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Recursos florestais: o sustento de muitas famílias

Recursos florestais: o sustento de muitas famílias

Em alguns distritos da província de Nampula, dezenas de pessoas abatem, indiscriminadamente, árvores para garantir o sustento das suas respectivas famílias. Grande parte das famílias residentes em alguns distritos da província de Nampula dedica-se ao abate desenfreado de árvores para obter o rendimento para a sua sobrevivência.

O @Verdade conversou com alguns dos moradores do povoado de Mulapani, distrito de Nacala-a-Velha e percebeu que a exploração da madeira, sobretudo para o processamento local constitui a base das actividades de geração de rendimentos para o auto-sustento.

Amido Laina, de 50 anos de idade, é natural do distrito de Nacala-a-Velha e tem 6 filhos. Desde 1999 dedica-se à exploração de recursos florestais para assegurar o sustento do seu agregado familiar.

Ele referiu que a actividade de exploração de madeira não é um trabalho fácil de realizar, mas não encontra uma alternativa para fazer face ao custo de vida.

Dos seus seis filhos, quatro frequentam a escola, o que exige ao chefe daquela família esforços redobrados para garantir as despesas inerentes ao processo de ensino e aprendizagem no que diz respeito à compra de material escolar.

Embora seja uma actividade complexa devido à rotina de abate e o respectivo processamento, Laina disse que consegue algum dinheiro.

Amido apontou que a falta de compradores é o principal constrangimento que está a registar, visto que nem toda a sua produção consegue colocar no mercado, facto aliado ao número de pessoas que praticam aquela actividade.

Ele acrescentou que os poucos compradores que se fazem ao seu posto de venda não se mostram dispostos a pagar a madeira pelos preços aplicados. “Quando os clientes aparecem, aplicamos o preço inicial de 150 meticais. Eles reclamam alegando serem elevados e devido a sua insistência reduzimos para 100 meticais”, lamentou o nosso entrevistado, afirmando que a falta de meios para a colocação do produto noutros mercados é também outra preocupação.

Os principais compradores da madeira são os residentes da cidade portuária de Nacala e Ilha de Moçambique. A maioria usa como matéria-prima para o fabrico de diversificado tipo de mobiliários, nomeadamente cadeiras, mesas, estantes, portas, janelas, entre outros. Soubemos também que alguns empreiteiros de diversas obras de construção compram a madeira processada naquela região para a edificação de edifícios.

No que diz respeito ao desenvolvimento que se verifica no povoado de Mulapani, a fonte disse que se deve aos bons rendimentos que os moradores obtêm mercê da actividade de exploração dos recursos florestais.

Em Mulapani é possível ver quase todas as casas cobertas de chapas de zinco e com um aspecto melhorado. Fazem o fomento pecuário para a produção de carne, embora em pequenas proporções. A actividade agrícola é praticada na sua maioria por mulheres e crianças com as idades compreendidas entre 12 a 17 anos.

Os rapazes que entram na fase de adolescência são instruídos para se dedicarem aos trabalhos de exploração de madeira no sentido de quando for adulto poder trabalhar por si só para sustentar a sua família.

A participação das crianças no processo de ensino e aprendizagem é garantida apenas para que saiba escrever e ler, mas elas não têm a esperança de progredir para os níveis subsequentes e depois integrarem-se no mercado de trabalho.

José Gustavo, de 25 anos de idade, é natural de Nacala-a-Velha. Informou à reportagem do @Verdade que começou com a actividade de exploração de recursos florestais para a obtenção de madeira no ano de 2010, altura em que desistiu da escola quando se encontrava a frequentar a sétima classe. Abandonou os estudos porque os seus pais não dispunham de condições para custear as despesas escolares, nomeadamente a compra de material escolar.

Gustavo contou que, como se não bastasse, a sua namorada ficou grávida. E, sem nenhuma alternativa, decidiu iniciar a actividade de processamento de madeira nas oficinas de um tio de modo a sustentar a sua mulher e o seu filho que estava para nascer.

Ele afirmou que no princípio foi difícil começar a trabalhar a madeira, mas com o andar do tempo foi-se acostumando. “No começo, foi necessário muita força e coragem devido à falta de máquinas próprias para a realização desta actividade.

O processamento é feito quase de forma manual porque o instrumento utilizado é de fabrico local”, disse e acrescenta que não pode adquirir máquinas sofisticadas porque o seu funcionamento requer o uso da energia e a região ainda não beneficia da corrente eléctrica da rede nacional da Hidroeléctrica de Cahora Bassa.

Perigo da actividade para o meio ambiente

A população do povoado de Mulapani pouco conhece o programa de reposição dos recursos florestais para evitar o desmatamento vegetal a nível das comunidades. Porque, além da exploração da madeira, os residentes usam as árvores para a extração de combustível lenhoso, principal fonte de energia da população local.

Os nossos entrevistados não revelaram o número de quilómetros que percorrem para chegar até ao local da exploração da madeira, mas afirmaram que a distância tem vindo a aumentar na medida em que o tempo vai passando, o que mostra a devastação da floresta naquela região.

Neste contexto, as gerações vindouras acabarão por não beneficiar dos referidos recursos florestais devido ao elevado nível de desmatamento.

A iniciativa presidencial “Uma comunidade, uma floresta” ainda é uma miragem no que diz respeito à sua implementação no povoado de Mulapani, distrito de Nacala-a-Velha.

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