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Nico canta e encanta (macuas) em Nampula

Germane Nicotólaca, ou Nico como é tratado na arena musical, na província de Nampula, não sabe quando começou a trabalhar no sector da cultura. Mas, desde a infância, canta com os amigos. O facto de pertencer a uma família de amantes e fazedores de arte impulsionou a sua relação com a música.

De 24 anos de idade, natural de Nampula, Nico começou a ganhar visibilidade na carreira artística quando estudava na Escola Primária de Napipine. Num grupo teatral local, além de ser actor orientava as actividades da dança tradicional Makwaela. As actuações eram realizadas em ocasiões festivas da província.

Quando passou a frequentar a Escola Secundária de Napipine, criou um conjunto de dança que fez muito sucesso, sobretudo nos eventos culturais realizados pelos estudantes da Universidade Católica de Moçambique. A partir do seu grupo cultural, Nico entendeu que podia cantar e, assim, fê-lo.

A par dos seus amigos, Nico ensaiava todos os fins-de-semana a fim de realizar bons concertos. No entanto, devido à dificuldade de associar as actividades do teatro à música – já que a sua base inicial foram as artes dramáticas – o artista preferiu dedicar-se apenas à música.

Em 2007, gravou a sua primeira canção num estúdio local em Nampula. Na referida obra, intitulada Emuali, ou Moça, o cantor descreve as turbulências vividas pela rapariga na transição da adolescência, a puberdade, para a fase adulta. O objectivo era relançar a visibilidade da música local na província, sobretudo nas discotecas.

Aliás, trata-se de uma evolução que, nos últimos tempos, se verifica a partir do maior envolvimento da juventude na produção musical, em Nampula. Com a acção artístico-musical dos novos talentos já é possível realizar eventos culturais, apenas com o envolvimento de cantores.

De acordo com Nico, a sua primeira música foi favoravelmente criticada – e é isso o que o estimula a trabalhar mais no ramo. A partir de 2008, o cantor aprende a tocar guitarra e bateria na Casa Provincial de Cultura. Para si, a formação constituiu uma mais-valia na sua carreira.

Mais adiante, produziu uma série de composições musicais – o que lhe valeu um convite da parte da Bio-Estúdio para gravar o seu primeiro trabalho discográfico. No entanto, devido a complicações burocráticas, registadas durante a negociação para o efeito, o projecto não foi bem-sucedido. Deviam ter sido registadas oito músicas, algumas das quais na posse da Bio, e quatro vídeoclipes, no âmbito da referida iniciativa, cujas imagens seriam captadas em Maputo.

Se se perguntar ao cantor Nico qual é a sua característica, em termos de ritmos, da sua produção, não se obtém uma resposta axiomática. Nesse aspecto, o cantor é disperso. É como diz: “Sou influenciado pelo mercado. Por isso, não me identifico com um ritmo musical específico. Por exemplo, já fiz Kizomba, House Music, Passada, Música Tradicional, entre outros estilos que o povo aprecia”.

Um aspecto peculiar, e mais importante, é que “quando canto, sinto que mexo o coração dos apreciadores da minha música, os meus admiradores. Isso não só se deve ao ritmo, mas, acima de tudo, à mensagem didáctica contida nas composições”, afirma.

Presentemente, Nico está a trabalhar para se afirmar num determinado ritmo que lhe possa conferir alguma identidade, como cantor moçambicano. Desse esforço, a música Saquina – uma espécie de Pandza, publicada recentemente – é um exemplo. Reconhece que, nos últimos anos, o género de música Pandza tem sido alvo de uma crítica negativa na sociedade. Mas é nele que quer apostar para atrair mais admiradores, expandindo-o pelos lugares mais recônditos de Nampula.

Refira-se que nas suas músicas, Nico relata aspectos relacionados com alguns temas sociais como, por exemplo, a luta contra a violência doméstica, o abuso sexual de menores, incluindo os casamentos precoces. Cantar sobre esses assuntos é, para si, uma forma de tocar os corações do povo macua.

“Com estas músicas não procuro satisfazer objectivos egoístas, mas quero informar os nampulenses sobre o mal que está contido na violência doméstica, nos casamentos prematuros, bem como no abandono de menores de idade pelos pais na estrutura da família e, por extensão, na sociedade”.

Constrangimentos

A inexistência de uma editora na província de Nampula, e a sua escassez cada vez mais acentuada no país está, segundo Nico, a constranger a vida dos cantores, inviabilizando , a vários níveis, a sua actividade.

Em resultado disso, apesar de ter cerca de 20 músicas compostas, Nico não tem onde (nem como) editá-las e publicar um álbum em Nampula. A situação inquieta muitos músicos da sua província. É por essa razão, aliás, que os mesmos optam por lançar as suas músicas uma por uma.

A inexistência de mecanismos válidos e funcionais para combater a pirataria musical é outro problema que dificulta a actividade dos músicos que se sentem prejudicados. “Enquanto as lojas venderem markets – “discos virgens” – a um preço muito baixo, não será possível acabar com a pirataria”, refere.

Espectáculos

Contrariamente a outros músicos de Nampula, Nico tem tido a oportunidade de realizar concertos em quase toda a região norte do país. Ele diz que não aceita convites para espectáculos cujo caché seja inferior a sete mil meticais. No ano passado, por exemplo, o artista assinou um contrato com as empresas Moçambique Celular e Vodacom Moçambique para realizar uma digressão pelas províncias de Cabo delgado, Nampula e Niassa.

Como resultado do trabalho feito, em 2012, o cantor acumulou dinheiro suficiente para vir à cidade de Maputo – onde teve um encontro com CA, um produtor local – a fim de gravar cinco das oito músicas do seu futuro álbum. Neste momento, o artista trabalha para publicar – até finais de 2013 – o seu primeiro disco de originais.

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