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Em certa ocasião, quando criança, os pais de Rúben Lázaro Matekane separaram-se. Em resultado disso, a sua vida começou a complicar-se. Foi nessas peripécias que, na luta pela sobrevivência, inventou o Ndjerendje que é um instrumento musical que presentemente lhe garante o ganha-pão!
Numa data que se perde no roldão da sua memória, num contexto que (supostamente) conduziu à separação dos seus pais, Ruben Lázaro Matekane deixou de viver com o pai (no bairro da Costa do Sol) tendo, com a mãe, passado a residir na cidade de Matola, na província de Maputo. No referido itinerário, em resultado do fraco poder social da mãe, o caminho da escola perdeu- -se para o inventor do Ndjerendje.
“A minha mãe é uma pessoa muito pobre, por isso, quando frequentava a 4ª classe do ensino primário ela já não tinha condições para custear as despesas do meu ensino. Assim, desisti de ir à Escola Primária de Mapulanguane”.
Encontrámo-lo algures no centro da cidade de Maputo. Diz-nos que desde criança, quando ia à escola, tinha o hábito de apanhar latinhas no interior das quais introduzia pedrinhas e, ao fazer algum movimento, percebeu que com poucos arranjos se poderiam produzir sonoridades agradáveis. A partir daí fez o mesmo exercício continuamente, de tal sorte que criou as bases para que a sua relação com música (feita de uma forma muito artesanal e intuitiva) começou a ganhar um novo ímpeto.
O Ndjerendje (como o instrumento se chama) é composto por duas estruturas circulares, uma metálica e outra produzida com material de papel. Também se podem notar objectos como um elástico que se encontra associado a outra forma construída a partir de um arame que garante ao tocador segurar o instrumento, incluindo uma bandeirinha plástica exposta de forma horizontal (semelhante a uma gaita) que, uma vez soprada, produz um novo som.
Na verdade, “não sei se existe outro argumento para fundamentar a atribuição do referido nome ao instrumento que exploro, além do facto de ter sido uma invenção minha. Eu achei que devia ser Ndjerendje”, considera o artista.
Rúben toca o Ndjerendje desde o ano 2000. A partir da Matola, onde a sua actividade musical ambulatória começou, o artista nunca mais parou. Diga-se, ao que tudo indica, as possibilidades de tal se tornar possível são diminutas (na verdade, quase impossível), bastando que se tenha em mente que a sua sobrevivência, ou as condições para a sua subsistência, dependem da referida actividade.
Nos dias que correm, em resultado de Rúben ser o inventor e o único explorador de Ndjerendje conhecido, os seus planos, como jovem que é, só fazem sentido quando associados ao mundo da música.
A imundície nos espaços domésticos que atrai outros animais – mormente os ratos nas residências –, a queda de solidariedade entre os vizinhos (com particular destaque para os do sexo feminino) que dedicam parte do seu tempo a maldizer os próximos; a criminalidade e a inoperância do sistema de justiça nacional; o seu amor, Linda, perdido na vizinha República da África do Sul em virtude do materialismo que (no seu caso) determinou o rumo as suas relações; a pobreza urbana, suburbana e rural de que Ruben tem uma experiência amarga, são alguns assuntos acerca dos quais o artista fala nas suas composições que actualmente totalizam o número de 10.
Em relação ao tópico dos ratos e da situação que se verifica entre a sua família e a vizinhança, a par das suas músicas, Rúben engendra um novo comentário: “Eu penso que os ratos que, actualmente, habitam as nossas casas, são anormais. É como se tivessem consciência do que fazem, sabotam-nos, estragando os bens da casa da minha mãe. É com se tivessem sido enviados por alguém com uma orientação clara. Roem os nossos pés quando dormimos. Não há segurança nenhuma”. Além do mais, “a nossa relação com a vizinhança é uma precariedade. É por essa razão que, de forma ininterrupta, falam mal de nós”.
Um sonho antigo
Neste campo (o dos sonhos e projectos), Rúben Lázaro Matekane insiste que “gostaria de ser músico profissional, poder ter uma residência pessoal, mas não sei se – com a actividade ambulatória que faço – sou capaz de fazer estas conquistar. A verdade é que eu tenho esperança de que algum dia a minha situação poderá mudar”.
Em certa ocasião, “já me encontrei com o músico moçambicano Xidimingwane, no bairro de Maxaquene, que me prometeu trabalhar no sentido de colaboramos numa produção artística, mas desde o referido tempo até os dias actuais nunca mais o encontrei, perdi o seu contacto. Ele prometeu que um dia iria contactar-me para trabalharmos juntos”.
Refira-se que Rúben Lázaro Matekane nasceu em 1984 no distrito de Marracuene, província de Maputo. O seu pai chama-se Lázaro Matekane e a sua mãe é Gilda Maria Matavele.