O primeiro-ministro egípcio propôs dissolver a Irmandade Muçulmana, grupo do presidente deposto Mohamed Mursi, anunciou o governo neste sábado, aumentando o risco de um sangrento confronto entre Estado e islamitas pelo controle do país. Confrontos violentos em todo o Egito entre simpatizantes da Irmandade Muçulmana e forças de segurança mataram 173 pessoas na sexta-feira, incluindo 95 na região central da capital Cairo, disse o Ministério da Saúde do país neste sábado. O ministério disse ainda que 1.330 pessoas ficaram feridas em todo o país, com 596 feridas nos confrontos no Cairo.
Imagens ao vivo de uma emissora de televisão mostraram um homem atirando contra soldados e policiais do minarete de uma importante mesquita do Cairo, enquanto forças de segurança devolviam fogo contra o prédio no qual os partidários de Mursi se abrigavam. Testemunhas da Reuters disseram que os defensores do ex-primeiro ministro também trocaram tiros com as forças de segurança dentro da mesquita.
O Ministério do Interior afirmou que 173 pessoas morreram em confrontos em todo o Egito na sexta-feira, levando o número total de mortos nos três dias de massacre para quase 800. Entre os mortos está o filho do líder da Irmandade Muçulmana Mohamed Badie, atingido por um tiro durante um protesto na Praça Ramsés, no Cairo, onde cerca de 95 pessoas morreram em uma tarde de tiroteios e destruição na sexta-feira.
Autoridades egípcias afirmaram que prenderam mais de mil islamitas e cercaram a Praça Ramsés após o “Dia de Fúria” na sexta-feira, nome dado pela Irmandade para denunciar a letal repressão a seus partidários na quarta. Manifestantes disseram que gás lacrimogêneo foi disparado dentro da sala de orações da mesquita para tentar fazer todos saírem do local, enquanto tiros eram ouvidos.
Com a insatisfação aumentando de ambos os lados, e nenhum sinal de acordo em vista, o primeiro-ministro, Hazem el-Beblawi, propôs a dissolução legal da Irmandade, uma medida que pode fazer o grupo se esconder e levar a uma repressão ainda maior. “Isso está sendo estudado atualmente”, afirmou o porta-voz do governo, Sherif Shawky.
A Irmandade foi oficialmente dissolvida pelos militares em 1954, mas se registrou como uma organização não-governamental em março, em resposta a um processo promovido por seus oponentes, que questionavam sua legalidade. Fundado em 1928, o movimento também tem um braço político legal, o Partido Liberdade e Justiça, que foi lançado em 2011 depois da revolta que derrubou o presidente autocrático Hosni Mubarak.
“A reconciliação está aí para aqueles cujas mãos não estão sujas de sangue”, afirmou Shawky. A Irmandade venceu todas as cinco eleições ocorridas após a queda de Mubarak, e Mursi governou o país por um ano até ser minado por grandes manifestações convocadas por seus críticos, que consideravam seu governo incompetente e partidário.
O chefe do Exército, Abdel Fattah al-Sisi, diz que tirou Mursi do poder em 3 de julho para proteger o país de uma possível guerra civil.