Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Uma vida adversa…

Uma vida adversa…

Aos seis anos de idade, Mike, que se arrasta de barriga para se locomover, devido a uma deficiência física, é uma criança com uma história de vida marcada por dificuldades desde que veio ao mundo. A sua mãe morreu no mesmo dia em que ele nasceu. O seu pai abandonou-o na Missionária de Caridade Casa de Alegria, na cidade de Nampula, nunca cuidou dele e ninguém sabe nada do seu paradeiro nem da família materna, tão-pouco da paterna.

Ele é um menino cujo futuro é imprevisível por causa das suas limitações físicas. Desde os primeiros anos de vida, Mike, cujo nome lhe foi atribuído por aquela confraria, recorre ao abdómen para se deslocar de um lugar para o outro e o problema que impede o petiz de se locomover com as próprias pernas surgiu pouco tempo depois de ter nascido. A progenitora morreu em consequência das complicações do parto. As freiras contaram-nos que recorreram a todos os meios ao seu alcance para fazer Mike andar, mas nenhuma tentativa resultou.

Na altura em que a mãe do menor perdeu a vida, o pai alegou falta de condições para criar o filho, tendo contactado a Missionária de Caridade Casa de Alegria para pedir ajuda. Sem nenhum documento de identificação pessoal, o referido progenitor, que merece o título de um xiconhoca, deixou o descendente e nunca mais reapareceu. Volvidos seis anos, pese embora se encontre no meio de dificuldades e de problemas de saúde, a criança está a evoluir graças ao aconchego das irmãs.

Aliás, o nome pelo qual Mike é tratado foi atribuído ao acaso pela instituição que o acolhe para que não se sentisse discriminada dentre várias crianças. Mesmo assim, a situação na qual o menino se encontra infringe sobremaneira a Declaração Universal dos Direitos da Criança – que estabelece que a criança tem direito a um nome desde o nascimento – porque ainda não foi registada. Entretanto, a confraria ainda mantém a esperança de um dia ver Mike caminhar com os próprios pés e não depender de terceiros para realizar diferentes actividades e satisfazer certas necessidades. Mantém-se ainda a expectativa de, um dia, o pai fugitivo reaparecer para ver o filho e confortá-lo.

{youtube}7vWAoI5cX80{/youtube}

A associação para fins religiosos que acolhe o menor presta assistência a 168 crianças, dentre recém-nascidas e de três anos de idade, cuja maioria é órfã de mães. Pela idade, Mike já devia estar fora daquela instituição ,mas a benevolência das irmãs é de tal sorte que goza de um tratamento especial. Depois do terceiro ano de vida, alguns menores são encaminhados às suas famílias e outros – que por várias razões não voltam para o lar dos pais – ao Infantário Provincial de Nampula. A maior parte dos petizes da Missionária de Caridade Casa de Alegria provém dos distritos de Nacala, Angoche, Mecubúri (Nampula) e das províncias da Zambézia, do Niassa e do de Cabo Delgado.

Nos últimos dois anos, pelo menos duas crianças foram adoptadas por moçambicanos que residem nas cidades de Nampula e Maputo, através de um processo que envolveu a Direcção Provincial da Mulher e Acção Social das duas parcelas do país, contou-nos Mare Basila, superior hierárquica daquele centro, para quem o menor a que nos temos referido vive momentos tristes da sua vida desde que nasceu. Os diagnósticos dos médicos indicam que ele teria contraído uma lesão na coluna vertebral aquando do seu nascimento.

Porém, os terapeutas do Hospital Central de Nampula recomendaram que se fizesse massagens na coluna vertebral do menor, que já consegue sentar-se numa carrinha de rodas com a ajuda de alguém. O outro problema que apoquenta Mike está relacionado com o fraco desenvolvimento do seu corpo. As freiras associam isso à deficiência física e à paralisia dos membros inferiores, por isso, apesar de se encontrar em idade escolar ainda não foi matriculado devido ao seu estado de saúde.

“Queríamos inscrevê-lo a fim de frequentar uma escola mas não há condições para o efeito porque, para além de alguma recaídas constantes, a criança só fica deitada”, disse Mare Basila. Todavia, enquanto esta situação prevalecer, o princípio do “direito à educação e a cuidados especiais para a criança física ou mentalmente deficiente”, não está a ser totalmente cumprido. Os responsáveis da Missionária de Caridade Casa de Alegria acreditam que a força divina pode operar milagres na vida de Mike que pode, um dia, sentar-se, caminhar e realizar inúmeras actividades tal como as outras crianças que não sofrem de nenhuma deficiência física.

A instituição, de acordo com Mare Basila, recebe apoio dos parentes de alguns menores, empresários e do Governo moçambicano. Contudo, “por vezes temos tido falta de leite para as crianças, mas, graças a Deus, temos resolvido o problema com a ajuda de todos”. A malária é uma doença que tem sido frequente no centro, porém, os efeitos não têm sido perniciosos porque a maior parte das irmãs dali são paramédicas.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts