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“Não praticamos basquetebol em Moçambique por falta de vontade”

“Não praticamos basquetebol em Moçambique por falta de vontade”

Moçambique é, a nível do basquetebol, um país bastante acarinhado pela Federação Internacional de Basquetebol (FIBA) e pela FIBA-África, organismo que gere a modalidade no continente africano. Tal privilégio tem valido ao país não só a participação por “convite” em competições internacionais, como foi o caso do torneio de qualificação para os Jogos Olímpicos de Londres, como também a indicação para acolher competições africanas (o Campeonato Africano de Basquetebol Sub-18, por exemplo). Este prestígio de que gozamos pode não ser o reflexo da nossa realidade. O @Verdade conversou com o presidente da Federação Moçambicana de Basquetebol, Francisco Mabjaia, que falou das dificuldades, dos ganhos e dos desafios do organismo que dirige.

@Verdade – Há diferentes percepções sobre o basquetebol moçambicano. Na sua óptica, qual é o estado desta modalidade no país?

Francisco Mabjaia – O actual cenário do basquetebol moçambicano não nos permite dizer se o mesmo goza ou não de boa saúde. Não é possível ter uma opinião sólida sobre a modalidade.

@V – Porquê?

FM – O basquetebol nacional ainda tem muitos desafios e a vários níveis, sobretudo na componente da qualidade, bem na da competitividade.

@V – Quando fala de qualidade, a que se refere exactamente?

FM – Refiro-me à massificação da modalidade, ao número de clubes praticantes da modalidade, à existência ou ao surgimento de mais atletas.

@V – Se já são conhecidas as (principais) dificuldades, o que falta para ultrapassá-las?

FM – Fundos. Não é porque não podemos fazer isso, nós podemos. A falta de dinheiro é que limita a nossa pretensão de tornar o nosso basquetebol de qualidade e mais competitivo. @V – E a federação, como instituição, está saudável? FM – Está saudável. Posso garantir que a Federação Moçambicana de Basquetebol funciona normalmente e que consegue implementar o seu plano anual de trabalho.

@V – Não está a contradizer-se? Se funcionam com limitações como pode a federação estar saudável?

FM – É necessário entender que uma coisa é cumprir o plano e outra é cumprir na íntegra. Nós cumprimos simplesmente os planos.

@V – Se por um lado o basquetebol não consegue ter a qualidade desejada por falta de dinheiro e, por outro, cumpre os planos, não será isso uma incoerência?

FM – Eu explico. Reparem que a FMB recebe, anualmente, do Governo, um fundo e conta com a ajuda de empresas. Portanto, todo este dinheiro não chega para desenvolver todas as actividades traçadas para um determinado ano. Assim sendo, o que temos de fazer é adequar o nosso plano em função dos fundos existentes.

@V – Para além da qualidade, como é que a exiguidade de fundos se reflecte?

FM – Falarei apenas deste ano. Nos últimos dois anos a Liga Nacional de Basquetebol (LNB) é organizada como um campeonato. Portanto, a LNB era uma espécie de Moçambola, durava mais tempo e as equipas tinham a oportunidade de jogar nos seus pavilhões, nas suas províncias. Mas a partir de este ano voltaremos ao passado, ou seja, a realizar o campeonato numa só semana e num só pavilhão.

Mais, não podemos promover muitas competições nacionais sobretudo as de escalões de formação. Igualmente, não teremos também o campeonato nacional do género feminino similar ao masculino, feito em cada uma das províncias cujas equipas participam na competição, e não poderemos relançar a Taça de Moçambique ainda neste ano.

@V – Quanto é que a federação recebeu do Fundo de Promoção Desportiva este ano?

FM – Cinco milhões e quinhentos mil meticais.

@V – E qual foi o destino desse valor?

FM – Os cofres ainda não estão vazios. Ainda existe esse dinheiro. Direccionámo-lo às diversas actividades planificadas para o presente ano.

@V – Quais?

FM – Formação de árbitros e treinadores a nível das províncias, apoio à participação das selecções nacionais em competições internacionais, organização do último campeonato africano sub-18, realização de campeonatos nacionais e compra de equipamentos.

@V – Quais são os desafios da FMB?

FM – São vários. Mas todos passam necessariamente pela massificação do basquetebol, por levá-lo até onde cuja prática é difícil. Queremos que o basquetebol vá ao encontro dos atletas em todas as províncias. Queremos que todas as associações pratiquem regularmente esta modalidade. Estes são os nossos maiores desafios.

@V – Está em altura de reivindicar ganhos?

FM – Sim. Tínhamos problemas em duas províncias, nomeadamente Gaza e Cabo Delgado. Estes dois pontos do país não me deixavam dormir. Mas, graças ao nosso empenho, conseguimos movimentar a modalidade na primeira e ainda, embora de forma recreativa, estabelecemos o basquetebol na segunda. Conseguimos, ao longo destes dois anos, garantir em algumas associações provinciais a prática regular da modalidade através de competições locais dos diversos escalões, desde os iniciados aos seniores.

@V – Em que pé estamos no capítulo da formação?

FM – Como referi anteriormente, tudo passa necessariamente por formar treinadores. A nossa visão no que tange ao basquetebol nacional circunscreve-se a este aspecto.

@V – Pretende dizer que basta a formação para o desenvolvimento de um basquetebol competitivo?

FM – Este é o ponto do princípio de tudo. Com bons treinadores e, sobretudo, qualificados, nós podemos garantir a transmissão de conhecimentos aos principiantes bem como assegurar um futuro melhor ao nosso basquetebol.

@V – E as competições?

FM – Não nos vamos concentrar na formação de treinadores. Nós promovemos e continuaremos a promover competições provinciais e nacionais dos diversos escalões, nomeadamente iniciados, juniores e juvenis.

@V – Nota-se que não estamos a explorar o talento de que o país dispõe…

FM – Iniciámos recentemente um debate nacional para encontrar uma solução. Este assunto não é alheio à federação, até porque os jornalistas desportivos têm sobre este assunto algo a dizer, principalmente na identificação desses novos talentos.

@V – Quem está envolvido nesse debate e o que é que se busca concretamente?

FM – Debatemos na mesa da Assembleia Geral, ou seja, primeiro internamente. Agora vamos envolver os nossos associados assim como os clubes praticantes da modalidade, os jornalistas desportivos e todos os intervenientes no basquetebol.

O objectivo é encontrar um plano para saber aproveitar estes talentos que brotam ao longo do país e incluí-los num projecto nacional da massificação do basquetebol. Queremos dar destino a cada novo basquetista em Moçambique.

@V – Sabe dizer, por exemplo, em que região existe maior potencial?

FM – A zona centro do país, sobretudo na província de Sofala, é a região com maior potencial para o basquetebol. Reparem que a maior parte dos atletas que alimentam as selecções nacionais, incluindo os escalões inferiores, provêm de lá.

@V – A que se deve isso?

FM – Não sei. Penso que é uma questão que cai muito bem aos profissionais de outras áreas como sociólogos e antropólogos. Eu, como dirigente desportivo, só posso dizer que praticam porque gostam muito da modalidade.

@V – E qual é o projecto concreto para essa região?

FM – O assunto ainda está a ser debatido! Infra-estruturas

@V – A quantas o país anda no que diz respeito a infra-estruturas?

FM – Continuamos com muitos problemas. Mas não podemos usar isso como desculpa para não atingirmos o nível desejado.

@V – Quais problemas?

FM – Refiro-me à falta de infra-estruturas para a prática do basquetebol como nós desejamos. Continuamos, como federação, dependentes dos clubes e isso não é abonatório. Mas é algo que deve ser tratado de forma gradual, pois os clubes também têm dificuldades e necessidades.

@V – E porque é que a federação não luta para ter um pavilhão próprio para servir as selecções nacionais?

FM – Gostaríamos de ter infra-estruturas próprias, mas não é algo fácil. É preciso entender que, por maior que seja a nossa vontade, estamos inseridos num contexto internacional de crise onde os patrocinadores escasseiam e os investimentos diminuem. Apesar disso, continuaremos a bater as portas.

@V – Há uma pergunta que deve ser também a dos nossos leitores. Porque não se pratica basquetebol como se pretende neste país? É também por falta dinheiro?

FM – Não, claro que não. Falta-nos vontade como país no geral. O dinheiro só aparece quando se faz alguma coisa. Ninguém te vai dar dinheiro se não estiveres a fazer nada.

@V – Há poucas competições também. A que se deve?

FM – O que posso dizer é que temos tido atrasos. Mas competições a nível da federação existem. O que se pode problematizar é a qualidade das mesmas. Em alguns casos parecem ser mais recreativas do que propriamente profissionais. É com isso que nós queremos acabar.

@V – E as provas internacionais?

FM – Não temos dificuldades. Quando nos chamam, vamos. Quando nos propõem a organização dos mesmos, aceitamos prontamente . Neste aspecto não temos queixas.

@V – Por falar em eventos internacionais, ao que parece, Moçambique é bastante conhecido a nível da FIBA, daí os convites para participar em ou organizar competições. Qual é o segredo?

FM – O basquetebol moçambicano goza de uma boa reputação a nível internacional e tudo isto é graças a um trabalho que tem sido feito há já vários anos. Tem a ver também com a estrutura desportiva montada no país, e não começa connosco, até porque devo congratular o anterior elenco por este feito.

@V – Falhámos os Jogos Olímpicos. O que esteve por detrás disso?

FM – Falhámos porque na fase de qualificação estiveram as melhores selecções.

@V – Porque é que há poucos patrocinadores no nosso basquetebol?

FM – Isso não é só com o basquetebol. Acontece com o futebol, com o boxe, enfim, com todas as modalidades desportivas. É o que eu disse anteriormente: tem a ver com a conjuntura internacional de crise bem como com a forma como nós nos aproximamos dos patrocinadores. Os nossos projectos são sempre ambiciosos e envolvem muito dinheiro, e para ter patrocinadores é necessário conquistar as empresas e saber “vender” os projectos.

@V – É possível tornar o nosso basquetebol sustentável de forma a vencer estas barreiras financeiras?

FM – Isso é impossível. Mas se identificarmos as oportunidades de apoio, iremos aproveitá-las.

@V – Porque é que o seu elenco é bastante criticado?

FM – É muito fácil criticar quando se está fora. Não entendo os pontos levantados por essas pessoas, mas posso dizer que este elenco encontrou uma FMB com muitos problemas, dos quais prefiro não falar.

@V – Dizem os críticos que este é um elenco imoral. Que comentário tem a fazer acerca disso?

FM – Eu não entendo porque essas pessoas não se candidataram para assumir as rédeas do basquetebol moçambicano. Somos imorais? Isso só a nós cabe e essa é uma avaliação dos críticos.

@V – Vai recandidatar-se a mais um mandato?

FM – Ainda nem fizemos a avaliação da nossa governação, por isso é prematuro pensar numa eventual recandidatura. Estou satisfeito por saber que todas as províncias praticam o basquetebol, o que não acontecia no passado.

@V – Que comentário faz do encontro do Presidente da República com os desportistas nacionais?

FM – Foi uma boa iniciativa e acredito que serão encontradas soluções para o nosso desporto no geral.

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