Centenas de trabalhadores moçambicanos envolvidos na construção do Estádio Nacional, localizado no Zimpeto, zona suburbana da cidade de Maputo, paralisaram as suas actividades desde Terça-feira última em protesto contra os alegados descontos “estranhos” efectuados nos seus salários.
Contactados hoje pela imprensa, os trabalhadores afirmam que o empreiteiro chinês diz estar a disponibilizar 93 meticais (3,5 dólares norte-americanos) para os seus salários diários, mas nas suas mãos chega apenas 63 meticais. “Nós queremos saber onde vai o dinheiro descontado?”, questionou um dos manifestantes que se disponibilizou a falar quando viu um grupo de jornalistas. “O senhor Pereira que é representante do Ministério da Juventude e Desportos diz que pagamos um imposto, mas nós queremos explicação sobre onde vai o dinheiro descontado”.
Não foi possível ouvir o empreiteiro da obra, dado que o Estádio se encontrava fortemente guarnecido por agentes da Policia moçambicana (PRM) munidos de armas de fogo e cães. Aliás, quando a imprensa chegou ao local, os manifestantes começaram a entoar canções e a saltar a vedação do local da obra para falar a jornalistas do lado de fora.
Ao mesmo tempo, as centenas de pessoas que se dedicam a venda de produtos frescos nas proximidades se aproximaram ao local, tendo provocado um grande reboliço. A Policia começou a disparar balas de chumbo para o ar e seguiu com os seus cães em direcção aos manifestantes, uma medida visando afastar as pessoas do local.
Os vendedores locais e grupos dos manifestantes afirmam que tiros disparados pela Policia na manhã de hoje atingiram mortalmente duas pessoas. Não é a primeira vez que os trabalhadores envolvidos na construção do Estádio Nacional se manifestam em protesto contra os seus salários. Há meses, realizaram uma manifestação do género, mas não houve solução ao problema, segundo afirmam.
Orçado em 57 milhões de dólares americanos e com capacidade para albergar cerca de 42 mil espectadores, o Estádio Nacional será o maior complexo desportivo de Moçambique. Este complexo desportivo ocupa uma extensão territorial de 41.987 metros quadrados dos 267.900 metros de terra destinados a edificação daquela que será a infra-estrutura desportiva mais moderna no país pós-Independência Nacional, em 1975.
Entre outras facilidades, o estádio terá uma pista de atletismo, um parque para o estacionamento de 2500 viaturas e empreendimentos comerciais que, além de estimular o desenvolvimento local, vão também gerar novos postos de trabalho. Esta infra-estrutura desportiva é um dos trunfos do país para tirar proveitos do mundial de Futebol a ser realizado em 2010 na vizinha Africa do Sul, prevendo-se por isso a conclusão das obras até antes do início do campeonato.