Desde a última desvalorização da libra síria, o comerciante Aboud Katebee, de Damasco, já não pode mais colocar etiquetas de preços nos chocolates que vende para a classe média no bairro de Jaramana.
“Toda vez que o dólar sobe, mudo o preço dos meus produtos”, disse o dono da mercearia, um homem de meia-idade. Os rumores sobre um apoio militar árabe e ocidental aos rebeldes que tentam derrubar o presidente Bashar al-Assad levaram muitos sírios, em pânico, a correrem para comprar dólares, fazendo com que a moeda local fosse cotada, esta semana, a menos de 200 unidades por dólar, uma queda de 20 por cento em quatro dias.
Os executivos de bancos e empresas ouvidos pela Reuters por telefone dizem que a fraqueza da libra pode prenunciar uma queda livre se o Banco Central ficar sem dólar para proteger a cotação, depois de dois anos de uma guerra civil que já matou mais de 90 mil pessoas e causou prejuízos de dezenas de bilhões de dólares.
Por causa desses temores, o dólar tornou-se moeda corrente em transacções quotidianas de todos os tipos – ao contrário do que acontecia antes da guerra, quando só a elite tinha património avaliado em dólar.
“As transacções em dólar costumavam ser restritas a grandes negociantes, que vendiam em dólares ao atacadista, mas agora até o menor varejista que vende em libras sírias baseia os seus negócios nos movimentos diários do preço do dólar”, disse Yousef Safouri, atacadista do sector de vestuário em Aleppo.
De comerciantes a industriais, de importadores a advogados e taxistas, a crise fez com que o dólar circulasse muito mais amplamente, por ser uma defesa contra a desvalorização e a inflação. Oficialmente, a inflação é de 50 por cento ao ano, mas os economistas alertam que a Síria pode estar no caminho de uma hiperinflação.
Desde o começo da crise, em Março de 2011, a libra síria acumula desvalorização de 75 por cento. Naquela época, um dólar valia 47 libras. As sanções da União Europeia às exportações petrolíferas sírias e o colapso no faturamento turístico interromperam duas importantes fontes de divisas do país, e a violência política praticamente paralisou a indústria e o comércio.
“As pessoas dizem que para protegermos as nossas economias vamos para o dólar, porque ele preserva a riqueza”, disse um executivo bancário de Damasco, acrescentando que isso causa uma pressão ainda maior sobre a cotação da libra.