Cerca de 160 mil trabalhadores, dos sectores mineiros, de construção e automóvel, fizeram greve na África do Sul reivindicando aumentos salariais de pelo menos dois dígitos. Milhares de moçambicanos, que trabalham na chamada terra do rand, também aderiram ao movimento sindical sem contudo se envolverem activamente com receio de represálias.
Os sul-africanos chamam-lhe “temporada de greves” – a cada dois anos , quando têm lugar negociações salariais em diferentes sectores económicos, na maior economia africana, acontecem as paragens laborais. A única coisa diferente este ano é a excepcionalmente enorme lista de exigências dos sindicatos envolvidos, numa altura em que as companhias tentam sobreviver numa arena internacional cada vez mais competitiva.
As reivindicações por melhores salários começaram em Agosto, quando milhares de mineiros do ouro, trabalhadores do ramo das construções e do fabrico de automóveis, decidiram paralisar o funcionamento dos sectores que contribuem, com cerca de 10% do Produto Interno Bruto (BIP).
Agora, juntaram-se às reivindicações cerca de 73 mil trabalhadores das bombas de combustível e das oficinas, desde a última segunda-feira (9), depois do fracasso das negociações com o patronato, segundo o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector dos Metais (Numsa).
A greve iniciou com marchas na cidades do Cabo e de Joanesburgo, tendo-se espalhado por todas as províncias do país, o que está a afectar os transportes urbanos e o quotidiano dos milhões de sul-africanos.
“Queremos um aumento salarial na ordem de dois dígitos. Queremos basicamente melhorar as condições de vida dos operários,”defendeu o secretário-geral do Numsa, Irvin Jim.
Os funcionários das bombas de combustível reivindicam um aumento de 700 randes (cerca de 2.100 Meticais), por semana segundo o sindicato que representa perto de um terço dos trabalhadores deste sector.
Entretanto, 90 mil operários do ramo das construções recusaram-se a trabalhar durante 12 dias, segundo o organismo que os representa, o Sindicato Nacional dos Mineiros (NUM). Os construtores auferem uma média de 4 mil rands (cerca de 12 mil Meticais) mensais e querem um aumento de 800 randes (cerca de 2.400 Meticais). Os empregadores ofereceram um aumento de 400 randes (1.200 Meticais).
Disputas sindicais e fraco crescimento económico
A greve no sector das minas de ouro, que emprega 140 mil trabalhadores, parecia haver terminado no passado domingo (8) com um acordo de aumento salarial em 8% , entre um dos sindicatos e a empresa Harmony Gold. Contudo, uma parte dos mineiros, cerca de 20 mil filiados no Sindicato dos Mineiros e dos Trabalhadores do ramo das Construções (AMCU), votaram no mesmo dia pela paralisação do trabalho em rejeição do aumento salarial acordado.
A África do Sul foi em tempos o maior produtor mundial de ouro. Mas a queda dos preços do minério, combinada com os custos de minerar em reservas de ouro a grandes profundidades teve o seu impacto. E as greves crónicas nos sectores do ouro e da platina devido às mas condições de trabalho levaram a uma queda acentuada na produção, uma situação que pressiona cada vez mais a maior economia africana, já a braços com um fraco crescimento.
Desde o ano passado várias minas anunciaram planos de retracção e reestruturação. A situação agrava um dos problemas mais crónicos e graves: a taxa de desemprego de mais de 25%. Com tantos desempregados, cada trabalhador suporta com frequência uma família alargada. E muitos dizem mesmo que a exigência de um aumento salarial tão grande se deve precisamente a uma necessidade enorme mais do que um aumento de produção.
“A continuação deste tipo de greves irá aumentar as perdas e fazer com que um futuro de viabilidade seja substituído pela incerteza. Este facto poderá criar um impacto negativo nos postos de trabalho,” afirmou o director executivo da Harmony Gold, Graham Briggs.
Moçambicanos também em greve
Milhares de moçambicanos trabalham na África do Sul e fazem parte do movimento sindical por melhores remunerações. Só nas minas de ouro de Carletonville, onde decorre uma greve convocada pelo sindicato NUM, trabalham cerca de 7 mil mineiros moçambicanos.
Contudo, segundo a delegação local do Ministério moçambicano do Trabalho, os nossos compatriotas não estão a participar activamente nestas greves temendo represálias.
Até ao momento não há registo de incidentes envolvendo trabalhadores moçambicanos, porém, aqueles que aderiram à greve sofrerão cortes nos seus salários.
Acordo nas fábricas de automóveis
Aguarda-se a todo o momento o regresso ao trabalho no sector de fabrico de automóveis, após três semanas de paralisação.
Mais de 30 mil grevistas afirmam estar satisfeitos com o novo aumento salarial de 11.5% para o presente ano, e 10% de aumento anual até 2015, segundo o Numsa, que defende a continuidade de negociações com os trabalhadores da fábrica da BMW em Pretória e da montagem da Toyota no porto este da cidade de Durban.
Aparente normalidade na companhia de electricidade
A empresa gestora de fornecimento da corrente eléctrica na cidade de Joanesburgo, City Power, e que enfrentou uma greve ilegal, afirmou no início desta semana que está a resolver os incidentes isolados que originaram cortes de energia na mais importante cidade sul-africana. Segundo a companhia, tratou-se de actos de sabotagem.
Joanesburgo registou apagões na quarta (4) e quinta-feira (5) da semana passada, que afectaram até bairros nobres incluindo a residência do antigo Presidente Nelson Mandela. Foi necessária a instalação de geradores na casa de Madiba, que recebe tratamentos médicos especiais na sua casa.
O impacto causado pelos cortes no fornecimento da energia na economia ainda está a ser quantificado.
Entretanto, a companhia eléctrica defende que as sabotagens constituem actos de terrorismo e solicitou a intervenção da Unidade de Combate ao Crime Organizado e a polícia de investigação de elite (Hawks), a fim de encontrar os responsáveis da sabotagem na maior central eléctrica da província que originou os apagões em 80% das subestações.