, o homem do serviço aos quartos, vendo várias garrafas espalhadas e as duas raparigas desnudas, com um suspiro, pergunta: “Onde é que as coisas começaram a correr mal, Paul?”.
Não sei o resto da história mas quem ma contou queria-me alertar para as coisas terríveis que podem acontecer quando se segue o caminho mais fácil.
Ora bem, o irlandês estava num dos melhores hotéis do mundo, na companhia de duas lindíssimas mulheres, a beber um excelente bruto, logo a vida estava-lhe a correr mal.
Presumi que o chato do indivíduo, que queria zelar pelo meu bem-estar, estivesse convencido de que o empregado estivesse a viver no Éden e que se me fosse dado a escolher, deveria optar por trazer copos a clientes de hotéis de luxo em vez de me divertir com umas raparigas regadas a ‘Dom Perignon’.
Enfim, escolhas. Sempre as malditas escolhas.
Anda um terrível equívoco a percorrer as nossas conversas. Sempre que a vida corre mal a alguém que pensa que a nossa breve estadia terrena é mais que uma sequência de sacrifícios, de infelicidade, de monotonia e se esforça por pôr um bocadinho de sal nesse cozinhado insonso, lá vem a conversa estafada da opção desse cidadão pelo caminho mais fácil.
É assim como que uma pequena vitoriazinha dos chatos sobre aqueles que querem um bocadinho mais da vida.
Nada agrada mais a um desses rapazes do que ver um tipo que viveu uma vida menos corriqueira a ter uns violentos azares.
Os dias consumidos a ver o ‘Preço Certo’ tornam-se imediatamente espectáculos de Las Vegas. As horas passadas em filas de trânsito para a Caparica transformam-se em daiquiris numa ilha do Caribe. As compras na Rua dos Fanqueiros em excursões ao ‘Harrods’. As idas ao Jardim Zoológico em Safaris Africanos. A cerveja choca do fim de tarde de domingo em cocktails de champagne num qualquer lupanar de Beirute.
Não são os que a sorte ou outra qualquer circunstância não deu a oportunidade para poder gozar de algumas das coisas boas da vida que se alegram com as desgraças dos outros. Nada disso. São aqueles que optam por ser os encostados às paredes nas festas. Os que não largam a triste mulherzinha que os incita a voltar rapidamente para o doce remanso familiar onde estarão a salvo das tentações.
A esmagadora maioria dos nossos concidadãos – onde me incluo – não tem a coragem, o viço ou a ousadia de tirar da vida o melhor que ela tem para nos dar. De arriscar viver o momento como se fosse o último. Mas, pelo menos, muitos de nós “torcem” por estes, vivemos as suas aventuras, choramos os eventuais revezes e celebramos os seus feitos. Alguns talvez espúrios mas sempre um bom bocado à frente das nossas vidinhas.
Vivam os George Best deste mundo.