O atual primeiro-ministro indiano, o sikh Manmohan Singh, espera, em seus 76 anos, renovar o mandato como chefe de Governo nas eleições que começam nesta quinta-feira. Singh, que está no cargo desde a vitória, em maio de 2004, do Partido do Congresso, da influente Sonia Gandhi, tem como principal adversário o nacionalista hindu Lal Krishna Advani, de 81 anos, outro veterano da política, vice-ministro e ministro do Interior entre 1998 e 2004, candidato da grande formação da oposição nacionalista hindu, o Partido do Povo Indiano (BJP). Em seguida, vem a chamada “rainha dos Dalits”, a “intocável” Mayawati Kumari, representante de uma casta, 53 anos, que sonha em se tornar primeira-ministra para reverter a situação de injustiças vividas pelo grupo que representa.
Primeiro sikh a chegar ao posto de primeiro-ministro, Singh forjou uma reputação nacional e internacional de homem de Estado ao liberalizar a economia indiana quando foi ministro das Finanças, de 1991 a 1996. Há cinco anos lidera uma coalizão de centro-esquerda muito favorecida pelo “milagre econômico” indiano, mas a imagem de Singh se viu afetada em 2008 pelos efeitos da crise mundial, pela inflação galopante e a forte desaceleração do crescimento.
Manmohan Singh nasceu em 26 de setembro de 1932 num povoado de Penyab, hoje território paquistanês. Durante o “Raj” britânico em agosto de 1947, a família Singh deixou o novo Paquistão indepenente para se instalar em Amritsar, a cidade sagrada dos sikhs na Índia. Singh, economista brilhante, estudou em Cambridge e em Oxford; foi diretor do Banco Central e funcionário de alto escalão do Fundo Monetário Internacional (FMI), antes de entrar para a política. Seu adversário Advani, jornalista de formação, também nasceu no que agora é o Paquistão, em Karachi (sul), em 8 de novembro de 1927, e também tem uma reputação de político íntegro e eficiente, embora não consiga se separar da imagem de ‘falcão’ da direita hindu.
Esteve presente durante os incidentes de 6 de dezembro de 1992, quando milhares de fanáticos hindus destruíram uma mesquita do século XVI em Ayodya (norte). Os distúrbios deixaram 2.000 mortos. Também foi criticado em 2002, quando era ministro do Interior, por seu laxismo durante novos episódios de violência entre hindus e muçulmanos em Gujarat (oeste), quando morreram outras 2.000 pessoas.
Em 2005, desatou a ira dos radicais hindus do BJP e esteve a ponto de perder a presidência do partido depois de ter elogiado, em uma viagem ao Paquistão, o pai fundador da nação vizinha, o muçulmano Mohamed Ali Jinnah.
Já a “rainha dos Dalits” (os “intocáveis”), Mayawati Kumari, 53 anos, sonha em se converter na primeira-ministra para mudar a situação do grupo que representa. Líder do Partido da Sociedade Dalit (BSP) e governadora desde de 1995 do estado de Uttar Pradesh (norte, 182 milhões de habitantes), poderá dificultar as coisas para o Partido do Congresso e o BJP.
Caso consiga seu objetivo, a ex-professora primária conquistará um feito, apesar de “a maior democracia do mundo” já ter tido um presidente da República “intocável”, Kocheril Raman Narayanan (1997-2002). Os indianos da casta inferior dos “dalits” – 165 milhões, de um total de 1,17 bilhão de habitantes – se queixam dos obstáculos que sofrem para entrar no mercado de trabalho, conseguir moradia e se inscrever no sistema educacional.
Os atos violentos e de humilhações contra os indianos de castas inferiores são frequentes, apesar de os textos proibirem qualquer discriminação. A “intocabilidade” foi formalmente abolida pela Constituição indiana de 26 de janeiro de 1950, mas a ONU denunciou, em 2007, que “de fato, a segregação persiste”.
A “irmã” Mayawati, ou a “rainha dos intocáveis”, nasceu em 1956 em uma família de curtidores de couro perto de Delhi. Nos anos 80, o presidente do BSP, Kanshi Ram, a convenceu a entrar para a política. Apesar das acusações de corrupção e de enriquecimento pessoal denunciadas pela imprensa, a popularidade de Mayawati é imensa.
Para conseguir a reeleição em 2007 em Uttar Pradesh, ampliou sua base eleitoral seduzindo os indianos das castas mais altas – os brahmanes – e os de confissão muçulmana.