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Debate sobre a inclusão e/ou exclusão da acção do Psicólogo Escolar/Educacional na escola pública…, por Euclides Cossa

Em primeiro lugar deixem-me encorajar a todos aqueles que por diversos motivos decidiram abraçar esta área, que não é fácil, e muitas vezes mal compreendida. E é nesta má compreensão que vou logo discursando sobre o papel do psicólogo, principalmente do psicólogo escolar/ educacional, no processo de escola inclusiva em Moçambique.

De forma imediata apelo para a calma quando adoptamos certas ideologias político-educacionais, pois, por mais benéficas que elas sejam, se não observam para o estágio actual (ou momentâneo) avaliando as condições da sua implementação podem agravar uma “sintomatologia patológica” sem precedentes jogando para o alto um sonho tão bonito que tinha tudo para prosperar: basta ter calma.

Ora bem a Escola inclusiva, salve a minha ignorância, é um projecto que visa essencialmente criar um ambiente escolar tal que alunos com determinadas necessidades educativas especiais aprendam nas mesmas condições, ou quase- -condições, similares aos alunos ditos normais. Portanto, albergamos na escola não especial aqueles que sofrem de uma patologia que não impede o desenvolvimento cognitivo, contudo, cuja patologia requer, por parte dos professores, essencialmente, e em relação a esses alunos especiais, maior cuidado, perícia e atenção.

Este processo de inclusão escolar é benéfico tanto para os alunos especiais como para com os seus colegas, uma vez que ambos são seres ainda em desenvolvimento, corrigem desde cedo os seus preconceitos, aprendendo a conviver com as diferenças.

No entanto, a escola enquanto instituição de ensino, ao invés de se tornar um meio acolhedor onde paira a harmonia e a camaradagem espontânea, a honestidade e a solidariedade entre colegas, revela-se um meio conflituoso, onde a disputa pelo destaque é evidente, onde o ciúme é inevitavelmente presente, com todas as suas consequências que advêm, e onde as desigualdades sociais se revelam ainda mais.

É neste âmbito que questiono a exclusão dos psicólogos escolares/educacionais na mediação de eventuais conflitos que possam decorrer da má compreensão de alunos, professores, pais e comunidade vizinha em relação a determinados comportamentos. Um dos papéis fundamentais do psicólogo escolar/educacional está em prever e prevenir certos comportamentos, alertando para um maior autocontrolo em relação às práticas educativas. Para o nosso caso (ou seja, nas nossas escolas públicas) esta função do psicólogo escolar/educacional reduz-se às acções de ensino-aprendizagem propriamente ditas: em sala de aula.

Parece que, no que concerne às escolas públicas (e mais uma vez salve a minha ignorância) não tem havido (e se houver agradecia que fosse mais divulgado) relatos de uma intervenção, pontual, programada e regular, de psicólogos escolares/educacionais com o intuito de, pelo menos, avaliar a quantas anda este processo de inclusão. Evidentemente não podemos generalizar, cada escola é o seu caso!

O problema pode não estar nos psicólogos, porque estes, sim, mais do que ninguém, conhecem as suas atribuições. Pode ser, novamente, um problema da má compreensão, (não incompreensão!), das políticas públicas do ensino inclusivo até então implementadas.

Com efeito, parece que a solução imediata foi colocar dentro do currículo, sob a categoria geral de Disciplinas Transversais à Psicologia, ao lado do Empreendedorismo, Educação de Género, Educação Moral, entre outras. De facto, os alunos aprendem as catequeses da Psicologia, recitam as primeiras orações (Freud, Piaget, Kholberg), que os habilitam a evangelizar para os demais membros da comunidade sobre a conduta humana; socraticamente falando, o maior benefício está em habilitá-los a conhecerem-se melhor, sem dúvida!

No entanto esta actividade nobre, a de ensinar, veda a capacidade de lançar um olhar externo ao ambiente escolar como um todo. Isto por si só já é um acto inclusivo-exclusivo. A maior probabilidade é do profepsicólogo preocupar-se mais com a sua turma, com os problemas dos seus alunos, e pouca voz levantar para influenciar a estrutura geral da escola, uma vez que ele também faz parte desta mesma cultura.

Imaginem, também, um profepsicólogo preocupado com estatísticas como fazem os vários professores, que agastados com os paradigmas actuais de ensino, acomodam-se assumindo uma postura laisser-faier oferecendo dados estatísticos ao olhar ludibriado do director da escola que depois os apresentará às direcções da educação convicto de um ano lectivo excelente!

A exclusão do papel do Psicólogo Escolar/Educacional (entendido como privação da sua actuação na Escola, insisto, Escola pública regular) torna-o mercenário. Isto agrava os já existentes problemas da qualidade de ensino, bem como do papel igualitário, entendido como não desigualdade, que pretende o ensino inclusivo. Quem efectivamente, dia após dia, pode oferecer um acompanhamento ao ensino inclusivo evitando que este seja discriminatório? Porque ao mesmo tempo que prestamos atenção a um aluno com “necessidades inclusivas” necessariamente desviamos a atenção em relação aos demais estudantes.

Será que os resultados académicos dos alunos especiais inclusos nas escolas públicas regulares são de tal forma confiáveis, se mesmo os alunos ditos normais na 5ª, 6ª, 7ª’s classes (diga-se ao alto!) continuam a ter défices na escrita e leitura? Se é tão fácil para os professores hoje em dia deixarem ao deus-dará as crianças, movidos pela impaciente e resistente má compreensão de um ensino baseado em passagens semiautomáticas (que se insiste em dizer automáticas), imaginem abandonar, no meio de tantas outras crianças não especiais, aquelas que mais do que qualquer outra carecem de cuidados personalizados?!

Trata-se, apoiando-me em César A. Ribeiro (s/d), de uma falência e de uma patologização na educação que resulta da ausência de auto- -responsabilização pelos agentes envolvidos no processo de aprendizagem os quais deixam as crianças suportarem sozinhas o peso de um sistema roto que lhes veda a auto-estima e atrofia o desenvolvimento cognitivo.

Num ambiente destes, ao invés de criarmos inclusão, que se pretende um factor de igualdade social e escolar, estaremos a promover um clima de desigualdades académicas, porque não sabemos como dosear a atenção prestada aos alunos especiais, nem como responder cabalmente aos demais vieses do ensino-aprendizagem, do ambiente escolar, no seu todo. Então, não criemos uma inclusão que exclua os profissionais da saúde escolar, sob o risco de apresentarmos estatísticas mais estatísticas, mais estatísticas, mais estatísticas…

 

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