Na noite da quinta-feira passada, 18 de Outubro, muitos moçambicanos que se dirigiram ao Centro Cultural Universitário, em Maputo, consumiram uma música servida a uma alta temperatura artística. É que a qualidade dos argumentos que os manteve no local do princípio até ao fim do evento, não podia ser avaliada em função do número dos intervenientes, mas sim pela forma delicada com que Lira e Mingas Jamisse se relacionam com a música…
O início do show foi feito pela não menos conhecida Banda Vuka África, a mesma que é dirigida pela célebre intérprete africana Mingas Jamisse. Refira-se que esta artista, cheia de vida e dinâmica, entrou no palco a espalhar saúde e animação espalhando energia perante os os presentes.
Ninguém entre os espectadores, mesmo os que foram ao concerto a fim de aliviar o stress do dia, teve tempo de pensar nos aspectos negativos da vida. Basta que se tenha em mente que, apesar de tê-lo feito tardiamente, o convite informal que se lhes colocou – apreciar um dos maiores espectáculos da natureza, o pôr-do-sol – era irrecusável.
Foi desta maneira que as razões para a celebração das nossas crenças, tradições, rituais, costumes e práticas da infância – entre outros valores que engrandecem o nosso sentido de cultura moçambicana – se consolidavam à medida que Mingas ia expondo as suas composições musicais.
Para a cantora, como todos os presentes testemunharam, fazia muito sentido que todos nós gritássemos, em uníssono, “esta noite é maravilhosa. Afinal, está iluminada”.
As palavras de glória expressas por Mingas, repetidas de forma harmónica pelos presentes, davam indícios de que o concerto tinha todas as condições criadas para satisfazer os anseios de todos. Além da produção de sinergias sociais para o bem-estar social – uma das componentes que se explora na música de Mingas – a sua actuação estimulou alguma cumplicidade entre si e os seus espectadores. Foi lindo!
Uma obreira do amor
Instantes depois da actuação de Mingas, para dar continuidade à festa em que era protagonista, chegou Lira, uma mulher trajada totalmente de vermelho – a mesma cor que simboliza poder, vitalidade, ambição, coragem, atitude, autoconfiança, atracção, paixão, desejo e amor – dizendo-nos que ela precisa de elevar-se, evoluir e, em certo sentido, impor-se na terra como a deusa do amor.
A sua pretensão não foi produto do acaso. É que, conforme se pode escutar na música Rise Again, a sua vida parecia estar desorientada em relação aos seus planos, de tal modo que em resultado do referido cenário, ela – como acontece com muitas pessoas em determinadas ocasiões – estava a perder o norte.
Na busca de precaução para que a referida situação não se agravasse, Lira inventou uma composição que se sintetiza numa só palavra, “Mali”, ou simplesmente “Money”. É que a autora do álbum “Retur to Love” descobriu que os seus problemas estavam relacionados com a falta de dinheiro. Por essa razão, ao interpretar esta composição, Lira fez a demonstração pública de como se fazem as pazes com os bens materiais.
“Querido dinheiro! Por favor, escute-me. Eu não o assustei. Eu e tu precisamos de edificar uma relação sólida. Permita que a minha casa seja sua. Nunca consinta que nenhum de nós fique sem o outro. Onde eu estiver, esteja também. Querido dinheiro, não só fique comigo. Permaneça igualmente com as pessoas da minha comunidade. Por favor, seja bondoso connosco, como uma bênção entre nós.
Fique connosco e multiplique-se entre nós”. Foi desta forma que Lira revelou aos moçambicanos, e não só, que demandaram o seu concerto, a forma como ela adora o deus-dinheiro.
Fez um concerto sem muitas surpresas sob o ponto de vista performativo. Mas nem por isso deixou de ser interessante. No meio de tudo, a artista acabou por criar condições para explicar aos presentes a sua experiência de vida.
“Quando a vida estiver a correr bem, pelo facto de não haver muitos desafios, as pessoas não têm muito a aprender. Não obstante, eu quero viver bem, e ser bem-sucedida. Quero amar e ser amada. Ter a possibilidade de ser feliz. Poder viajar para Moçambique e alimentar-me bem”.
Sublima o valor do sofrimento ao afirmar que “as pessoas jamais saberão até que ponto são fortes se não enfrentarem desafios”. Na sua percepção, as suas palavras são seguras muito em particular quando se recorda de que elas têm poder.
Lira explorou a sua estada no país não somente para fazer concertos nas cidades de Maputo, Matola e Beira como também para divulgar e promover os seus trabalhos discográficos, designadamente “Return to Love”, “Love in Concert – A Celebration”, incluindo o vídeo “The Captured Tour”.
