Caracterizado por um permanente problema de falta de água potável e bairros de difícil acesso, o município de Mocuba cresce à mercê da agricultura de subsistência e do comércio informal, que empregam a maior parte da população. Apesar disso, aquela autarquia, atravessada pela Estrada Nacional número 1, pretende impor-se como a capital económica da província da Zambézia nos próximos anos.
Todos os dias, pela manhã, Joana Pedro e as suas duas filhas têm de percorrer pelo menos dois quilómetros a pé até ao rio Licungo, o único que fornece o precioso líquido a quase toda a população de Mocuba, na província da Zambézia, para obter água para o consumo, e não só.
Joana mora no bairro Samora Machel, onde o acesso à água potável ainda é um problema sério. Esse não é apenas um problema exclusivo daquela família. É também o drama da maioria dos residentes dos vários bairros que constituem o município de Mocuba.
Grande parte da população daquela autarquia não dispõe de poços. A mesma água é utilizada para o consumo humano, lavar roupa e viaturas e alimentar o gado. “O acesso à água ainda é um problema por resolver nesta cidade, este é o nosso grande desafio. É a pedra no sapato do município”, reconhece a edilidade.
A única estação de tratamento existente foi construída na década de 50 para uma pequena população. Porém, presentemente, o número de habitantes triplicou. Em 2008, foi feito um trabalho no rio Lugela, onde actualmente é captada a água, na tentativa de se arranjar uma solução, mas o problema persiste. “Precisamos de mais intervenções.
Tudo indica que neste mês de Outubro serão investidos cerca de três milhões e meio de dólares norte-americanos para ampliar e estender a rede de abastecimento de água no município”, disse o presidente do Conselho Municipal de Mocuba, Rogério Gaspar, acrescentando que o grande objectivo da edilidade era construir uma nova estação de água a partir do rio Licungo.
Já tinham sido feitos alguns estudos, mas, por se tratar de um projecto dispendioso para o município e aliado ao facto de o Governo central não dispor de dinheiro, grande parte da população continuará a consumir água não tratada.
Os problemas de saúde são frequentes devido ao consumo de água imprópria. Em coordenação com a Direcção Distrital de Saúde, as autoridades municipais têm feito palestras periódicas no sentido de sensibilizar a população a tratar a água, além da distribuição de cloro para precaver a problemática da cólera.
Com uma população estimada em 300.628 habitantes, apenas 0.4 porcento dos residentes do distrito de Mocuba tem acesso à água canalizada no domicílio, três fora dele, seis bebem água do poço, sete têm acesso a um fontanário e 22 porcento recorrem ao rio.
Vias de acesso
O município de Mocuba é constituído por 20 bairros. Quase todos se debatem com problemas de diversa ordem, desde o acesso limitado à água, passando pela precariedade das vias públicas até às construções desordenadas nas zonas suburbanas.
Em 2004, no que diz respeito à rede viária em Mocuba, a situação era caótica: quase todas as estradas estavam intransitáveis, havia muitos buracos e desvios. Presentemente, a urbe tem quase todas as principais vias asfaltadas, com a excepção de duas, nomeadamente 1 de Julho e Ahmed Sékou Touré. Com o apoio do Fundo de Estradas, foram reabilitadas as avenidas Joaquim Chissano, Samora Machel e Josina Machel. No âmbito do Programa de Reabilitação de Estradas Nacionais, foram melhoradas as avenidas Eduardo Mondlane e 25 de Setembro.
Diga-se, em abono da verdade, a edilidade tem um programa que prioriza a rede de estradas urbanas e suburbanas. No âmbito desse plano, nas zonas periféricas, as ruas que se encontravam em péssimas condições de transitabilidade beneficiaram de obras de reabilitação e em alguns bairros houve diversas intervenções, nomeadamente a abertura de vias de acesso, o alargamento, ensaibramento e a construção de valas terciárias de drenagem.
Neste momento, um pouco pelo município de Mocuba, assiste-se às obras de pavimentação das ruas transversais com assentamento em betão.
Urbanização
Os 16 anos de guerra civil provocaram um caos em Mocuba no que diz respeito ao ordenamento territorial. As construções desordenadas nos bairros mais populosos da autarquia colocam grandes desafios à edilidade na delimitação dos quintais da população. “Para fazermos esta intervenção, nós precisamos de investir em reassentamentos, o que implica indemnizações, mas não temos dinheiro para isso.
E o que nós fazemos? Quando abrimos as ruas, aquelas que já foram desenhadas ou desenhamos nessa altura, uma espécie de comité local que temos ajuda-nos a sensibilizar as pessoas cujas infra-estruturas ou árvores foram abrangidas, e conseguimos abrir a estrada e fazemos uma requalificação do bairro.
Mas não é uma requalificação completa porque os bairros são densamente povoados. Para minimizar essa questão, o município abriu duas zonas de expansão, nomeadamente Samora Machel e Nangulua”, disse o edil. Apesar disso, ainda há necessidade de se aumentar a distribuição de talhões.
Saneamento do meio
O Conselho Municipal de Mocuba dispõe de uma frota de viaturas que se dedica à recolha de resíduos sólidos na urbe, mas o problema de lixo na via pública está longe de ser ultrapassado, pois é necessário trabalhar-se mais na sensibilização das pessoas para o cumprimento do horário de deposição nos contentores espalhados pela cidade.
“Para colmatar a situação, foi criado um comité de resíduos sólidos que, neste momento, está a trabalhar na consciencialização dos munícipes no que diz respeito ao horário e à forma como se deve depositar o lixo”, afirmou Rogério Gaspar. Em 2008, nos bairros de difícil acesso, a edilidade disponibilizou carros de tracção manual, facilitando o processo de recolha nas zonas periféricas.
Comércio informal: fonte de emprego
O comércio informal tem vindo a ganhar forma em Mocuba e a aposta da edilidade é eliminar os vendedores ambulantes. “Mas não podemos ir por essa política porque as pessoas precisam de sobreviver. Estamos a criar condições para que eles tenham um local onde possam exercer a sua actividade”, afirmou o presidente do Conselho Municipal.
A cada ano que passa a contribuição dos munícipes tem vindo a crescer, principalmente de Janeiro a Abril e princípio do mês de Maio. Porém, o mesmo não acontece com o Imposto Pessoal Autárquico. As principais fontes de receita do município são os vendedores informais.
De referir que o comércio informal e a agricultura de subsistência (que não é praticada na zona autárquica) são as principais actividades de animam a economia local. Os pequenos negócios de cidadãos de origem asiática, somalis e nigerianos empregam cada vez mais pessoas.
O distrito dispõe de um gigante adormecido, a antiga fábrica têxtil. Já se falou num parque industrial e numa unidade fabril de montagem de viaturas de marca TATA, mas até o presente nada foi feito. Antigamente, o desenvolvimento de Mocuba era impulsionado pela fábrica e por plantações de sisal e algodão, o que garantia a sobrevivência da população.
Devido à sua localização geográfica e se o porto seco vier a ser reconstruído, nos próximos anos Mocuba pode ser considerada a capital económica, segundo a edilidade.
Saúde e educação
Apesar de o Conselho Municipal não possuir competências na área de saúde e educação, o município interveio na construção de uma escola com três salas e um bloco administrativo, dois postos de saúde e uma maternidade, além da instalação dum sistema de refrigeração na morgue. No centro do bairro Samora Machel, as autoridades municipais construíram uma casa para o enfermeiro estando em perspectiva a edificação duma enfermaria.
Perfil do distrito
O distrito de Mocuba localiza-se na parte central da província da Zambézia, fazendo limite com os distritos de Lugela e Errego a norte, Maganja da Costa a este, Namacurra e Morrumbala a sul e Milange a oeste. A sua situação geográfica cria possibilidades para se elevar a região a um nível que permite identificá-la como um pólo de desenvolvimento económico e social e dos distritos limítrofes sob sua influência.
Com uma superfície de 8,733 quilómetros quadrados, Mocuba tem uma densidade populacional de 31.8 habitantes por quilómetro quadrado. Tem uma população jovem (46 porcento) e um índice de masculinidade de 50 porcento. A taxa de urbanização do distrito é de 52 porcento, e concentra- -se na cidade e nas zonas periféricas.
A agricultura é a actividade dominante, envolvendo quase todos os 67,042 agregados familiares. O distrito possui enormes potencialidades em recursos naturais, nomeadamente agro-pecuárias, florestais, pesqueiras e mineiras, cujo nível de exploração ainda é baixo, o que coloca numa situação de menor grau de desenvolvimento socioeconómico.
As condições naturais favoráveis, tais como solos férteis e abundância da rede hidrológica, tornam Mocuba um autêntico celeiro e reserva de produtos de consumo da província. A produção agrícola é feita predominantemente em condições de sequeiro e o sistema é a monocultura de arroz, seguida de batata-doce, e nos solos bem drenados predominam as consociações de milho, mapira, mexoeira, mandioca e feijão nhemba e boere.
A actividade pecuária é praticada pelo sector familiar e empresarial, principalmente na criação de gado caprino, bovino, suíno e galináceos. O fomento pecuário tem sido fraco.
O distrito de Mocuba é rico em espécies nativas produtoras de madeiras preciosas, tais como umbila, chanfuta, jambire e pau-preto, e tem um grande potencial silvícola. O desflorestamento e a erosão dos solos são os principais problemas que afectam aquela região.
História e cultura
O nome Mocuba supõe-se que tenha derivado do nome “Macuba” pelo qual era conhecido um senhor que vivia na área de Sassamanja antes da fixação dos colonos. Oriundo de Namacurra, ele era um grande produtor e mantinha os seus campos e pátios sempre limpos, daí ter-lhe sido dado o nome de “Namacuba” que na língua local significa “recolhidor ” (de lixo nesse caso). Um dia passaram pela zona uns colonos e perguntaram como se chamava aquela área e os populares responderam dizendo que o dono era “Macuba”.
Mocuba tem uma actividade comercial relativamente extensa, tendo mercados para os produtos locais não só no próprio distrito, mas também nos distritos vizinhos e Malawi. Para a maior parte dos produtos, as transacções comerciais são conduzidas nos mercados e lojas locais. Cerca de 90 porcento das 55 lojas operacionais estão localizadas na área municipal, onde por sinal residem 60 mil pessoas.
Existem no distrito 30 moagens, sete dos quais inoperacionais. Mocuba conta ainda com quatro oficinas, uma estação de serviço, quatro carpintarias, duas serrações e seis padarias (duas inoperacionais). Funcionam no distrito oito estabelecimentos de hotelaria, incluindo pensões, bares e restaurantes.