África jamais irá materializar a tão almejada revolução verde na presente geração, se não for der um passo decisivo no financiamento da produção agrícola e industrialização.
Esta é a conclusão do III Fórum Africano de Revolução Verde, organizado pela Aliança para uma Revolução Verde em África (AGRA) e que terminou na tarde sexta-feira em Maputo.
“A lacuna de financiamento global de 450 biliões de dólares americanos encontra a sua expressão em África, onde apenas 10 por cento dos nossos agricultores de pequena escala recebe financiamentos necessários para a expansão dos factores de produção, distribuição e acesso aos mercados”, indica o comunicado final deste encontro.
O Fórum, um evento de dois dias, fez o balanço da implementação do Programa Compreensivo para o Desenvolvimento da Agricultura (CAADP), adoptado em Maputo pela Cimeira da União Africana de 2003, no qual os estadistas africanos comprometeram-se a alocar pelo menos 10 por cento dos orçamentos dos seus países para a agricultura e garantir um crescimento anual do sector de seis por cento.
Volvidos 10 anos após esta declaração, o Fórum constatou que o investimento público e privado duplicou em 40 países que estão actualmente a implementar os planos do CAADP, estando agora a registar crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
“Contudo, cerca de 250 milhões de africanos continuam a debater-se com o problema de insegurança alimentar e o continente continua a gastar 22 biliões de dólares anuais em importações de alimentos e as nossas principais culturas continuam a ser exportadas como produtos primários sem processamento de adição de valor”, refere o comunicado.
Segundo a fonte, com as previsões de aumento da procura de alimentos em 30 por cento nos próximos cinco anos e sendo o continente africano a última fronteira de terra arável disponível “precisamos de uma visão clara e um compromisso político para os próximos 10 anos”.
“Sem isso, poderemos registar crescimento do PIB, encher os nossos silos, mas qual será a prosperidade de uma nação se milhões de pessoas têm as suas barrigas vazias e os nossos pequenos agricultores, muitos dos quais mulheres, não vêem os seus rendimentos a aumentar de forma significativa?”, acrescenta.
O Fórum anotou que estudos de caso da África do Sul, Zâmbia, Quénia e Tanzânia demonstram a possibilidade de alavancar o financiamento público e privado de formas inovadoras.
“Comprometemo-nos a apoiar modelos de financiamento conduzidos por comunidades locais de agricultores, que reconhecem que todas as partes trazem bens valiosos monetários ou não para a parceria e que o sucesso exige ‘capital de paciência´”, indica a fonte.
Outros modelos de financiamento defendidos pelo Fórum são aqueles que combinam incentivos, reduzem os riscos de dívida e promovem modelos de agro-negócio de longo-termo, bem como aqueles que sejam inclusivos, alcançam a escala sem usurpação de terras, permitem acesso às fontes concessionais de financiamento e garantem forte apoio do governo.
Refira-se que o III Fórum juntou 250 líderes de diversos ramos ligados a agricultura, desde agricultores, pesquisadores, representantes de governos africanos, de organizações não-governamentais do ramo, parceiros, entre outros. Esta foi o primeiro evento da AGRA desta em Moçambique, depois de Gana (Acra) e Tanzânia (Arusha).
A AGRA possui projectos em 16 países africanos, incluindo Moçambique.